Olha, cá estou de volta à Casa da Música. Mascarado, distanciado, desconfiado, sem intervalo, sem cafetaria, sinais de uma decadência sem nome, não identificável - não é decadência física do espaço, é outra coisa.
É triste, não há entusiasmo nem expectativa, há só sentirmo-nos conformados com "pronto, é isto que vamos ter nos próximos tempos"- pelo menos até Janeiro.
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Houve Bach, duas Cantatas e um concerto, dirigiu Laurence Cummmings, interpretou a Barroca da Casa. Mais dois ou três convidados que apesar de tudo suscitavam alguma curiosidade:
Iestyn Davies. contratenor
Nicholas Mulroy, tenor
As vozes que podiam ter salvo a noite também estiveram num registo modesto; deu para perceber que a soprano Anna Dennis tem um timbre bonito e firme e é capaz de mais e melhor, gostei muito de a ouvir, mesmo assim. Os outros, coerentemente com a orquestra, não deixaram lembrança. Cumpriram.
É triste sentir o vazio ali, o vazio na sala, as cadeiras vazias, o vazio que se fez na mente das pessoas, a falta de empenho. Quem não podia ser mais amável e dedicado era o jovem pessoal auxiliar, quuer no espaço exterior quer na sala, de uma simpatia e atenção fora de série. Parabéns a eles.
Quanto à boa música na Casa,
Ach ja! so komme bald zurück:
Tilg einst mein trauriges Gebärden,
Sonst wird mir jeder Augenblick
Verhaßt und Jahren ähnlich werden.
Ah sim! volta então depressa
Apaga este meu ar desconsolado
Senão cada momento será para mim
Odioso e por longos anos prolongado.
Fiquemos ainda com a bonita aria de Maria Madalena, 'Saget, saget mir geschwinde '. Canta Janet Baker com Neville Marriner e a A.S.M.F.; a gravação tem 45 anos mas sempre é outra coisa.
2 comentários:
Compreendo perfeitamente o que relata em relação ao ambiente vivido no concerto. Senti o mesmo há semanas quando fui à Gulbenkian pela primeira vez após o início da pandemia. É pena, mas é o que temos.
Surpreende-me que o contratenor Iestyn Davies não tenha impressionado, já o ouvi em muito boa forma.
Já ouvi Iestyn Davis pelo menos uma vez no Stabat Mater, a 19 d Abril de 2019, conforme dei conta aqui no blog. Sim, é um bom contratenor, mas não deslumbra, e nestas cantatas de Bach não impressionou.
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