domingo, 28 de novembro de 2021

Um Museu diferente nas Orkney: o Pier Arts Centre de Stromness


O 'Centro Artístico do Cais de Stromness' parece-me um dos museus mais surpreendentes da Europa. Descobri-o nas minhas navegações pela rede quando me interessei pelas Ilhas Orkney.

Frente marítima de Stromness.


O Pier Arts Centre está instalado em duas casas de pedra do século XVIII, de empena voltada para o porto, interligados por um edifício moderno com a mesma forma exterior mas usando superfícies vidradas e paredes de zinco.


Stromness foi um porto fulcral da Hudson's Bay Company; no Verão, a partida dos navios da Companhia para o Canadá era um acontecimento social. Numa destas casas, a da família Clouston, davam-se antes do embarque grandes festas no salão, recheado de livros e com um pianoforte. Na outra casa havia escritórios e armazéns da HBC.


Stromness é a segunda maior povoação das Orkney, uma vila, pouco mais que aldeia, situada a a 58º 57' N . Tem apenas 2 200 habitantes (como Castro Marim ou Porto de Mós) e está 'de costas' para a capital Kirkwall, de que dista apenas 22 km. 


O "Pier Arts Centre" foi criado em 1979 para alojar uma colecção de arte britânica doada pela autora, a filantropa Margaret Gardiner, ao povo das Orkney. 


Antigos escritórios da Hudson's Bay Co., com uma escultura de Barbara Hepworth no pátio.

42 anos passados, a Galeria continua a ser estimada e frequentada em múltiplas exposições e palestras, tendo conquistado um âmbito muito para além do arquipélago das Orkney na promoção de arte britânica; de facto ganhou estatuto internacional com artistas como Barbara Hepworth, Ben Nicholson e Sylvia Wishart. A geração vanguardista de St. Ives está largamente representada.

Barbara Hepworth, Curved Form (Trevalgan)


Ao hall de entrada segue-se uma galeria envidraçada que deixa entrar a luz do mar.


Janelões abertos ao horizonte marítimo.

A luminosa galeria está na berma do porto, permitindo avistar a passagem de barcos e gaivotas de vários ângulos.


Um dos pintores mais representados é Ben Nicholson

Ben Nicholson, 1939.

Ben Nicholson, Still Life

Ben Nicholson, Three Circles.


Eva Rothschild, Little Cloud.

David Ward, Analemma

Espaços cuidadosamente arquitectados.

Barbara Hepworth, Group III (evocation).

Barbara Hepworth, Orpheus (maquette I), de 1956.


Callum Innes  - Exposed Painting, Deep Violet, Charcoal Black (2005)

John Spencer Wells, Landscape and Flight Form.

Mais: Collection — Pier Arts Centre






Stromness deve valer bem uma visita prolongada, juntamente com Kirkwall. E depois, aproveita-se para comprar belas malhas lambswool de Fair Isle :)

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A Ilha de Somerset, na Passagem do Noroeste, abrigo de caça e pesca a 73º N


Somerset Island é uma vasta mas desabitada ilha no Arquipélago Ártico do Canadá, descoberta por. William E. Parry em 1819. 

Há evidências de presença humana desde ~1000 DC na costa da Ilha; a chamada Cultura Thule (proto-Inuit) deixou sinais como construções em osso de baleia, túneis e ruínas em pedra, por exemplo em Cape Anne, perto da foz do rio Cunningham.

No século XIX, no auge do negócio de peles da Companhia Hudson's Bay, foi estabelecido no sul da ilha um entreposto de três casas em madeira que servia de armazém temporário e base de apoio. Havia muitas raposas e arminhos na ilha. Outro posto mais reduzido foi instalado a noroeste.

Quase 25 000 km2 de natureza intocada.

A Ilha de Somerset viria a ser um marco na procura de uma Passagem do Noroeste pelos navegadores britânicos, uma epopeia do século XIX; a passagem revelou-se possível a Norte pelo Estreito de Barrow, ou a Sul pelo Estreito de Bellot, frequentemente gelado.

Em 1848, durante a campanha de procura da desafortunada expedição de Franklin, James Clark Ross fundeou com dois navios em Port Leopold, na costa nordeste.

Ilha de Somerset
Coordenadas : 73° 15′ N, 93° 30′ W
                       (800 km a norte do Círculo Polar)
O território é desabitado, mas com ocupação temporária no acampamento Arctic Watch e na cabina de Fort Ross.

A Ilha de Somerset fica sob um manto de gelo na estação fria, mas na primavera a fusão ds gelos descobre profundas ravinas (canyons) sulcadas por cursos de água. Dois rios com bacia hidrográfica relevanre atravessam a ilha - o rio Cunningham e o rio Elwin.

O Rio Elwin corre para nascente e desagua numa baía com o mesmo nome.

Port Leopold

É uma baía abrigada a nordeste da ilha onde Ross aportou na sua prolongada demanda; Port Leopold viria mais tarde a receber um posto da Hudson's Bay.

O posto da Hudson Bay Co., de 1920, utilizado durante 10 anos.

Port Leopold também era procurado como abrigo dos barcos baleeiros.

Haverá poucas casas no mundo tão solitárias e remotas.

Fort Ross
72° 00′ N, 94°14′ W

Estabelecido em 1937 sob gerência do escocês Lorenz Learmonth, o posto funcionou durante 11 anos, fechando quando se tornou insustentável. Fica junto ao mar do Estreito de Bellot, no sudeste da ilha. Foi o último dos postos que a Companhia Hudson's Bay abriu; a chaleira para o café ainda está sobre o fogão.


É de salientar o dístico, que não é pintado nem metálico: cada letra foi cuidadosamente recortada em madeira.


Esta cabana foi remodelada e reforçada para abrigo dos caçadores de caribu inuit, e também como refúgio em emergência dos tripulantes de barcos que dêem à costa. 


A outra cabine visível era a residência do gerente do posto.


Várias famílias Inuit residiam em volta do posto; quando este fechou em 1948 foram deslocadas 250 km para sul em Taloyoak, e a ilha ficou desde então desabitada.

O Estreito de Bellot, uma passagem com apenas 32 km que separa a Ilha de Somerset do continente norte-americano.

O Rio Cunningham

O mais belo e espantoso cenário da ilha é o Gull Canyon no rio Cunningham, e as sua três cascatas.
Meandros do rio Cunningham.

O espectacular Gull Canyon.


Um dos passeios organizados pelo 'Arctic Watch' segue o curso do rio ao longo do Canyon.


As Três Cascatas (Triple Waterfalls)




Arctic Watch Lodge, acampamento turístico


Trata-se de uma unidade hoteleira para turismo de aventura, com ligação aérea desde Yellowknife e Cambridge Bay.


Composto de várias tendas resistentes e bem isoladas, assentes numa plataforma espessa, o acampamento oferece refeições quentes requintadas, um luxo. 


Está desde 1992 instalado no largo estuário do rio Cunningham, que é também uma entrada de mar onde as belugas se reunem para repouso, convívio, mudança de pele, amamentação de crias e alimentação nas águas ricas em nutrientes.

O 'Arctic Watch' dispõe de kayaks, rafting, passeios de barco e quatro rodas, bicicletas eléctricas...

Partida para a Maratona da Passagem do Noroeste.



Fauna e flora.

Num território tão desértico, não seriam de esperar muitos animais terrestres. Abundam os mais pequenos.
Arminho: as cores perfeitas para camuflagem.


Lebre branca. E onde há lebres, há..

Raposas brancas.

Os ursos brancos também frequentam a ilha, pela abundância de mamíferos marinhos na costa. Mas a grande atracção são as centenas de baleias beluga.

Flora ártica em Somerset Island: na Primavera, a ilha enche-se de côr.

Saxifrage Roxa, a mais famosa e ubíqua planta do Ártico.

Parrya Arctica

Pedicularis lanata

Silene Acaulis

Draba corymbosa

Dryas Integrifolia (Dríade)


Cunningham Inlet ao sol da meia-noite.


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Nota: declino qualquer interesse no 'Arctic Watch Lodge', só o referi por ser o único local habitado na ilha.