sexta-feira, 4 de junho de 2021

Quebra-jejum na Casa da Música com cantatas pascais de Bach

 

Olha, cá estou de volta à Casa da Música. Mascarado, distanciado, desconfiado, sem intervalo, sem cafetaria, sinais de uma decadência sem nome, não identificável - não é decadência física do espaço, é outra coisa. 

É triste, não há entusiasmo nem expectativa, há só sentirmo-nos conformados com "pronto, é isto que vamos ter nos próximos tempos"- pelo menos até Janeiro.

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Houve Bach, duas Cantatas e um concerto, dirigiu Laurence Cummmings, interpretou a Barroca da Casa. Mais dois ou três convidados que apesar de tudo suscitavam alguma curiosidade:

Anna Dennis, soprano
Iestyn Davies. contratenor
Nicholas Mulroy, tenor

A Barroca da Casa nunca foi nada por aí além, não é nada de que se fale no mundo, na Europa ou sequer na Península. É assim uma barroquinha à maneira do Porto, sem brilho nem brio excepto quando dirigido por alguém que sabe, como Andreas Staier. Grande parte da culpa portanto é de Laurence Cummings, o sabido director académico de segunda linha, sem uma visão própria, que não deixará nenhuma marca no movimento de renovação interpretativa. Tivemos um Bach descafeínado, zero calorias, indiferente. Nem sequer foi 'certinho'.

As vozes que podiam ter salvo a noite também estiveram num registo modesto; deu para perceber que a soprano Anna Dennis tem um timbre bonito e firme e é capaz de mais e melhor, gostei muito de a ouvir, mesmo assim. Os outros, coerentemente com a orquestra,  não deixaram lembrança. Cumpriram.

É triste sentir o vazio ali, o vazio na sala, as cadeiras vazias, o vazio que se fez na mente das pessoas, a falta de empenho. Quem não podia ser mais amável e dedicado era o jovem pessoal auxiliar, quuer no espaço exterior quer na sala, de uma simpatia e atenção fora de série. Parabéns a eles.

Quanto à boa música na Casa,

Ach ja! so komme bald zurück:
Tilg einst mein trauriges Gebärden,
Sonst wird mir jeder Augenblick
Verhaßt und Jahren ähnlich werden.

                                                       

                                                       Ah sim! volta então depressa

                                                       Apaga este meu ar desconsolado

                                                       Senão cada momento será para mim

                                                       Odioso e por longos anos prolongado.



Fiquemos ainda com a bonita aria de Maria Madalena, 'Saget, saget mir geschwinde '. Canta Janet Baker com Neville Marriner e a A.S.M.F.; a gravação tem 45 anos mas sempre é outra coisa.

2 comentários:

Fanático_Um disse...

Compreendo perfeitamente o que relata em relação ao ambiente vivido no concerto. Senti o mesmo há semanas quando fui à Gulbenkian pela primeira vez após o início da pandemia. É pena, mas é o que temos.
Surpreende-me que o contratenor Iestyn Davies não tenha impressionado, já o ouvi em muito boa forma.

Mário R. Gonçalves disse...

Já ouvi Iestyn Davis pelo menos uma vez no Stabat Mater, a 19 d Abril de 2019, conforme dei conta aqui no blog. Sim, é um bom contratenor, mas não deslumbra, e nestas cantatas de Bach não impressionou.