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sábado, 19 de abril de 2025

Livros e Música para uma Primavera imprevisível

A habitual selecção para as próximas semanas, a ver se lava a mente da sujeira que tem absorvido deste mundo.

The Glass Marker, Tracy Chevalier

Já me deu alguns dos melhores livros que já li: The Lady and the Unicorn, Girl  with Pearl Earrings, Burning Bright, A Single Thread. Este passa-se em Veneza e Murano, e também é uma novela histórica ligada às artes - neste caso à arte dos vidreiros de Murano. Duas famílias de fabricantes, os Rosso e os Barovier, competem e colaboram para garantir o mercado mais importante - o alemão, com o grande entreposto junto a Rialto. Toda a narrativa segue a vida de Orsola Rosso desde a adolescência, e sucessivas Orsolas através dos séculos. Um grande fresco, com vívidas descrições como esta, em que Orsola Rosso e o irmão Giacomo, conduzidos pelo remador Bruno, se dirigem para a feitoria alemã.

  "Seguiram pelo Grande Canal, tendo-se Bruno alinhado com uma longa fila de barcos que deslizava em direcção ao pórtico. Embora já tivesse feito este caminho antes, mantinha-se em silêncio, suando enquanto manobrava para não abalroar o barco que o precedia, carregado de tapetes. Outros em volta transportavam seda, madeira, barris de vinho, especiarias; havia mesmo um carregadinho de limões. Enquanto esperavam para desembarcar, Orsola viu passar por eles uma peata que levava caixotes de madeira de Murano, como os que os Rosso utilizavam. Estavam marcados com letras, mas não conseguiu ler.
  -"Moretti", esclareceu Giacomo ao dar conta da atenção intrigada da irmã. "O mercador deles deve ter inspeccionado os artigos de vidro e feito um inventório, e agora segue para São Marcos onde as caixas serão transferidas para navios que seguem primeiro para sul, depois para este ou oeste. A mesma coisa acontece com os nossos vidros."
  Orsola nunca tinha pensado na viagem que os vidros faziam após partirem de Murano, embora uma vez ou outra tentasse imaginar onde iam parar: numa mesa posta em Londres, por exemplo, cada lugar com os seus cálices Rosso. "


La Rochelle
Thomas Brosset e Maggie Cole, ed. Le Croît Vif

Um relato bem documentado da Liga Hanseática : as suas várias cidades e entrepostos, as ligações entre eles, os negócios e as políticas, tudo para ressaltar a magnífica cidade de La Rochelle, entreposto francês importante pela produção de sal e vinho. Poucos sinais restam da Liga, mas toda cidade foi construída sobre essa herança.

Casa ao estilo hanseático, Place Verdun, La Rochelle.

American Faith , poemas de Maya C. Popa
Sarabande Books

Já várias vezes aqui coloquei poemas de Maya C. Popa.

Hummingbird 'Beija Flor') , excerto traduzido

      Batendo com o dedo na minha janela a sudoeste,
      Coloco um bebedouro, convite ao vandalismo.
      E embora o convidado tenha plumagem delicada,
      Nunca deixa uma pena caída, parábola inacabada,
      enquanto do lado de dentro, as perdas se acumulam 
      sem dó, sem lógica nem esquema, e questionamos:
      Que é que prepara um pássaro para tanto fracasso
      quando todo o seu esforço se resume a subsistência,
      não recebe trocos da água doce diária,
      nenhuma novidade no seu canto, nem um novo ninho.


The Crimson Sails
Alexander Grin, trad. Irina Lobatcheva e Vladislav Lobatchev

Já sei: se estou a ler historinhas para jovens adolescentes, está-se a agravar a minha senilidade. Acontece que nunca tinha lido Alexander Grin, não fez parte dos meus contos em criança; li Peter Pan, Alice, Irmãos Grimm, Andersen, Selma Lagerlof, depois C.S. Lewis, mas ninguém me falou de Alexander Grin. É um escritor russo do início do século XX de historinhas de ficção mágica, terras inventadas e narrativas heróico/românticas, digamos como a Narnia mas sem guerras. As Velas Escarlate (ou Velas Carmesim) é o conto mais famoso: muitíssimo bem escrito, com riqueza de detalhes e de peripécias, bem traduzido para inglês pelos irmãos Lobatchev.

CDs

Sonho de uma Noite de Verão, Mendelssohn
narrado por Judi Dench

Não só é uma versão integral , como a narradora é Judi Dench, aquela voz inimitável de um sublime inglês teatral. Conta ainda com Kathleen Battle na 1ª fada, e a direcção de Seiji Ozawa. Para a versão apenas orquestral, há melhores escolhas, mas escutar esta dicção cativante e amável é uma experiência sem igual.

Mozart, sonatas para violino
Alina Ibragimova (vln) e Cédric Tiberghien (pn)


E deixo talvez o melhor para o fim:

Árias de Telemann
Dorothee Mields, com a L'Orfeo Barockorchester

São cantatas seculares, Deo Gratias!, canções de paixão, esperança, desgosto e reconciliação. Uma alegria primaveril onde brilha o bonito e cristalino timbre da soprano Dorothee Mields.

sábado, 15 de março de 2025

'Dedicação', de Robert a Clara Schumann, canta Siân Griffiths , e mais


Widmung , de Robert Schumann
Siân Griffiths, mezzo-soprano e Florent Mourier, piano


          Tu minha alma, tu meu coração
          Tu minha alegria, tu minha dor,
          Tu meu mundo, onde eu vivo,
          Tu meu céu, onde flutuo,
          Ó meu túmulo, onde verti
          Com ternura a minha dor.
          Tu és repouso, tu és paz,
          Foste para mim dádiva do céu,
          Que tu me ames, dá-me virtude
          O teu olhar transfigurou-me
          Elevas-me com amor acima de mim mesmo,
          Meu espírito bom, meu melhor Eu!

Widmung é um famoso lied de Robert Schumann, uma dedicatória apaixonada à sua mulher Clara. Devia ter boas razões, ele, percebo isso quando ouço por exemplo este Ich stand in dunklen Träumen  que Clara compôs para um poema de Heinrich Heine:

Katharina Konradi, soprano, com Eric Schneider, pianoano

Clara Wieck-Schumann desencadeava paixões pela sua sensibilidade de exímia pianista, e depois de Robert não lhe faltaram amigos e admiradores, entre eles Paganini e Brahms. Os seus concertos eram aplaudidos entusiasticamente, e uma récita com o concerto nº 4 de Beethoven chegou a inspirar um poema "Clara Wieck und Beethoven"



A acabar, uma interpretação diferente (masculina) da Widmung:   

Andrew Goodwin, tenor, e Daniel de Borah, piano.

sábado, 4 de janeiro de 2025

2025 em música : a minha escolha em 7 CDs


Já não se compram CDs, ouço e leio por aí; na verdade, o negócio continua bom, a edição vai de vento em popa, vendem-se milhões dos mais populares - apesar de estarem no Spotify - e quanto às gravações clássicas estão muito bem e recomendam-se. Aparelhagens sofisticadas de alta fidelidade com leitor de CD também vão sendo produzidas com regularidade: ainda há pouco a Roksan apresentou um novo par muito elogiado.

Haja música e estamos salvos.

1 Começo pelo disco da quadra natalicia que mais gostei de ouvir, o My Christmas de Diana Damrau, de 2022, CD duplo !

Não faltam discos de 'Carols' com coros de Catedral, mas é raro uma diva soprano gravar uma colecção que vai do Adeste Fideles ao lindíssimo Stil Still Still, passando o pelo First Nowell. Quase tudo em alemão, na voz firme e poderosa de Damrau. Uma colecção impressionante.

 
Still, still, still / Von Himmel hoch, da komm ich her / ...

2 Outra soprano, Regula Muhlemann, gravou o CD Fairy Tales em que canta numa voz de safira bem afiada árias onde existe fantasia nalguma forma - histórias de fadas ou sereias ou magia.

Começa com a Canção à Lua da Rusalka de Dvorak, e é logo um deslumbramento de voz. Impressionante a maleabilidade, o alcance e o domínio; se amadurecer bem, vai ser a soprano da década.

Depois de Dvorak, seguem-se Verdi, Purcell, Mendelssohn, Grieg e a Canção de Solveig:

3 Passando a música mais séria, Mark Padmore com o English Concertt dirigido por Andrew Manze gravaram As Steals the Morn.


'Enjoy the sweet Elysian grove' , ária da Alceste de Handel: :

O ponto alto do disco, a terminar, é uma ária a que já aqui me referi como uma das que mais aprecio em Handel: 'As Steals the Morn', de L'Allegro, Il Pensiero ed il Moderato, cantada com Lucy Crowe.

4. 'Concerti Brillanti ' é um belíssimo CD de Jan Vogler, violoncelista alemão, com a orq. de câmara de Munique dirigida por Reinhard Goebel, o exímio dirigente da Musica Antiqua Koln.

Os concertos são de Bach, Graf, Hasse e Haydn. Como seria de esperar, o de Haydn é o mais apelativo, até por ser uma première mundial ! Grande música, sem dúvida.

5. Descobri que a de Beethoven por Andrew Manze e a NDR Radiophilarmonie é fenomenal ! 

Não têm conta as orquestras alemãs de prestígio e excelência - as de Berlim, a de Leipzig, a de Dresden, as de Munique, Colónia, Bremen, Stuttgart...  Esta NDR é de Hannover, e desde que contratou o maestro Andrew Manze, tem sido um vê se te avias de boas gravações. Primeiro, um ciclo completo de Mendelssohn que é para mim uma referência. Neste disco, a 7ª de Beethoven é mais estrondosamente fantástica e bem dirigida que a também de alto nível 5ª. 

6. E viva Rossini - The Rossini Project (2019)

Pela Orchestra della Svizzera Italiana (OSI), dirigida por Markus Poschner.

Muita gente se equece de Rossini quando se aborda o génio criativo na música; eu sou bem capaz de passar horas a ouvi-lo, e já nem falo de óperas completas: as muitas Aberturas e Sinfonias, as Sonatas, as Cantatas e o Stabat Mater... Quem melhor lhe prestou homenagem foi talvez Roberto Chailly quando gravou um duplo CD com a National Orchestra de Washington, já em...; esteve até há pouco em curso outra homenagem, o Rossini Project, de que foram editados dois CD-livros cartonados; no primeiro, estão Sinfonias e árias para tenor.

7.  Andrea Oliva / Angela Hewitt  : Bach em flauta e piano  (2013)

Termino da melhor maneira:


Uma jóia requintada, estas Sonatas para Flauta de Bach, obras profanas (graças a ... ) de Bach; são diálogos delicados entre dois executantes de excepção,
 construídos no rigor clássico do século XVIII. Logo a primeira, a BWV 1031, deixa-nos num estado de beatitude face a coisas profanas geniais. Cinco estrelas, ou seis.

Aqui fica o Allegro Assai da sonata BWV 1035. 

Feliz 2005 !

domingo, 25 de agosto de 2024

Discos da minha vida: 2 - Telemann , Reinhard Goebel, Musica Antiqua Köln


Esta gravação mítica foi eternizada na minha memória pela transmissão no Em Órbita, já na Antena 2, nos últimos anos do século XX; fazia parte da revelação da 'música antiga' (pré-romântica) rigorosamente interpretada por estudiosos da época que intentavam ser fiéis à escrita do compositor. Reinhard Goebel , fundador da Musica Antiqua Köln, foi um desses dirigentes que mais marcaram o final do século XX.


Concerto para flauta transversal, cordas e baixo continuo 
I. Moderato
 
IV. Vivace - o tema de abertura do Em Órbita
 
Concerto para Flauta de bisel, cordas e contínuo
IV - presto
 

Concerto para trompete,
1- Adagio
Uma festa de música. Acham que há hoje em dia alguma coisa que se lhe compare ?

O concerto de Telemann mais contagiante desta gravação é sem dúvida o concerto para dois Chalumeaux, um instrumento antepassado do clarinete, e que grosso modo corresponde ao registo grave do clarinete.

Concerto para 2 chalumeaux
4 - vivace                -----------------------------------------------------------
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segunda-feira, 3 de junho de 2024

Discos da minha vida: 1 - Mozart por Christopher Hogwood, Emma Kirkby e Anthony Pay


Este disco já rodou centenas de vezes (milhares?), foi a revelação para mim da Academy of Ancient Music de Christopher Hogwood e do modelo interpretativo que revolucionou a direcção musical da música barroca. É uma festa de música do princípio ao fim, a voz de Emma Kirkby no seu mais angélico período de pureza, o clarinete de Anthony Pay out-of-this-world, de leveza enebriante.

Só na Sinfonia 35 'Haffner' ouviria melhor, mais tarde, por Harnoncourt. Mesmo assim a dinâmica e a precisão são de arrepiar,, e tudo isto numa gravação dos anos 80 !

A Festival of Mozart



L'Oiseau-Lyre, 425 643-2, gravações entre 1983 e 1986:

          - motete Exultate Jubilate
          - Concerto para Clarinete [ainda hoje acho esta a melhor gravação de sempre]
          - Sinfonia #35, Haffner

Emma Kirkby:
Anthony Pay:
E a Haffner de Hogwood:


segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Prendas: livros, música e um filme.

O livro que eu gostava mais de oferecer como prenda era o Landstrykere de Kurt Hamsun, mas não está traduzido em português; há em francês (Vagabonds) e inglês (Wayfarers). Foi uma revelação, uma narrativa de permanentes peripécias em torrente que retrata a Noruega pobre do séc XIX/XX. Dois aventureiros irrequietos sempre de terra em terra, de mar em mar, fazendo negócios duvidosos, safando-se como podem. Uma saga de leitura compulsiva.

De Hamsun, também recomendo Victoria, já traduzido.

Outra prenda magnífica é Una Carta en Invierno, tradução do poema de Vasco Graça Moura. A edição portuguesa não está disponível, por isso esta edição bilingue (português primeiro, à esquerda) é o melhor que se pode conseguir. Ediciones Hyperión.

Para quem gosta de relatos árticos e antárticos como eu, The White Darkness, um livrinho bem apresentado e ilustrado sobre a excursão de Henry Worlsey a tentar refazer a travessia que o grande Shackleton, o seu herói, falhara 100 anos antes.

A terminar os livros, uma coisa mais leve para animar e distrair: o relato da aventura fluvial de três amigos na canoa 'bateau', pelo rio Sena de Paris até à foz. Roman Fleuve é "une expérience de lecture immersive" com humor, cheio de palavras caras e de verbos no passé simple !

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Na música, nenhuma novidade retumbante, mas há interpretações novas e recomendáveis.

A mais surpreendente é o disco de árias francesas cantado por Cyrille Dubois , colecção sob o título 'So Romantique', que diz quase tudo. Há pérolas pouco conhecidas , a voz é exquise, a orquestra de Lille nem tanto mas para o caso é menos relevante.


Belíssimo é o disco Mysterium de Anne Akiko-Meyers com versões para violino e coro, intensas e contemplativas, de obras bem conhecidas de Bach como o coral Wachet Auf e (a minha favorita) do Magnum Mysterium de Morten Lauridsen.



Completamente diferentes são as versóes para guitarra clássica do virtuoso Miloš Karadaglić de obras variadas:  Rameau (ah Rameau !) , Couperin, Weiss, Scarlatti, Vivaldi ... o CD chama-se


Para música não erudita, sugiro: 

-  Sinéad O'Connor , Sean-Nós Nua, para recorar e homenagear a cantora.

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O filme em DVD que sugiro é Ammonite, uma produção quase 100% feminina que para variar é muito bonita e sóbria. Na Lyme Regis da Cornualha há uma falésia sobre o mar e uma praia de calhau que é muito rica em fósseis - mais ainda que a nossa do Cabo Mondego. A realizadora Francis Lee filma num misto de realismo e ficção romanceada a vida da paleontóloga Mary Anning, que ali descobriu fósseis raros e valiosos e estabeleceu um pequeno negócio de venda na inóspita e bravia Lyme Regis. Kate Winslet e Saoirse Ronan constroem as personagens, com portentosa intensidade e contenção. Houve 'escândalo' mas o bom gosto e os afectos são o que mais conta.


Está aí a temporada 2024 da Casa da Música. O país a comemorar pelas grande Tradição em boa música é ... Portugal. Vai haver fado, baladas e marchas do 25 de Abril, acordeão, pop/rock do melhor (:D) , Emanuel Nunes, e alguma, pouca, música. Maria João Pires seria a única portuguesa digna de menção, mas já se sabe que os bilhetes esgotam ainda antes de serem postos à venda. Há uma remota hipótese de se conseguir uma assinatura para a série de Piano, nesse caso seria uma prenda razoável, que também inclui Sokolov e a revelação croata Martina Filjak.

Mais vale tentar ainda ouvir o Magnificat de Bach no dia 20, mesmo com a prata da casa.


domingo, 24 de setembro de 2023

Música: Cyrille Dubois no topo de uma pilha de CDs para a rentrée


Nunca tinha ouvido o tenor francês Cyrille Dubois, e foi uma surpresa, tal como as árias que preenchem o programa deste invulgar CD da Alpha. Desta remessa de discos é talvez o melhor, recomendo sem reservas. 'So Romantique ! ' é uma colheita de árias francesas quase perfeitas, desde Auber e Boieldieu a Delibes e Saint-Saëns, daquelas que começam quase anodinamente e terminam num êxtase vocal.

Um hino à música.

Espantosa interpretação de obras de génio é o que Jordi Savall conseguiu com as Sinfonias de Schubert, quem diria, eu até era capaz de duvidar que esta música se enquadrasse no reportório do Concert des Nations.




A gravação, de 2022, na Altavox, é no mínimo indispensável: ouvir a nova vida que Savall imprime ao romantismo do compositor, na precisão, no ritmo, nos metais e na dinâmica, um Schubert de cortar a repiração, é verdade. Mas não será para o gosto de todos, sobretudo pelos desequilíbrios de naipes dentro da orquestra.

Para continuar no romantismo, e vão três, as Quatro Últimas Canções de Strauss cantadas por Rachel Willis-Sørensen, com Andris Nelsons a dirigir a excelsa Gewandhaus de Leipzig. Já tivemos tantas inesquecíveis (Janet Baker, Gundula Janowitz, Renée Fleming ...) , mais uma voz desse mesmo nível, poderosa, fenomenal. 


Vibrato a mais ?

Recuamos agora ao barroco.

Isabelle Faust, Concertos para Violino de Bach


A gravação é de 2019 (HM) mas só agora pude ouvir. É uma interpretação muito vigorosa , intensa, como se escreve na Gramophone:
"... together she and this superb orchestra show exemplary contrapuntal clarity while also outlining the music’s architecture through glinting dynamic changes or compelling long-range crescendos and diminuendos."

Finalmente , Magic Mozart é uma selecção de árias de Mozart que só comprei por Lea Désandre, que interpreta magistralmente três dessas canções de Mozart.


E para não ser cem por cento bota-de elástico, também tenho ouvido com prazer o muito recente álbum Átta dos Sigur Rós. Continuam a fazer música nos mesmos moldes, vogando-em-sons-pelas-galáxias, com orquestrações grandiosas e vozes surreais, sem inovação musicológica mas com muita imaginação para criar ambientes fora deste mundo. Bom gosto, dentro do género. Está no youtube, também.


domingo, 21 de maio de 2023

Música dos 'novos' CDs que estou a ouvir


'Mysterium', com Anna Akiko Meyers

Disco genial, não só pela música como pela interpretação. E sendo Bach quem é, supremo mestre, não há como o motete O Magnum Mysterium de Morten Lauridsen  para lhe fazer companhia, desde o século XX (1994) ! Akiko Meyers no violino.



Mahler, a 9ª , com Osmo Vänska na direcção

Um dos trechos de culto da música clássica, mítico quase, é o Adagio da 9ª sinfonia de Mahler, o sublime Sehr langsam und noch zurückhaltend, 'muito vagorosa e cuidadosamente'. Durante décadas foi consensual que ninguém melhor que Karajan o interpretou, numa gravação daquelas que se tem que levar para ilha deserta; nestes últimos anos algumas muito boas alternativas foram gravadas por David Zinman e sobretudo Simon Rattle, mas a surpresa veio das Américas com a Orquestra de Minnesota e o maestro finlandês Osmo Vänska. Nada mal. 



'Magic Mozart', com Lea Desandre
Sandrine Piau, Stanislas Barbeyrac, Florian Sempey..., Insula Orchestra

Lea Desandre é a nova mezzosoprano-ídolo do momento, com uma voz estratosférica, capaz de voos incríveis. Neste disco está bastante contida, mas é basicamente ela quem mais valoriza esta espécie de "best of" Mozart, que mistura árias mais famosas com outras pouco conhecidas: 'Voi chi sapete'', 'Nun, liebes Weibchen', e a superlativa 'Soave sia il vento' a terminar em êxtase, com Desandre, Piau e Florian Sempey em trio.



Brahms - Concertos para Piano, Sunwook Kim
Hallé Orchestra, Mark Elder

Mais uma boa gravação dos que considero obras primas da humanidade, esta vale pela sonoridade impecável. Uma "alquimia especial", diz The Guardian, uma gravação para ouvir a par com a de Stephen Hough e a de Nelson Freire, para falar só das digitais.


Finalmente, uma redescoberta:

'Solomon' , de Handel
com Carolin Sampson, Susan Gritton, Mark Padmore, Akademie für Alte Musik Berlin

Já conhecia as anteriores gravações dirigidas por McGegan e McCreesh, mas esta é mais completamente conseguida, a todos os níveis. Talvez seja o melhor Oratório de Handel, a par com o Messias.





sábado, 1 de outubro de 2022

Marion Rampal, " Tissé "


Marion Rampal é uma cantora e compositora de jazz e blues nascida em Marselha. Além de produção própria, canta com vários agrupamentos e notabilizou-se na sua colaboração com o saxofonista Archie Shepp. É com o quarteto de Shepp que Marion Rampal vem este ano ao Guimarães-Jazz.


No seu melhor álbum, Tissé, de 2022, Marion canta  (ora em francês ora em inglês) com uma voz quente e escura, quase masculina, sobre orquestrações sóbrias e subtis; as melodias leves recordam um estilo melancólico que talvez tenhamos ouvido algures no passado mas ao mesmo tempo ela não se parece com mais nada, como li no "Le Monde".

Marion Rampal - "Calling to the Forest" (c/ Archie Shepp)

"Reminder", também do álbum 'Tissé'

"Youkali", com o Quarteto Manfred:

É ao vivo que Marion Rampal dá o seu melhor. Um exemplo:

Com o Manu Katché Quartet , Marselha 2010:

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Música para este Verão


Ainda vai a tempo, não vai?

Música bem alegre ! Merci, M. Rameau. Uma abertura genial, e não há coro melhor que este. A bela gravação de William Christie é mais consensual, mas esta de Christophe Rousset  com Les Talents Lyriques é electrizante.


E Carolyn Sampson acompanhada ao alaúde? Maravilha.


Have you seen the white lilly grow


Beethoven, sonatas para violoncelo
com Filipe Quaresma e Antonio Rosado


Dois dos nossos melhores solistas numa gravação que se ouve repetidamente com prazer.

Outras coisas

Finalmente, uma obra que nunca dei atenção, Strings of Light de Anthony Phillips, ex-guitarrista dos Genesis, publicado em 2019. É um álbum a solo, na guitarra de 12 de cordas. com a sonoridade que já se ouvia no grupo. É tão calmo, suave, repetitivo, que se pode dizer chato e pobre; mas sabe bem ouvir em fundo no Verão, é como água a correr ou o folhedo a fazer sussurar o vento. Sempre a mesma coisa, narcótico, mas agradável.

Days gone by, uma das favoritas:


Gosto também de Song for Andy, com variantes inesperadas.



quarta-feira, 18 de maio de 2022

Poor Clares of Arundel, as Clarissas que cantam divinalmente


Não, não me converti ! Apenas recebi mais um CD que veio atrasado e não pude incluir na minha resenha recente (10 de Maio) aqui no blog. 


"Light for the World" é uma colecção de cantos corais pelas monjas Clarissas do Convento de de Stª Clara de Arundel, perto de Brighton, no sul da Inglaterra.


A Ordem de Stª Clara, ou Ordem das Damas Pobres, é uma ordem contemplativa que, seguindo os preceitos de Clara de Assis, praticava uma vida de modéstia baseada na troca directa de produtos com a comunidade e na rejeição da propriedade. Tradicionalmente viviam em clausura monástica, que agora vão relaxando, com internet e tudo o mais.



O Convento das Clarissas em Arundel foi fundado em 1886. Recentemente a comunidade monástica 'modernizou-se': permitiu a realização no Convento de uma série de Televisão para a BBC 2, e gravou com alta qualidade audiófila (DECCA) um CD de música coral.

James Morgan, que compôs cerca de metade das canções, dirige a Orquestra de Câmara Nacional da Dinamarca. A mezzo Juliette Pochin dirige o côro.

Veni creator spiritus

All who labour


Creator Alme Siderum


Há maneiras de viver bastante piores. Estas Clarissas só fazem bem, e até nos dão boa música coral , bem hajam.



terça-feira, 10 de maio de 2022

Mais música para esta Primavera.

Chegaram estas semanas alguns CDs que fui encomendando, com receio de que se perdessem (os que vinham de UK). Um dos melhores veio do coro do Keble College, de Oxford, um colégio admirável, imponente, a Nordeste junto ao Museu de História Natural.


Ainda hei-de lhe dedicar um post.

A Capela

CDs

Resurrexi, Páscoa em Viena
CRD, 2022

Música de Mozart e Haydn, pelo coro do Keble College e o grupo Instruments of Time and Truth. Excertos da rara Spaur-messe de Mozart alternando com excertos de Haydn, executados como eu gosto, na escola de recriação do barroco mas com grande perfeição técnica e detalhe.

- uma obra que não tinha ainda em disco:

Messe des Morts de Jean Gilles
(para o serviço fúnebre do funeral de Rameau)

Collegium Vocale de Ghent,
Capriccio Stravagante, dir. Skip Sempé (2014)

Grande Jean Gilles ! Uma abertura espectacular (Introit/Kyrie), que os músicos e o côro desempenham na perfeição: impacto, pausas, fraseado, quase estonteante. Notável também o Agnus Dei, Uma obra complexa que rivaliza com a música sacra de Handel, podem crer. 

Concertos para Violoncelo
Carl Phillip Emanuel Bach

O sempre estimável J. Queyras com o Ensemble Resonanz num disco muito 'doce' de 2018 - os andantes, sobretudo, são companhia suave e aveludada para momentos de sossego. O H439 para violoncelo, cordas e baixo contínuo é uma obra prima. 

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Schubert, Impromptus D935 e o quase-concerto D487

Um disco surprendente de 2007 com obras de Schubert pelo pianista alemão Sebastian Knauer, que consegue a proeza, por exemplo, de ser mais poético, impressivo e firme nos D935 que Maria João Pires. Talvez seja a melhor interpretação de sempre! Genial, este Knauer, atenção a ele. Diz o Gramophone: "uma maravilha de eloquência robusta e mestria infalível, livre de caprichos e de maneirismos". Mas surpresa a sério é o Adagio e Rondo Concertante D487, a obra em que Schubert mais se aproximou do Concerto para Piano - talvez seja um esboço - que Knauer arranjou para cordas. Soa com obra nova!

Brahms / Lupu

Finalmente consegui a gravação histórica dos Intermezzi de Brahms por Radu Lupu, que só tinha em vinil riscado. O sublime 118 nº2 nunca me emocionou tanto.
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Fica aqui música do Diligam te, Domine de Jean Gilles, Inclinavit coelos
Canta Veronique Gens.

'Inclinavit caelos, et descendit, et caligo sub pedibus eius.'
          Inclinou os céus, e desceu; e as trevas trazia sob os seus pés.

Assim descem os mísseis russos.