sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O parque Gulbenkian em Benerville-sur-Mer - um jardim na Normandia


Existe em França, na costa da Normandia, um jardim que se deve a Calouste Gulbenkian; foi um dos seus outros grandes investimentos - ter um parque verde onde se sentissse bem. Se a nós ofereceu uma colecção de arte, na Fundação também rodeada de jardim, aos franceses deu 33 hectares terreno arborizado e ajardinado - L'Enclos Calouste Gulbenkian de Deauville, a sul da foz do Sena.

Mais exactamente, sobre uma colina de Benerville-sur-Mer...


... e com vista sobre as águas do Canal.

Vista do alto do Parque.

O terreno foi adquirido por Gulbenkian em 1937. Com a chegada da guerra, os trabalhos de jardinagem foram interrompidos; ele foi para Vichy desempenhar o cargo de embaixador da Pérsia junto do governo pró-alemão, até 1942, ano em que deixou a França e se instalou em Lisboa a convite da ditadura. Voltou a Deauville para a conclusão do Parque em 1946.


O roseiral (Roseraie) é um dos atractivos. Está num terraço a meia encosta.




O outro atractivo é o bosque (Bosquet), onde uma grande variedade de árvores cria um espaço mais íntimo.


São abetos, tílias e sequóias, e espécies menos frequentes como a nogueira negra americana ou o freixo branco, o olmo do Cáucaso ou o cedro do Líbano.


A entrada por uma avenida, decorada com teixos podados, desagua numa clareira em forma de ferradura de onde uma escadaria desce sobre o terraço do roseiral.





Não somos portanto os únicos bafejados pela sorte de herdar benfeitorias do sr. Calouste. À França desejo também expressar a minha simpatia pela defesa dos valores mais nobres, como foi agora o caso com o crime cometido contra o professor Samuel Paty e com os crimes na catedral de Nice. 





domingo, 25 de outubro de 2020

Na trattoria Fantoni em Bolonha, e no Cavour de Ravenna.


Mais um episódio de gastronomia em viagem.

Bolonha e a vizinha Ravenna são inesquecíveis, o tempo que passei lá em 2011 foi de permanente deslumbramento, um banho de cultura europeia como poucos sítios podem oferecer, iluminada por aquele sol intenso e musicada pela alegria de viver italiana.

Numa das praças de Bolonha, a Malpighi, visitámos a Basílica de San Francesco, e ao lado os Mausoléus ou Arcas medievais dos 'Dottori' da Universidade de Bolonha.

Mausoléu bolonhês de pirâmide, de 1268, construído para um jurista. O túmulo está no andar de cima.

Estão na Piazza Malpighi, no seguimento da via Nosadella.

Depois fomos procurar sítio para almoço, pelas ruas laterais. Foi na Via Pratello que encontrámos a Trattoria Fantoni.

A Via Pratello é uma daquelas ruas muito italianas, estreita, com arcadas e as fachadas de amarelo torrado.

A Antica Trattoria Fantoni é o que por cá chamamos 'um tasquinho' : um antigo tasco que se converteu em casinha regional de comida caseira. Ainda lá estão os pipos.



A nossa sala tinha estantes de muitos livros nas paredes - boa companhia.



Pedi 'Linguine con boconcini di coda di rospo e pesce spada al pesto di basilico' ("Coda di rospo" é tamboril). O bom tempero à italiana fez milagres: era uma delícia, mas não tenho imagens. Sei que o almoço se prolongou tempo de mais - estava-se bem.

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Num dos dias seguintes fomos a Ravenna; também lá tive um intervalo restaurativo excelente antes de ir ver os mosaicos bizantinos: na Via Argentario, o Bar Cavour, vendo ao fundo San Vitale e a Galla Placidia.


Menu del Giorno: Tortellini panna e prosciutto 7 €

Estava calor, foi perfeito. Depois foi só seguir a rua até à entrada do Museu Nacional.





Nada, mas nada no mundo se compara a Itália.


terça-feira, 20 de outubro de 2020

Gravilliers, aldeia Merovíngia descoberta em Pontarlier


Simulação da aldeia Merovíngia

No perímetro de uma feia zona industrial em Pontarlier, no leste de França, cinco anos de excavações foram descobrindo um sítio arqueológico com vestígios de uma aldeia Merovíngia - os primeiros francos -, única em França mas aparentada a outras descobertas na Suíça e Bélgica. As excavações iniciadas em 2015 e continuadas até agora (dia 16/10)  serão objecto de estudo nos próximos anos, mas desde já vale a pena dar uma vista de olhos.


Em Pontarlier, junto à estrada N57, por trás dos Bombeiros, na rue des Tourbières, há um terreno húmido, por onde se irá alargar o parque industrial; é conhecido como "Les Gravillières", talvez pela deposição de gravilhas do próximo rio Doubs, de pequeno caudal. Foi aí a descoberta.


O sítio arqueológico, que ocupa 8 hectares, revelou a existência de mais de uma dezena de construções rectangulares com 200 a 300 m2, suportadas por fortes postes de madeira com cerca de 1m de diâmetro. A aldeia data do período Merovingio, entre o século VI e VII - a Baixa Idade Média também conhecida por Idade das Trevas, após a queda de Roma (410) e o reinado germânico de Odoacro.

Muitos buracos cilíndricos sinalizam a implantação de postes de madeira que certamente suportavam edifícios.

Parece um edifício hexagonal, mas a traça dos arqueólogos não aponta para aí.

A arquitectura em madeira deve ter origem germânica, este tipo de aldeia não se encontra em mais nenhum lugar em França.

Ficção do que seria a aldeia.

Afastada das habitações , uma rara e notável igreja de madeira de plano basilical com 20 X 14 m. Não há equivalente em toda a região  francesa e suíça.
 

Algo assim:

A oucupação foi curta, como curta foi a duração da dinastia merovíngia: cerca de 200 anos. É um período de que se conhece pouco, que não deixou grande herança, no centro franco-suíço da Europa mas com estranhas semelhanças com as aldeias e os artefactos Viking.

Fíbula com corrente

Moeda de Magnence* (352)


Pontarlier no reino Merovíngio

Mais:
https://researchnews.cc/news/3037/An-ephemeral-village-attests-to-the-strategies-of-the-Frankish-conquests#.X4spVxKSmsg

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* General usurpador do trono romano no período conturbado de Constantius II, pouco antes do saque de Roma pelos visigodos de Alarico.

sábado, 17 de outubro de 2020

28, vinte e oito, mágico, perfeito e feliz !


Aqui há uns anos houve uma regularidade de 23 visitas a cada publicação no Livro de Areia; agora tenho atingido várias vezes os 28 visitantes, parco progresso para tanto tempo que passou. Às vezes, com certos títulos chamativos, passo dos 30 ou mais; mas a frequência do mágico 28 dá nas vistas. 

Ora acontece que 28 é :

- Um número perfeito : igual à soma dos seus divisores estritos.
   28 divide por 1,2,4,7,14, e somando:  1+2+4+7+14=28.

- Um número harmónico (ou número de Ore*), pois tem média harmónica inteira.
   sequência: 1, 6, 28, 140, 270, ...

- Um número triangular:

   e já agora também é um número hexagonal !

- Um número mágico na Física, pois ter 28 protões e/ou neutrões confere estabilidade nuclear máxima (Níquel 28).

- A dimensão da mais longa sequência de números amigos sociáveis, coisa complicada de esclarecer aqui; a sequência de 'amigos sociáveis' de 14316 é de ordem 28.

- E um número feliz ! Noção matemática também que me dispenso de explicar.

..--- ---..   (28 em Morse)

Portanto estou satisfeito com estes visitantes mágicos, perfeitos, harmónicos, sociáveis e felizes!
A feliz Sinfonia nº 28 de Haydn:


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(*) Øystein Ore , matemático norueguês

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Descendo Grey Street em Newcastle encontrei o Marco Polo


Mais uma memória gastronómica ... e livreira. Newcastle-upon-Tyne tem um centro urbano elegante, de arquitectura georgiana e victoriana muito, muito british.

O centro de Newcastle, um largo onde se cruzam Blackett Street, Grainge Street e Grey Street, rodeando a coluna do Monumento a Grey.

Quando lá estive em 1995, antes de ser capital europeia da cultura, vi uma cidade imponente, embora com alguns sinais de abandono. Grandes edifícios de amarelo claro com mansardas, clarabóias, torreões e agulhas. Agora que beneficiou de muita obra nova, ganhou uma vitalidade que não conheço; há 25 anos, era a famosa Waterstone's, o edifício mais central e um dos mais grandiosos, de arquitectura arte nova, que marcava a cidade como Cultural; o Theatre Royal ali mesmo em frente. 

O monumento a Earl Grey (1838), no topo de Grey Street.

A Waterstones ocupa parte de um edifício de 1903 Art Nouveau. Uma grande, grande livraria - passava-se bem um dia inteiro lá dentro.


Naquela altura ainda se podia trazer uma mala carregada de livros, não havia limite de peso e depois a coluna sofria... mas quando em casa se abria a mala , que beleza !

Já com a tarde adiantada a fome apertou, e com a luz do poente a incidir nas fachadas georgianas, saímos à procura de uma mesa para nos reconfortar . Descemos Grey Street, a rua mais bonita, que curva em descida, em direcção ao rio, alinhada com frentes da época.

Theatre Royal , à esquerda, e a curva da rua Grey.

Pouco mais abaixo, já em Dean Street (depois da curva), encontrámos o Marco Polo; a possibilidade de boa comida italiana motivou a entrada.



E foi Coq-au-vin com puré e legumes.


Apurado, gostoso; mas nada que se compare ao prazer de estar horas na Waterstone's.