Destruídos ou muito alterados, pela guerra ou por incêndios, são pelo menos cinco locais onde tive a sorte de estar antes da catástrofe. Recordá-los traz lamentos, amargura, e uma espécie de carinho - até as pedras merecem saudades.
Sarajevo e Mostar em 1982
Foi a convite da minha namorada, nessa altura leitora de Português em Zagreb, que me desloquei à Jugoslávia; Sarajevo e Mostar foram duas cidades que visitámos num Verão escaldante, levados por uma mística de serem cidades de herança cultural múltipla, onde muçulmanos e cristãos conviviam em paz. Mesquitas e vestes que escondem quase todo o corpo não tinham nesses tempos conotações assustadoras nem inamistosas. Depois vieram os Olímpicos de 1984, mas tudo acabou na selvagem agressão Sérvia.
Das janelas partiam durante a guerra os tiros fatais dos snipers sérvios.
A
Biblioteca Nacional de Sarajevo, arruinada pelo fogo durante 1993, está agora reconstruída em todo o seu esplendor com financiamento da UE, e presta também o serviço de Câmara Municipal.
A famosa fonte otomana
Sebilj, que os austro-húngaros renovaram em 1891, no centro da praça do mercado, que foi também cenário de confrontos e tiroteio, e desfigurada durante anos. Agora a praça está um brinquinho para turistas, fabricado com dinheiro europeu.
Uma das memórias mais vivas foi a subida ao monte onde anos depois iriam decorrer os Olímpicos; enquanto vagueávamos entre o arvoredo da encosta, surgiu um senhor de muita idade, andrajoso, que andava curvado sobre a terra, como quem colhia flores ou plantas aromáticas. Não: eram cogumelos, e lá entendemos num inglês misturado com croata que o senhor era.... um bruxo! Andava aos cogumelos para mezinhas curativas, ou não.
Em Mostar, ainda mais calor.
Havia um café era na casita encostada à ponte, do lado direito.
Lembro-me bem do café turco num Ibrik de cobre martelado e um copo de água junto à ponte, depois mais pela sombra do fim da tarde um cevapcici numa espécie de confeitaria, servida por um bósnio vestido a preceito. Se fosse hoje, eu fugia.
A Stari Most, sobre o rio Neretva, construída no séc XIV e destruída em 1993.
A artilharia sérvia rebentou com o tabuleiro da ponte. Teve de ser demolida antes de reconstruída com as mesmas pedras - mas já não é a mesma; contudo, foi ganhando 'patine' e hoje voltou a ser Stari Most.
World Trade Center, em 1998

Não estava nada entusiasmado com a ideia de subir à torre do WTC. Não foi para isso que viajámos até Nova Iorque, mas o perfil e a altura das gémeas marcavam de tal forma as vistas desde Brooklyn ou State Island ou Southport que acabámos por ser tentados.
O hall de entrada não era nada acolhedor. Tudo muito metálico, árido.
À noite eram dois arranha-céus como os outros, apenas mais altos.

Glasgow School of Art, em 2007
Glasgow agarrou-nos. A arquitectura da cidade esmaga e deslumbra, o seu planeamento num sentido ao mesmo tempo de imponência e de acolhimento, as zonas monumentais Georgianas e Victorianas, contribuem para o agradável que é andar a passear pelo centro: as belas Gordon Street, St. Vincent Street, a John Street com as suas arcadas neo-renascença.
A Escola de Arte é a obra maior de Charles Mackintosh, arquitecto escocês que integrou o movimento Arte Nova com um estilo muito pessoal. Está situada em Renfrew Street, e durante obras de restauro em 2018 ardeu quase completamente, os danos foram tremendos. O que lá existe hoje é um triste estaleiro...



A biblioteca era o espaço interior mais requintado..
Eastbourne Pier, em 2013
Eastbourne fica no Sussex perto de Brighton, um pouco mais a leste. É uma vila de férias de Verão - tem praias formosas sob as falésias brancas, um mar que surpreende, suave e azul, e uma frente marítima corrida de fachadas no estilo Victoriano para ricos em vilegiatura; e... um 'pier', essa famosa invenção inglesa, um pontão de ferro forjado sobre estacas que se prolonga dezenas de metros mar adentro, onde sabe bem passear, sentir a brisa, sentar, e claro, consumir. Uma instituição very british.
.jpg)
Construído entre 1866 e 1872, com trabalho em ferro do melhor que se fazia na altura, e ancoramento elástico para resistir ao mau tempo. Uma obra da 2ª Idade do Ferro, a da Revolução Industrial.
Um ano depois, em 2014, ardeu de forma dramática, as Tea Rooms reduzidas a um esqueleto de ferro enegrecido. Os restauros começaram há pouco.
Podia ainda referir outra obra, a Notre Dame de Paris, que não merece menção aqui por ser caso recente e muito televisionado. Mas na realidade são 6 as obras que morreram depois de as termos visto.