Mais um ano de programação indigente na CdM. Cada vez mais é a prata da casa, agora até na direcção de orquestra. Dir-se-ia um qualquer teatro de província (Viseu, Aveiro) com os seus concertos amadores entre o pobre e o paupérrimo. Em 2024 tivemos o ano do acordeão sob o tema do 25 de Abril; em 2025 teremos as forças vivas locais sob o disfarce do mote 'Caminhos Cruzados'. Eu sei que o Porto não é uma capital, está a milhas do centro musical da Europa, mas Valença ou Toulouse ou Bolonha têm uma temporada clássica muito superior; até festivais anuais como o de Espinho (FIME) é coisa que por aqui não há.
Até o Programa impresso é triste e feio.
Procurando, escavando fundo, lá surge Fabio Biondi, desaproveitado em meio-programa partilhado com o horroroso Remix Ensemble; Benjamin Grosvenor desaproveitado num programa em que os estafados Quadros de uma Exposição são a peça forte; Sokolov, pela enésima vez, mas ainda bem; e como maestro o melhor que conseguem é Andreas Spering, antigo membro da Musica Antiqua Köln de Reinhard Goebel.
Dos clássicos, toneladas de Bruckner (credo) e Tchaikovsky (livra). Tema principal: os Triplos - Triplo e Três Cravos de Bach, Três Pianos de Mozart, Triplo de Beethoven.
Bom, vamos aos destaques (!!?) ; infelizmente, até as obras programadas com a Orquestra Barroca são quase todas menores...
21 de Outubro - Três cravos, oboés de Pedro Castro e Andreia Carvalho - Bach, Concerto para três cravos, BWV 1063 Bach,Concerto Brandeburguês n.º 3 BWV 1048, n.º 4 BWV 1049 Telemann, Concerto TWV 53:d1 Bach, Concerto para três cravos, BWV 1064
11 de Novembro - 1ª Parte, com Fabio Biondi violino e direção
Haydn Concerto para violino, Hob.VIIa:4
21 de Novembro
Beethoven, Concerto triplo para violino, violoncelo e piano
22 de Dezembro - Concerto de Natal
Telemann,Magnificat TVWV 9:17
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E o piano? Lá vem Grigory Sokolov, a17 de Março; e Benjamin Grosvenor, a 28 de Maio.
Termino com um extracto do Concerto TWV 53:d1 de Telemann, parte do programa de 21 de Outubro:
Grande concerto sem dúvida,
Grygory Sokolov ontem na CDM . Terminou - nem acredito na minha sorte ! - com a BWV 639 (Ich ruf zu Dir), composta para órgão, numa sentida e bela interpretação.
Foi mais ou menos assim:
Um belo concerto, começando com 4 Duetos de Bach, avançando até Schumann - a obra prima Waldszenen (Cenas da Floresta), op 82 - e voltando às origens ao terminar. Uma das mais conseguidas presenças do pianista nesta sala e um dos poucos concertos imperdíveis deste ano.
À falta de uma gravação de Sokolov, deixo Maria João Pires com as Waldszenen:
Já agora, também me agradou imenso saber que Sokolov adoptou a cidadania espanhola ! Não deixo de admirar esta atitude radical, sobretudo quando comparada à indefinição ambígua de outros ou, ainda pior, à acomodada pactuação com o regime russo. Grigory Sokolov ofereceu ainda toda a receita do seu recital na Vienna Konzerthaus a 13 de Março para apoio humanitário aos ucranianos.
E termino com a versão original para órgão da BWV 639.
Este pequeno prelúdio tem uma aura especial associada a outra obra de arte mais moderna: foi usada por Andrei Tarkovsky na banda sonora do seu opus magnumSolaris. Ver aqui.
A programaçãp da Casa da Música estabelece cada novo ano mais um record de mediocridade e rotina decadente. Em 2024 vamos ter tudo menos grandes concertos ou grandes intérpretes, e nem sequer teremos grandes programas de concerto, com o domínio absurdo da música portuguesa, como se fosse o Pavilhão Rosa Mota ou o Coliseu. E nem falta Emmanuel Nunes, a evitar cuidadosamente.
Consegui escolher 7 concertos, de que aqui aqui dou conta para quem quiser aproveitar enquanto ainda há lugares vagos.
13 de Janeiro, Orquestra Barroca, L. Cummings
Alterna um compositor português com belas obras de Mozart: o concerto para flauta KV313 e a Sinfonia nº 29, uma das melhores.
17 de Fevereiro, OSP / Benjamin Reiners
Música de cinema dirigida por um bom maestro. John Williams, Ennio Morricone, Henry Mancini. Começa e acaba com Star Wars.
27 de Março, Orq. Barroca / Cummings e Pedro Castro
Couperin, Vivaldi, Albinoni (2 oboés) e Handel.
15 de Maio, Orq. Barroca / Andreas Steier
Purcell e Bach, peças variadas em que o cravo é a estrela. Espero que seja um instrumento melhor que o habitual da CdM.
20 de Maio, Sokolov ao piano.
Como de costume, ainda não se conhece o programa, mas inclui uma partita de Bach, só por isso...
e até Setembro !
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29 de Setembro, Orq. Barroca, Cummings
Danças barrocas, com Lully, Rebel, Marais...
12 de Novembro , Orq. Barroca, Andreas Steier
Scarlatti, Boccherini, na 1ª parte; mas qualquer coisa para vir embora na 2ª parte.
13 de Dezembro, OSP / Stefan Blunier
A Nona de Bruckner, que não sendo uma favorita tem um Adagio: Langsam, feierlich a pairar nas alturas por 25 ou mais minutos.
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Não termino sem música; do King Arthur de Purcell, um pequeno mas encantador instrumental que está incluído no programa de 15 de Maio.
Voltei finalmente à Casa da Música. Nesta jigajoga de regras pandémicas, fiquei surpreendido por já haver lugares marcados - marcaram-nos automaticamente sem nos consultar, depois da assinatura comprada - e para mais lugares adjacentes, sem cadeira vazia a separar ! Tudo ao molhe, com máscara mas ombro a ombro. Tínhamos o certificado, mas não conseguiram ler o QCode com a qualidade de impressão ´normal´ que usei. Enfim.
Casa cheia, portanto. Outra surpresa: em vez de um côro decente, como o da própria Casa, tivemos um "quarteto vocal", ah ah, um quarteto portuense para bravos da família. E o tenor, à falta de encontrar melhor , foi Fernando Guimarães, que eu nunca ouvira. O palco estava iluminado em cor de rosa, o que achei 'piroso´, ainda pior sob o tema "Amor".
Todas as minhas expectativas estavam centradas em Rowan Pierce (soprano) que de qualquer forma tem as melhores arias da noite: as da Cantata do Casamento BWV 202 de Bach, e as da Ode a Santa Cecília de Handel, uma obra prima de todos os tempos de toda a música. Quanto aos outros músicos, sei que Laurence Cummings é capaz de uma direcção decente.
Na Cantata, em que as árias são para soprano, gostei muito da Orquestra e da direcção de Cummings. Diga-se que há dois valores fenomenais que salvam sempre um concerto da Barroca da CdM: o oboísta Pedro Castro e o violoncelista Filipe Quaresma. Mas também o fagote esteve muito bem. Já Rowan Pierce se esforçou pouco: cantou sem expressão, não deve estar muito à vontade na língua alemã; embora seja uma voz bonita e doce, parecia tíbia e não se fazia ouvir sobre a orquestra.
Para a Ode entrou o dito côro, o tenor e alguns mais músicos - em particular uma organista para a ária do órgão, um percussionista e um trompetista.
O início foi excelente, são três andamentos orquestrais e foram muito bem tocados. O primeiro desastre seria o côro, ou melhor, o quarteto vocal; não sei individualizar os defeitos, sei que ao cantarem "Harmony" não havia harmonia nenhuma, havia um desacerto tímbrico irritante, uma sonoridade pífia e desagradável; se calhar também faltaram ensaios.
Mas chegou a aria da Voz, da Human Voice, What passion cannot music raise. E foi um deleite musical: cantada desta vez com mestria e força expressiva por Rowan Pierce, acompanhada de uma orquestra decente (quase boa), foi um prazer do princípio ao fim; mas maravilhosas foram as passagens em que cantou com voz de veludo sobre o violoncelo de Quaresma: merecia um bravo de toda a plateia.
A primeira aria que coube ao tenor foi novo desastre; é um tema bélico para as trombetas, que a orquestra tocava com vivacidade mesmo sendo deficitária em metais, mas foi arruinada pela voz incerta, trémula, sem chama, de Guimarães. Uma pena.
Rowan Pierce voltou a deslumbrar na aria do órgão, But oh! what art can teach, cantada com entusiasmo, enlevo e umas firmes e fortes notas altas, sobretudo com longos fraseios barrocos que soube prolongar sem respirar, admiravelmente.
O final é um coral triunfante que foi mais ou menos um desconchavo; os dois solistas acabaram por se juntar ao quarteto vocal e ao próprio Cummings numa espécie de coro a 7 improvisado sem jeito nenhum, só para fazer mais volume de som.
Depois, houve um encore estranho - 'Lascia ch'io pianga' cantado em coro pelo septeto ! Tivessem deixado Rowan Pierce só com a sua voz, e podia ter sido bonito.
Eu esperava uma Ode de bom nível, bem ensaiado e bem interpretada, saiu-me esta coisa estranha. Mas valeu, bem haja, Rowan Pierce !
E haja música. Deixo uma aria de Handel, para começar em beleza este ano novo. Canta, claro, Rowan Pierce.
A Casa da Música consegue ultrapassar o que parecia inultrapassável, apresenta para 2022 um programa paroquial de terceira ordem que sem dúvida é o pior desde a sua fundação. Pandemia e falta de financiamento explicam apenas a falta de solistas e maestros convidados de alto nível, o resto são as escolhas dos programadores que deixam muito a desejar.
Salvam-se concertos da Orquestra Barroca, dirigida por Laurence Cummings, e mais alguns, nem sequer uma mão cheia, nem sequer nada de extraordinário.
Sendo assim, a minha selecção:
15 de Janeiro Ode a Santa Cecília de Handel, com Rowan Pierce e a O.B.
28 de Maio Andreas Staier, Haydn: conc. para piano nº11
18 de Setembro Vivaldi, Telemann, J.C. Bach, O.B.
2 de Outubro Beatrice Rana, pn a anunciar
16 de Outubro Vésperas, de Rachmaninoff
12 de Novembro Missa K427 de Mozart, OSP e Côro
20, 21 de Dezembro Haydn: Missa de Stª Cecília
Para arriscar (de)mais, há outra vez um Requiem de Verdi e uma Eroica de Beethoven.
Deixo aqui ficar a linda voz da soprano Rowan Pierce com a A.A.M. Handel - 'Let The Bright Seraphim'
Para Arvo Volmer é um regresso: já em 2018 tinha estado na CdM com a 5ª de Sibelius, como dei conta num post aqui. Disse na altura que tinha sido o melhor concerto do ano na Casa; desta vez vai pelo mesmo caminho, até agora não houve nada a este nível. Volmer é especialista em Sibelius e Tuni, um compositor estoniano que está a procurar promover.
Também Viviane Hagner voltou à Casa, agora com o empolgante concerto para violino de Sibelius. A violinista ficou conhecida pelas gravações de conceros de Vieuxtemps, que são virtuosísticos quanto baste.
Tanto quanto apurei, dedica mais tempo ao ensino que a concertos, mas na CdM exibiu à fartura as qualidades técnicas - não se poupou em passagens difíceis e foi sempre intensamente emotiva em pianíssimos ou em mudanças de ritmo ou de tensão. O 2º andamento foi um momento comovente de expressivo lirismo, muitíssimo bonito.
Nunca tinha ouvido este concerto tão bem interpretado, só por isso valeu a pena. Perante a aclamação da assistência, Viviane tocou como encore uma obra de ... Tárrega! Transcrita de guitarra para violino, claro. Bem difícil.
Depois veio a 5ª de Sibelius, uma obra genial, uma de duas ou três entre as 8 que Sibelius escreveu. Nunca me canso de a ouvir, de tal modo a orquestração é rica e variada, usando todos os naipes e secções, alternando ritmos - é também bastante visual se atentarmos à espacialidade orquestral no seu todo. Volmer deve tê-la dirigido em palco já centenas de vezes, fez com que a Orquestra da CdM se elevasse ao seu melhor, muito bem coordenada e quase deslumbrante; apenas me pareceu que poderia ter sido um pouco mais incisivo, dinâmico, aqui e ali, havendo momentos em que a música soava como estando em piloto automático (sem prejuízo da execução técnica).
18 de Junho Arvo Volmer direcção Viviane Hagner violin Sibelius - Concerto para violino e orquestra
- Sinfonia n.º 5
Não terminar sem música ! Sarah Chang no Adagio do Concerto.
Olha, cá estou de volta à Casa da Música. Mascarado, distanciado, desconfiado, sem intervalo, sem cafetaria, sinais de uma decadência sem nome, não identificável - não é decadência física do espaço, é outra coisa.
É triste, não há entusiasmo nem expectativa, há só sentirmo-nos conformados com "pronto, é isto que vamos ter nos próximos tempos"- pelo menos até Janeiro.
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Houve Bach, duas Cantatas e um concerto, dirigiu Laurence Cummmings, interpretou a Barroca da Casa. Mais dois ou três convidados que apesar de tudo suscitavam alguma curiosidade:
Anna Dennis, soprano Iestyn Davies. contratenor Nicholas Mulroy, tenor
A Barroca da Casa nunca foi nada por aí além, não é nada de que se fale no mundo, na Europa ou sequer na Península. É assim uma barroquinha à maneira do Porto, sem brilho nem brio excepto quando dirigido por alguém que sabe, como Andreas Staier. Grande parte da culpa portanto é de Laurence Cummings, o sabido director académico de segunda linha, sem uma visão própria, que não deixará nenhuma marca no movimento de renovação interpretativa. Tivemos um Bach descafeínado, zero calorias, indiferente. Nem sequer foi 'certinho'.
As vozes que podiam ter salvo a noite também estiveram num registo modesto; deu para perceber que a soprano Anna Dennis tem um timbre bonito e firme e é capaz de mais e melhor, gostei muito de a ouvir, mesmo assim. Os outros, coerentemente com a orquestra, não deixaram lembrança. Cumpriram.
É triste sentir o vazio ali, o vazio na sala, as cadeiras vazias, o vazio que se fez na mente das pessoas, a falta de empenho. Quem não podia ser mais amável e dedicado era o jovem pessoal auxiliar, quuer no espaço exterior quer na sala, de uma simpatia e atenção fora de série. Parabéns a eles.
Quanto à boa música na Casa,
Ach ja! so komme bald zurück: Tilg einst mein trauriges Gebärden, Sonst wird mir jeder Augenblick Verhaßt und Jahren ähnlich werden.
Ah sim! volta então depressa
Apaga este meu ar desconsolado
Senão cada momento será para mim
Odioso e por longos anos prolongado.
Fiquemos ainda com a bonita aria de Maria Madalena, 'Saget, saget mir geschwinde '. Canta Janet Baker com Neville Marriner e a A.S.M.F.; a gravação tem 45 anos mas sempre é outra coisa.
Sem saber ainda quantos concertos terão de ser cancelados :(( foi finalmente divulgada a programação da Casa para 2021. Pensei até que não haveria programação fixa, mas afinal há assinaturas e tudo.
Dentro do anedótico, o país da dedicação anual é desta vez a Itália, sem que se perceba bem porquê; só se foi pretexto para inserir uns tantos concertos com Berio e Nono, de resto o ciclo de Sinfonias em 2021 está dedicado a Sibelius, nos antípodas mais nórdicos da Europa, e Mozart domina a programação. Sempre há algum Corelli e algum Paganini, mas coisa pouca.
Foi portanto rápido e fácil fazer a selecção do que valerá a pena, na minha humilde opinião, claro. A orquestra é sempre a da Casa, o côro também.
[CANCELADOS] Mozart com Fabio Biondi (direcção e violino), 17/01 - Sinfonias nº 10, 11 e 13, e outras obras. Promete.
Mozart, agora com direcção de Christian Zacharias, 29/01 - Sinfonia Linz, nº 36
Beethoven, música de bailado Prometeu, 12/03 - em versão de concerto
Bach e Vivaldi com Andreas Scholl, 31/03 - Cantatas de Bach, concerto para violoncelo e Stabat Mater de Vivaldi, certamente um dos mais promissores concertos; Filipe Quaresma no violoncelo.
Sibelius, dir. Stefan Blunier, 10/4 - Sinfonia nº3
Canções Nórdicas, dir. côro Sofi Jannin, 9/5 - Outro programa nos antípodas de Itália, mas que pode ser uma boa surpresa. A capella, tradicionais, Sibelius, Rautavaara...
Mozart de novo, com Christian Zacharias, 21/05 - Concerto para piano nº 12, um dos mais belos, imperdível.
Sibelius, dir. Arvo Volmer, com Viviane Hagner (vl), 18/06 - Concerto para violino e Sinfonia nº5 , outro dos pontos altos da programação.
Grieg e Sibelius, dir. Joseh Swensen, 24/09 - Noite nórdica: Peer Gynt, En Saga, Sinfonia nº 6
Concerto Barroco com Pieter Wispelwey (vc), 05/11 - Vivaldi, Corelli, Geminiani, finalmente um aroma de Itália, e ainda Handel e Haydn; Wispelwey é um excelente violoncelista. Uma festa em Novembro, já com todos vacinados e sem máscara...
Ha ainda uns rotineiros Requiem de Mozart, Exultate Jubilate, Oratória de Natal de Bach, uma 'Gala de Ópera' com probabilidades de desastre, sem nada que recomende peças já ouvidas em melhores dias.
Não vou repetir queixas e lamúrias de 2019 sobre a programação infeliz deste "Ano de França". Deixo só aqui o pouco que seleccionei para minha agenda CdM 2020, que só começa em... Abril!
4 de Abril
Grande Missa K427, de Mozart, dir. Leopold Hager
Katharina Konradi, soprano
8 de Maio
A 9ª Sinfonia de Mahler, dir. Eliahu Inbal
20 de Maio
Grigory Sokolov, a anunciar
22 de Maio
Beethoven, Conc. piano #3 + Brahms, Sinf. #2
dir. e piano de Christian Zacharias
3 de Julho
Haydn, sinf. #74 + conc. p/ violoncelo
Elia Cohen Weissert, dir. Christian Zacharias
11 de Setembro
Triplo concerto de Beethoven Trio Van Beerle, dir. Michael Sanderling
10 de Outubro
Bach e Telemann, obras orquestrais, violino e oboé Pedro Castro, dir. Rachel Podger
23 de Outubro
Conc. p/ violino de Mendelssohn
Diana Tishchenko vl. , dir. Eliahu Inbal
31 de Outubro
Sinf. #7 de Beethoven, dir Stefan Blunier
6 de Novembro
Sinf. #1 Titã, de Mahler, dir. Stefan Blunier
14 de Novembro
Missa da Coroação k317, Mozart
Christina Landshamer, dir. Joseph Swensen
Espremidinho, dá uma dúzia de concertos, mas nenhum entusiasmo nem grandes expectativas, a não ser talvez esta última K317 com a Landshamer. Surpresas, só o diálogo improvável de Pedro Castro com Rachel Podger em Bach e Telemann. E é engraçado: no ano da França (ah ah), aproveitam-se concertos de Mozart, Mahler, Beethoven... onde está um Rameau que valha a pena ?
Fica como aperitivo a voz celestial da Landshamer a cantar o Incarnatus est da Missa K427 de Mozart:
Até me custava a acreditar quando vi esta obra na programação da Casa da Música: é uma oratória muito longa, de execução rara, e muito, muito clássica ! Mendelssohn escreveu-a no modelo de Bach ou Handel, recheou-a de corais portentosos e árias divinais como esta:
Helen Donath, Jerusalem
ou esta cavatina para tenor, canta Barry Banks:
O texto é bíblico, portanto para mim chato e irritante; conta a vida e a morte de S. Paulo. O que vale mesmo é a luxuriosa musicalidade de Mendelssohn, que apesar de excessivas demoras permanece na memória tanto pelos corais como pela boa orquestração. A Paulus obteve grande sucesso em vida, mas depois foi esquecida e é raramente executada em palco, talvez pela necessidade de muita gente - orquestra e coro de grande dimensão (*) - e pela concorrência das oratórias mais populares, o Messias ou as Paixões de Bach. Este ano, nada houve na programação da Casa da Música com tal ambição e risco, e a minha expectativa era grande.
Olari Elts nunca me decepcionou; é um grande maestro, mostra que tem a obra bem estudada e a orquestra bem ensaiada e disciplinada; soou magnífica, mesmo com órgão e metais em fortíssimo. Já o Coro da CDM pecou por demasiado reduzido (nas gravações que conheço deve ser mais do dobro) e mesmo assim, com muitos desacertos e desequilíbrios. Fraquinho, foi uma pena. No quarteto de solistas, destaque absoluto para o formidável barítono Johannes Weisser, uma voz tão poderosa quanto bem colocada e de bonito timbre. Deu alguns dos melhors momentos do concerto.
Alguns coros:
O welch eine Tiefe
Aqui é Helmut Rilling a dirigir a dirigir a Orquestra Checa:
Wie lieblich sind die Boten, die den Frieden verkündigen. In alle Lande ist ausgegangen ihr Schall und in alle Welt ihre Worte. Que amáveis são os mensageiros que a Paz estão a anunciar. Em toda a Terra irrompe a toada e em todo o Mundo as palavras.
Apetece-me ainda comparar com Kurt Masur e a Gewandhaus Leipzig numa versão à maneira antiga, que pelo menos junta dois coros ( e tem a voz fabulosa de Gundula Janowitz):
Não terá sido insuperável, mas foi uma bela prenda de Outono chuvoso.
------------------------- (`) Na estreia em Dusseldorf, a orquestra tinha 172 músicos e o coro 356 vozes, de acordo com a pauta de Mendelssohn ! Em 1836, um concerto em Liverpool levou o coro aos 1200. Neste concerto da CdM eram... 36.
A pianista Khatia Buniatishvilli deve ter a maior corte de admiradores e fan clubFacebook de sempre na música clássica. Nem a Callas, nem a Joyce, nem a Netrebko. A verdade é que ela cultivou o estrelato, a sua imagem tanto quanto os seus talentos, tirando proveito da bela figura e de roupagens vistosas tanto quanto do virtuososmo pianístico.
Resultado: é chamada para quase todas as salas, festivais e comemorações. Ainda há pouco esteve ao vivo em Paris frente à Notre Dame num concerto de homenagem. Acham Ronaldo popular e um chamariz de povinho? Nem imaginam como é Khatia na natal Geórgia ! Dedicam-lhe um culto de diva, um culto frenético de multidão (sobretudo jovens), quase como eram os Beatles na era da beatlemania.
Claro que Khatia é uma grande pianista, e eu aguardava com expectativa a oportunidade de a ouvir ao vivo. Vamos à música que ela produziu na Casa, com sala esgotada.
O programa compunha-se de quatro sonatas de Beethoven:
A Khatia não lhe falta técnica, agilidade, força expressiva. O que lhe falta, e nota-se muito, é saber deixar respirar a música, deixar respirar a escrita do compositor. É geralmente excessiva nos contraste dinâmicos - pianíssimos quase inaudíveis, fortes tão bruscos e violentos que as notas se atropelam e deixa de se ouvir o dedilhado ou o contraponto. Os tempos também são algo frenéticos, ora como se houvesse pressa e urgência - não há sobretudo pausas onde são necessárias para dar fôlego, ênfase, pathos - ora exagerando no sentido contrário nos movimentos lentos, com um vagar lânguido que faz perder toda a expressão mesmo que as teclas apenas afloradas possam criar algum ambiente de contricção interior. No conjunto, o que sobressai é alguma rudez e impolidez, no mínimo. A nº14 "Ao Luar" foi um desconsolo.
Mas pode parecer que foi um concerto falhado. Não, houve bons momentos; gostei muito por exemplo da nº 23 "Appassionata" - belíssimo andante - em que a georgiana construiu uma filigrana delicada e intensa. Haverá ainda alguma imaturidade, mas Khatia está na casa dos 30, pode vir a ser bem melhor pianista, assim a aspereza actual seja amaciada com sensibilidade.
Por enquanto, assim-assim.
Deixo uma grande (outonal!) interpretação do genial Andante da nº 23: Evgeny Kissin
Terminou a temporada Primavera/Verão da Casa da Música com um concerto de David Fray, pianista francês que trouxe Bach (o seu eleito) e Mozart. Digo 'terminou' porque o resto que lá vem é para mim ruído ('the rest is noise') par não dizer pior - obras menores, desagradáveis ou dispensáveis.
O BWV 1055 que Fray toca no piano é o seu cartão de visita, e saiu uma perfeição deslumbrante.
A maneira de tocar Bach de Fray lembra-me Glenn Gould, pela fluência e sensibilidade, como se fossem os dedos a cantar espontaneamente sobre as teclas, é um rio de música que corre em meandros mas sem o mínimo dramatismo. Sabe bem ouvir esta música na Primavera.
Já Mozart saiu menos bem sobretudo da parte da orquestra; Fray não é um experimentado nem prestigiado director, e Mozart já precisa de outra habilidade na criação de tensões e dinâmicas na orquestra. Ainda assim foi mais que mediano, e as ovações foram premiadas com um encore de Bach.
A acompanhar Fray não esteve a Orquestra Barroca, mas uma secção reduzida da orquestra da CdM, possivelmente uma formação pouco frequentemente utilizada que me pareceu apenas mediana; mas pode ter sido pela falta de um bom maestro.
Acabou assim um ciclo realmente excelente na Casa da Música, depois do Stabat Mater de Pergolesi com Rowan Pierce, do clarinete de Mozart por Widman, de Sokolov e da 5ª de Mahler de Elihabu Inbal. Já não espero nada deste nível do resto da temporada depois do Verão.
Este foi decididamente um bom início de Abril na Casa da Música. Depois da excelente 9ª de Schubert por Douglas Boyd, agora foi a vez do Stabat Mater de Pergolesi sublimemente interpretado por Rowan Pierce, soprano, Iestyn Davies, contratenor, e a orquestra barroca dirigida por Laurence Cummnings ao seu melhor nível. Pode ter havido um ou outro dsacerto, em particular do contratenor, e pode ser uma pena um efectivo orquestral tão reduzido ao mínimo; nem por isso deixa de ter sido uma belíssima noite de canto sacro.
Rowan Pierce tem um timbre bonito e uma voz bem sólida, e executou com brio todas as árias, transmitindo a trágica solenidade do texto. Parece-me que tem uma bela carreira pela frente. Iestyn Davies, de York, deu prova de invulgar expressividade para um contratenor; os duetos com Rowan sairam muito bons.
Tive a sorte de, no final, obter da parte dos dois uma simpática assinatura no meu programa; não é coisa que costume procurar, mas estavam ambos, depois do concerto, perto de mim no Bar dos Artistas e não resisti. Obrigado pela simpatia, Rowan e Iestyn.
Fomos brindados, no encore, com um dueto da Esther de Handel. Como não encontro nenhum vídeo de Rowan nestas obras, deixo aqui ficar outra ária de Handel em que a soprano dialoga com a trompete.
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Agora na Casa da Música só Widman, dia 3 de Maio, no clarinete de Mozart. Infelizmente, no resto de Abril reina Ligeti. Vou passear à beira-mar.
Já tinha previsto que isto podia acontecer; mas foi uma confirmação retumbante. Ter um maestro de primeira água faz a diferença, e a Orquestra da Casa da Música tocou Schubert como nunca - e deu uma fenomenal 9ª (Grande) ao auditório quase cheio.
Grande direcção, e preparação, do escocês Douglas Boyd. Deu toda a atenção ao detalhe, à estrutura fina, ao diálogo dentro da orquestra, preteriu um som poderoso usando uma formação relativamente parca e tirando o máximo partido de sopros e metais, realçados no seu particularmente rico contributo nesta sinfonia. O equilíbrio do conjunto, os magníficios staccatos e pianos, a dinâmica da secção de metais, compensam largamente alguma perda de impacto sonoro nas cordas. Douglas Boyd começou como oboísta, talvez isso tenha tido influência nestas opções.
Mau, mau, só as notas da Folha de Sala:
"A herança de Beethoven deixa de funcionar como um peso inultrapassável ou até paralisante." "Ritmos apoteóticos e esplendor do desenvolvimento temático fazem deste andamento uma prefiguração quase perfeita das amplas sinfonias de Bruckner." "Um dos grandes passos em frente na arte da instrumentação clássico romântica".
Esta ideia de progresso, de que algo "antecipa" ou "prefigura" ou é "passo em frente" na música e na arte em geral, é um completo disparate. Dizer de alguém, suponhamos Fra Angelico, que teve o mérito de antecipar, digamos, Rafael, não faz sentido; porque Fra Angelico vale por si, não "antecipou" coisa nehuma, nós é que a posteriori perspectivamos a evolução que levou de um ao outro. Braque "prefigura" Dealaunay ? Hugo "antecipou" Wells? Pois o pateta que escreveu as notas sobre Schubert diz que esta Nona Sinfonia "prefigura" as de Bruckner, como se isso fosse grande mérito; e logo esse bruto, tosco, medíocre Bruckner. Ainda se fosse Mahler... mas é um disparate! A Sinfonia é inovadora e genial por mérito de Schubert, que é inovador e genial; tal como a seguir foram Mendelssohn e sobretudo Brahms, depois Mahler. Nenhuma obra "antecipa" outra obra, a não ser que seja uma evolução do mesmo autor. Ah, e Beethoven como "travão"? isto é coisa que um crítico decente escreva ? Um 'peso' 'paralisante' ?
Curiosamente, a assistência portou-se à Europeia: uma aclamação à altura, com três regressos ao palco, mas sem se pôr de pé a fazer figura pacóvia. Não podia ser a mesma gente que se levanta logo a gritar bravô a qualquer medíocre, como tem sido costume.
Um concerto perfeito, até nisto. Portanto, uma grande noite de música.
Para não ficar sem música, deixo o Finale com Harnoncourt:
Surpeendente, esta gravação da Orquestra Barroca Casa da Música, dirigida por Andreas Staier. Não estava à espera de tão elevada qualidade quer na prestação da Orquestra liderada pelo excelente violino Huw Daniel, quer no som do cravo em que Staier também intervém como solista. Suponho que que a acústica da Casa também deu o seu contributo.
Assisti ao concerto que reproduziu esta gravação, conforme relatei aqui. Na sala, o cravo mal se ouvia, mas no disco é um prazer estar atento à execução de Staier destas obras alegres, para divertimento palaciano.
Para mim, o mais duvidoso até é o conhecido 2º Concerto para cravo de Carlos Seixas que Staier dirige num corridinho acelerado, ao contrário de um vagar mais solene a que eu estava habituado noutras gravações. Torna-se mais evidente o virtuosismo de compositor e executante, mas quanto a mim houve exagero, pedia-se mais gravitas. Já o primeiro concerto de Seixas, em La maior, é uma inesperada inclusão que valoriza o disco.
O ponto alto, tal como aconteceu no concerto, não é português mas italo/ibérico: a famosa Musica Notturna de Boccherini que já referi num post anterior. Staier conseguiu uma reinterpretação de génio, com mais energia e alegria, com mais colorido orquestral, que supera quanto a mim a gravação de Jordi Savall e passa a ser a nova referência. A alternância de instrumentação, dinâmicas, ritmos e melodias proporciona uma audição muito viciante.
Duas notas: - À Portuguesa (Alla Portugesa) é o título de uma das obras incluídas nas Bizzarie Universali do inglês William Corbett (1680-1748). - Duvidoso, o gosto da capa (painel de azulejo? ), mas como era de recear o feérico colorido do galo de Barcelos... vá lá... ;D
Sei bem que já é uma sorte "termos o que temos" ao pé da porta, mas comparar com o que oferecem outras cidades de similar ou até menor dimensão é muito deprimente. Enfim. Há sempre a opção de um salto à "vizinha Espanha".
A desgraça é esta: a Casa da Música resolveu de vez investir na modernidade, como Serralves; traduzindo, em subproduto cultural barato. Acabaram-se os grandes concertos clássicos, como se acabaram as exposições de arte clássica. Queres Giotto, Turner, Matisse ? Levas Mappletorpe. Quando muito sobra uma boa temporada de piano, e por quê ? porque é financiada - ah, palavra mágica ! - pela EDP, que não está para se limitar ao Burmester e aos Ligetis, era capaz até de perder clientes. Na programação sinfónica e concertante, reina o cânone dissonante, atonal, serial e electrónico; mas já não é assim, claro, quando toca a "outras músicas": Ólafur Arnolds vem tocar as suas harmonias suaves e melodias ambientais hiper-clássicas ( sol-e-dó, quase) e aí já se aceita o antiquadamente convencional.
Vamos gramar com o caseiro Haas (eu não, que o evito sempre), com Birtwistle, Reich, Varèse, Ligeti (muito!), Adams, Ives, Bartók, Boulez, Eötvös, Pinho Vargas e Clotilde Rosa, Pedro Lima e Tinoco, e - claro ! p.c. obriga... - "mulheres pioneiras " como as famosas Saarihao, McDowall e Rehqvist. Tais são as Maravilhas do Mundo Novo, uma galeria de horrores, com a direcção soturna de Baldur Brönnimann que é provavelmente o culpado-mor destas opções, visto que não sabe dirigir música clássica - é um completo desastre em reportório barroco e romântico.
Vamos ainda gramar, para cúmulo, com toneladas de Tchaikovsky (integral das sinfonias) e bastante Rachmaninoff, dois valentes chatos que pouca coisa compuseram de interesse. A avalanche é tal que este mais parece um Ano da Rússia, outra vez; 'Mundo Novo', isso ? Ora como, em querendo ter lugares decentes nos poucos concertos decentes, há que fazer assinaturas, lá voltaremos a deixar muitas vezes dois lugares vazios.
Vamos ao que interessa. Em primeiro lugar o piano, com quatro personalidades imperdíveis, de primeiro plano: Kathia Buniatishvili, a espantosa georgiana; David Fray, menino prodígio francês que toca divinalmente Bach e Mozart; Beatrice Rana, a revelação confirmada e premiada, de quem gostei muito nas Goldberg (traz infelizmente Stravinsky); e o eterno, insubstituível Sokolov. É um elenco de luxo, mas infelizmente não sabemos o programa dos concertos da Buniatishvili e do Sokolov. Se escolhas semelhanes se fizessem na música barroca e clássica, com convidados deste nível, aí sim teríamos uma bela programação.
Imperdível é a 9ª (Grande) de Schubert, a 5 de Abril, dirigida por Douglas Boyd; o Stabat Mater de Pergolesi por Iestyn Davies e Rowan Pierce, a 17 de Abril; e a 5ª de Mahler por Eliahu Inbal, a 10 de Maio. Sou capaz ainda de me tentar com a oratória Paulus de Mendelssohn dirigida por Olari Elts, um valor seguro.
Calendário:
25 de Janeiro - Tchaikovsky nº1 (piano + sinfonia) , dirige M. Jurowsky.
8 de Fevereiro - Vierletzte Lieder de Strauss, + Wagner, dir. Stefan Blunier. Canta Miah Persson, excelentíssima soprano.
1 de Março - mais russos: piano nº 2 de Rach, sinfonia nº 2 de Tchai, dirige Vassily Sinaisky. Muito duvidoso.
29 (+31) de Março - A Fanfarra de Copland e as Danças de Bernstein, dir. Steven Sloane. Festivo. Ligeiro.
5 de Abril (+7) - Grande concerto: a 9ª de Schubert dirigida por Douglas Boyd. Espero que a Orquestra CdM esteja à altura !
17 de Abril - o Stabat Mater de Pergolesi, Orq. Barroca dirigida por Laurence Cummings. Bom programa, expectativa mediana.
Abril acaba numa orgia de Ligetis. Mas... grande mês de Maio, finalmente !
3 de Maio - Jörg Widmann toca oConcerto para clarinete de Mozart e dirige a 3ª, Escocesa, de Mendelssohn.
7 de Maio: Sokolov, a celebração.
10 de Maio - Lieder de Wagner por Ekaterina Gubanova, e a 5ªsinfonia de Mahler dirigida por Eliahu Inbal, que não nos deve deixar ficar mal. Expectativa de grande concerto.
24 de Maio - o fantástico David Fray em dois concertos de Bach (BWV 1052 e 1055), e o nº 24 de Mozart (repete dom 26 ). Imperdível, um rapaz que toca como se fosse Maria João Pires.
Segue-se um longo vazio , evitando Brönnimann e outras Ana Amália de Brunsvique-Volfenbutel, até
5 de Outubro - Khatia Buniatishvili, a diva estelar, não se sabe em que programa.
2 de Novembro - a oratória Paulus de Mendelssohn, uma longa e desigual obra coral-sinfónica dirigida por Olari Elts.
8 de Novembro - Volta Leopold Hager, num programa felizmente clássico e fácil - a Haffnere oExultate de Mozart e a 1ª sinfonia de Beethoven. Canta Chen Reiss.
13 de Novembro - Beatrice Rana, com os 12 estudos de Chopin e o mais que logo se verá.
Uma 3ª de Brahms com direcção do muito mau Peter Rundel é a evitar cuidadosamente. A 22 há Samuel Barber e Gershwin, talvez, num dia de muita chuva...
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- Nota-se que acabou a habitual temporada barroca de Novembro.
- No jazz, a 3 de Maio, sou capaz de ir ouvir Erik Friedlander.
- Venda de bilhetes a partir de Dezembro
Finalmente, Novembro está a ser um bom mês de música na CdM. Depois das Estações, a visita de a Andreas Staier, já habitual, trouxe Scarlatti, Carlos Seixas e Boccherini e deu mais um excelente concerto em noite de forte temporal.
Quanto a mim, Staier e a Orquestra despacharam o célebre concerto de Carlos Seixas sem grande empenho, em excesso de velocidade e com fífias desagradáveis no cravo. Há séculos que não ouvia a 'nossa' 'emblemática' obra barroca, um pequeno rubi que bem tocado teria sido um momento mais agradável. Seguiram-se duas sonatas para cravo de Scarlatti, em que Staier mostrou a sua técnica. Voltei a ficar desagradado, primeiro porque ouvi sonatas de Scarlatti no piano por Grigory Sokolov e, bem, é outra coisa ! Depois, porque mais uma vez Staier acelerou de mais e parece-me ter tocado alguma notas falsas, mas pode ser erro meu.
A estrela da noite seria Boccherini. Foi tocada uma versão do quinteto Musica notturna delle strade di Madrid (1780) orquestrada por Staier, uma vez que a obra permite algumas liberdades. A Orquestra Barroca da CdM, liderada por Huw Daniel, esteve fabulosa ! Penso que os ensaios foram cuidados e demorados, porque saiu tudo um primor - as dinâmicas (pianíssimos sublimes), as pausas, os ataques, a percussão nas cordas, os improvisos no violino, a coordenação do conjunto. É verdade que o cravo nesta peça não conta, talvez por isso a coisa saiu tão bem - Staier será melhor a dirigir que a tocar ?!... Já há uns tempos não ouvia uma peça barroca tocada com tanta alegria - transparecia nos músicos - e tão contagiante.
Tenho uma gravação favorita: a de Jordi Savall com a Hesperion XXI; mas a interpretação de Andreas Staier com a Barroca CDM não lhe fica atrás. Merece ser registada !
Deixo aqui, primeiro, IV - Passa Calle :
E também esta versão mais completa:
--------------------------- P.S. Na segunda parte iriam ser interpretadas obras medíocres e maçadoras de uns tipos quaisquer pelo Remix de Peter Rundel. Se tivesse ficado, teria sido um concerto estragado. Cada vez mais a Casa insiste em impingir obras modernas em programas clássicos: é uma vigarice. Para 2019 parece que tudo vai piorar, com o tema do "Novo Mundo" a trazer a pior programação de sempre.
Na passada sexta-feira, 8, esteve na Casa da Músiica Arvo Volmer a dirigir a Orquestra num belíssimo programa (finalmente !) com o jovem violinista Benjamin Schmid.
Começo pela irritação dos lugares vazios, certamente assinaturas de gente que prefere futebol, algarve ou centro comercial. E bons lugares!.. A iniciar o concerto, a abertura do Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn, obra muito ouvida mas cuja sábia e dinâmica arquitectura é sempre de apreciar. Não saiu mal, mas não deslumbrou. Volmer não é Gardiner.
Seguiu-se o concerto para violino nº 3 de Mozart. Embora igualmente bem conhecido, não tem sido muito frequente na CdM. Como Volmer não é Gardiner, o Mozart dele saiu convencional, mas o violino de Schmid não ! Até me desconsolou na primeira entrada, mas à medida que aqueceu foi mostrando uma mestria admirável e uma abordagem pessoal de algumas passagens, sempre muito bem executadas. Só as cadenzas modernaças não me agradaram, mas o virtuosismo foi em crescendo e a obra terminou em ovação. Não é von Mutter, mas foi uma audição empolgante. Tivemos direito a um Paganini vertiginoso como encore(Caprice nº 24).
A 5ª é a minha preferida sinfonia de Sibelius, uma obra genial que deu ao compositor muitas dores de cabeça: o trabaho foi muito atribulado, com várias reescritas, devido sobretudo à má recepção da anterior 4ª (fraquinha) e às novidades que corriam no campo musical europeu, com o surgimento de dissonâncias, atonalidade, música contínua e outros experimentalismos que tentavam quebrar as convenções, sobretudo no campo sinfónico.
Com toda essa efervescência, a 5ª acabou por ficar riquíssima de invenções - harmonias inesperadas, quebras de ritmo, sincopismo, transição do lirismo para explosivos tutti com os sopros em destaque a dar uma sonoridade operática; o mais genial é que Sibelius consegue fazer a sinfonia transitar por todo este percurso acidentado de uma forma fluida, melódica, poética - como se sabe, a inspiração, dizia ele, vinha da natureza nórdica, florestas e lagos, montanhas e fiordes. Não digo que se 'vejam' esta coisas no decorrer da música, mas sim que tem uma beleza variada, rica de detalhe, luxuriosamente harmónica, que se assemelha a uma paisagem escandinava.
A surpresa maior foi a direcção de Volmer, com uma desenvoltura e expressividade de quem já 'nasceu' com esta música no sangue - ele é Estoniano, mesmo de ali ao lado. Deixou a orquestra respirar, solta, mas sempre com a sonoridade controlada. Foi a melhor 5ª que já ouvi, e o melhor concerto da Casa da Música este ano até agora: tremendamente bom.
Para quem não conhece, duas gravações recomendadas:
- Colin Davis com a LSO
- Osmo Vanska com a Orq. da Letónia (Lahti)
No youtube, para aqui deixar, encontrei em vídeo uma razoável interpretação - e muito bem filmada: Thomas Dausgaard, Orquestra Real da Dinamarca
Nicholas McGegan já é quase uma lenda: gravações que são referência de obras de Handel com a Philarmonia Baroque, a orquestra que recriou em S. Francisco, concertos esgotados por entusiastas, uma profunda sabedoria do seu ofício e uma agógica própria que fez escola. Teve ainda o mérito de escolher a saudosa Lorraine Hunt como soprano nas suas gravações de Ariodante, Susana e sobretudo Theodora.
Na cidade de S. Francisco, onde fez carreira, foi instituído um "McGegan Day" anual. Na Casa da Música tivemo-lo na sexta passada. Foi impressionante o que conseguiu com a Orquestra clássica: ataques das cordas de estarrecer, uma sincronia como nunca, destaque de todas as secções da orquestra salientando diálogos e contrapontos, uma nitidez e dinâmica bem contrastadas. Foi como se uma orquestra míope e com cataratas de repente recuperasse 100% da visão. Um espanto que não me lembro de nenhum outro director conseguir com tal eficácia.
É verdade que o programa não era de obras favoritas para mim. Disso tenho pena, mas a sinfonia nº 25 de Mozart parecia renascida, revigorada, nova !, e a nº 98 de Haydn também foi um primor absoluto. O senhor McGegan conduz com uma energia e expressividade notáveis, imagino que nos ensaios foi exigente com a orquestra e a treinou intensamente.
Notas do concerto pelo próprio:
Uma das obras executadas foi a suite de bailado Don Juan de Gluck. McGegan teve de pedir ao público que não aplaudisse a cada intervalo, eram treze andamentos...
Deixo uma pérola de entre muitas que McGegan produziu com Lorraine Hunt, sublime: Veni, o Figlio do Ottone de Handel.
O ano britânico na Casa da Música tem sido um fiasco, mas finalmente aconteceu um meio-concerto de jeito e graças ao Dunedin Consort, que além de Huw Daniel - 1º violino da orquestra barroca que veio dar-lhe outra vivacidade - "emprestou" também o tenor Nicholas Mulray para uma 2ª parte (*) do concerto de domingo passado, dia 5.
A Orquestra Barroca CdM esteve bastante melhor do que era com Laurence Cummings. Huw Daniels sabe muito mais de música barroca, a secção de cordas está muito mais síncrona, dinâmica e atenta ao detalhe. O oboé de Pedro Castro foi também lindíssimo; vou ter o gosto de o voltar a ouvir já na próxima terça-feira.
Eu teria preferido outro tenor, de mais capazes agudos e floreados; não falta sensibilidade a Nicholas Mulroy, mas é uma voz fraquinha, sem graves nem agudos, de timbre feio. Mesmo assim ofereceu dois momentos excelentes, que aqui deixo ilustrados pelas vozes de Anthony Rolfe Johson e John Mark Ansley - a um nível muito superior, claro. Música de Handel 'above the azure plains'.
Where'er you walk, de Alcina
Where'er you walk cool fans shall fan the glade Trees, where you sit, Shall crowd into a shade
Waft her angels through the skies, de Jephta
(*) Mais uma vez, tive de evitar uma 1ª parte de contemporanean garbage - James Dillon, Harrison Birtwistle e um tal Neto da Costa. Esta política correcta de impingir cacofonias e desarmonias a quem vai a concertos pela boa música clássica é uma desonesta vigarice. Que façam concertos para quem gosta disso, mas sem usar engodos.