quinta-feira, 18 de junho de 2015

Il signor Giorgio Morandi, f. 18 de Junho


Fora de moda, impopular, o pintor bolonhês Giorgio Morandi (1890-1964) pintou quase sempre "a mesma coisa". Sofre por isso de um injusto esquecimento.

Começou sob influência de Cézanne, Renoir, os primeiros futuristas, De Chirico, a pintura metafísica. Mas cedo rompeu com as vanguardas, e dedicou-se só a naturezas mortas, vasos de flores (poucos) e paisagens (ainda menos).



Até que estacionou sob um tema único - recipientes : vasos, garrafas, jarros, frascos, taças, copos, conchas, com uma total indiferença pelo que se ia passando à sua volta e no mundo.

Deste 'Botiglie e fruttera' de 1916 diz-se que é um dos mais belos do século.


O menos empenhado, o mais desatento dos pintores, um eremita indiferente ao frenético novecento italiano, Morandi pintava apenas objectos que tinha no seu quarto. Tensão ou erotismo é coisa que não existe nas suas aguarelas e gravuras.



Por outro lado, há uma procura, serena mas obstinada, da verdade intrínseca dos objectos, da essência das coisas - forma, côr e luz - que Morandi projecta numa espécie de metafísica suave.


O 'silêncio das cores' , uma esbatimento que impressionou Antonioni.


É quase um jogo a que se entrega afincadamente; Morandi torna-se mestre dos enquadramentos, do equilíbrio de conjuntos, dos jogos de luz e de cor nos volumes.


Com o tempo, foi simplificando, reduzindo as formas ao mínimo, à geometria de cones, cubos e pirâmides, a silhuetas sem perspectiva, a uma "densa pastosidade da matéria cromática". Um caminho pessoal para a abstracção.


Os objectos do quotidiano parecem respirar uma metafisica suave, evanescente, que condiz com a vida de solidão ascética do pintor.

Ausência de perspectiva, silhuetas - a realidade é só forma e abstracção.


Admirado por Antonioni, o realizador, Morandi teve obras suas no filme A Noite, e também na Dolce Vita de Fellini.


Faleceu a 18 de Junho, há 51 anos.

Sono un pittore di natura morta e voglio comunicare un senso di tranquillità e riservatezza, stati d'animo che valgono di più.
                                                                              Giorgio Morandi

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Fontes:
- Gabriele Simongini, artigo no Il Tempo
- Morandi, col. Génios da Pintura, ed. Fabbri/Abril Cultural, 1967



2 comentários:

Gi disse...

Boa pintura.

Fanático_Um disse...

Obrigado por mais um "post" muito educativo.