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sábado, 4 de novembro de 2023

Melrose, no rio Tweed: II - o espólio Romano no Museu Trimontium



Trimontium ( 'Três Montes') foi o maior forte Romano em terras escocesas. Por mais de um século, entre 77 DC e 184 DC, legionários romanos ocuparam um terreno plano na margem do rio Tweed a sul dos Eidon Hills, perto de Melrose. Não foi um acampamento temporário: era uma vasta fortaleza com anfiteatro para entreter a guarnição, que prestava apoio logístico à Muralha Antonina; ultrapassaria os 1000 homens, e chegou instalar um destacamento da XXª Legião. 

Foi durante décadas a mais setentrional povoação Romana do Império, início de uma estrada Norte-Sul até Coria (Corbridge). o principal assentamento Romano no Norte.


Museu Trimontium


Instalado em Melrose no edifício de uma Fundação, exibe e documenta a história Romana na Escócia, a sul da Muralha de Adriano, e reúne a maior parte do espólio do Forte Romano. 



Capacete e máscara de cavaleiro.

'Spatha' encontrada no terreno do Forte.

Capacete de latão com relevo da deusa Victoria, séc. I

Máscara e elmo de cavaleiro Romano, 80-100 DC. O conjunto de duas peças é único. O tubo destinava-se a plumas ornamentais. 

Outra máscara, uma das melhores peças do Museu.

Lanterna de azeite portátil.

Jarro de vinho em bronze, trazido de Itália - fins do século I.

Cabeça feminina e friso de flores de lótus

Cerâmica Romana

Taça em Terra Sigillata, cerâmica de luxo , do séc. I A.C.- I D.C.

Intaglio (gema cinzelada)


Intaglio é uma técnica oposta ao baixo relevo: a forma desenhada sobre a gema nos anéis romanos é incisada. As formas são deuses, figuras públicas, animais e elementos míticos. A pedra é depois encaixada numa moldura de ouro, prata ou ferro e utilizada como selo de documentos. As pedras mais usadas são quartzo e a cornalina, mas também ametista, lápis lazuli, jaspe, âmbar.

'Intaglio' com Ménade (Bacante). Está a tocar um 'aulos' (gaita dupla) e a dançar fazendo o vestido voltear.

A deusa Victoria, com um ramo de palma, coroa um troféu (cornalina, 140-180 DC)

Cáliga (sandália de couro).

Mais:


Em 208 D.C. , Septimius Severus lançou uma campanha militar na Caledónia, a partir do campo em Trimontium. Não começou mal, até que as tribos locais usaram uma táctica de guerrilha demolidora. Depois de Severus, o filho Caracalla mandou retirar as tropas, e Trimontium foi abandonado, mas desse final inglório não há relatos.


Não resisto a concluir sem comentar: noutros tempos o "ocupante" "imperialista" Romano conseguia impor-se e assimilar-se, ao longo de séculos, e segurar a paz até outros mais fortes se levantarem. E celebramos essa herança em Museus onde a maioria do que se exibe é parafrenália militar do exército invasor, provavelmente autor de selvajarias, tanto como difusor de novidades (banhos, justiça, estradas, pontes) e de arte. 

Curiosamente, os invasores de hoje são tão ou mais brutos que os invadidos, e não lhes levam nada de novo nem belo.


sexta-feira, 14 de julho de 2023

Ilya Gringolts em Espinho: um surpreendente Bruch para cordas e tímpanos


Como é hábito, fui ao Festival de Música FIME na esperança de assistir em Espinho ao que não tem havido no Porto: bons concertos. Ainda nem pus os pés na Casa da Música este ano.
 
O programa também não era 5 estrelas, mas Ilya Gringolts e a Camerata Bern são intérpretes de excepção, do melhor que se pode ouvir na Europa, e resolvi arriscar; além de obras do século XX, o programa incluía o concerto para violino de Bruch, que eu esperava ser algo fora do vulgar pelas mãos de Gringolts; a Camerata Bern já eu conheço pelas suas gravações.

A interpretação por uma orquestra de cordas foi executada com o arranjo de Bernard Rofe, australiano, que adicionou às cordas os tímpani de Pascal Viglino nos momentos de impacto dinâmico mais forte: bombástico ! Resultou numa interpretação única e inesquecível, que conseguiu ultrapassar a falta de dinâmica e riqueza tonal devido à ausência de sopros com um empenho intenso dos músicos e sobretudo a audição perfeita do violino, parte que é muitas vezes abafada por uma grande orquestra. Ovação quádrupla no fim.

Max Bruch, Violinkonzert Nr.1 op. 26 (arr. Bernard Rofe)
Camerata Bern
Ilya Gringolts, Violino e direcção

Outra obra de que gostei muito foi o Concertino para violino e orquestra de cordas Op. 42, de Mieczysław Weinberg, compositor polaco com uma obra imensa e muito criativa no início do século XX. 




Com a Australian Orchestra (pior que a Camerata Bern), fica aqui um curto excerto do 3º andamento do Bruch:


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Bom, outra coisa de que gosto em Espinho é de Espinho. Uma cidadezinha muito bem tratada, passeios e ruas - muitas delas arborizadas -  cuidados e bem planeados, comércio diverso como já não há no Porto - muitas lojas de utilidades e ferragens, pomares, atoalhados, lojas de marca na rua daquelas que só se encontram em centros comerciais, chocolatarias e confeitarias, restaurantes que não são tascos fast food para turista. Três ou quatro livrarias, incluindo uma grande Bertrand. E até peixeiras a vender em bancas de rua. Uma padaria famosa abre uma porta lateral a partir das 22h por onde vende o pão quentinho a sair do forno até às 23h - tem sempre fila !



Não sendo uma cidade bonita, conseguem-se encontrar muitas casas forradas de azulejo e com frontões esculpidos; isso e os arruamentos muito limpos e bem tratados, agradáveis de percorrer, justificam a minha simpatia pela cidade.


Não falta nada. 


domingo, 19 de dezembro de 2021

O Museu Arqueológico de Braga, enriquecido com a colecção Bühler-Brockhaus

- prenda de Natal do Livro de Areia

Nesta 'rentrée' da pandemia, uma das exposições mais ricas a que temos direito sem grande viagem: pertinho, barata e cómoda. Estou 'em pulgas' para lá ir, ao Museu D. Diogo em Braga.

Começo pela colecção permanente. A peça mais bela e sofisticada é talvez esta taça romana encontrada no sítio arqueológico de Bracara Augusta:


É quase uma miniatura, com talvez 9 cm de diâmetro.



Jarros (ou "galhetas") em vidro soprado incolor esverdeado, datados dos séculos II a III depois de Cristo, integravam o espólio funerário de uma sepultura da Necrópole.

Diatreta (gaiola de vidro) do século IV, restaurada a partir dos pedaços de vidro encontrados em Bracara Augusta. Servia para suspender uma candeia de óleo ou lucerna romana. 

É um objecto bastante raro.

E logo à entrada:
Malceino, guerreiro Galaico de S Julião

Os povos que compunham os Galaicos eram de origem celta, viviam nos “castros”, as aldeias de pedra pré-romanas. Malceino é identificado no escudo com uma inscrição em latim.



Há muito mais, mas o que agora aconteceu de notável foi a doação da colecção de peças da Antiguidade Clássica do casal Bühler-Brockhaus.


Estátua romana de Cibele sentada.


Busto em mármore de Augusto, primeiro Imperador Romano e fundador de Bracara Augusta.


Mosaico do séc. III-IV: mito de Pélope e Hipodamia (Pelos, Ippodamia). Pélope empunha a palma da vitória na corrida de quadrigas que lhe garantiu o casamento e o governo da província que tomaria o nome de Peloponeso. Um Erote (=cupido) conduz o carro vitorioso.

Detalhe

Capacete Apulo-Coríntio romano em bronze.



Cista etrusca, penso eu. 

E vasos gregos:

Vaso ático (lekithos) datado entre 525 e 475 AC; dois guerreiros com capacetes coríntios seguram lança e escudo em posição de ataque.


Termino com o cálice etrusco que será único no mundo e é ao que dizem a peça mais valiosa. Que é invulgar, é.


São peças como estas que moldaram a nossa maneira de ver e fazer. Outras culturas terão outros modelos, eu sinto-me bem com a herança mediterrânica e o processo que formou o meu gosto estético. Pertenço a isto. Não a uma etnia, cidade, país nem sequer uma União de países - pertenço a um património cultural.

Um bom Natal, caros visitantes !