domingo, 29 de julho de 2018

No Museu Albertina de Viena:
Picasso, Renoir, Cézanne, de Vlaminck, Thöny e ... Kiefer



O Museu Albertina de Viena exibe uma exposição "De Monet a Picasso", que documenta a época de transição do séc. XIX para o XX na pintura - a que chama os "modernistas clássicos". Reúne obras primas e obras menores da Colecção Batliner, que ficará em permanência no  museu, e inclui Monet, Renoir, Degas, Chagall, Cézanne, Braque, Matisse, Klimt, de Vlaminck...


Vou aqui tratar das que me obrigaram a mais tempo de observação e a um regresso. Começo por Picasso, uma miniatura que não conhecia e de que gostei muito:

Verre et pomme, 1911

Um retrato de Renoir que, como de costume, espelha suavidade e bem-estar (alguns diriam 'burguês') em tonalidades de azul, adequadas a uma criança:

Renoir, Elisabeth Maître, 1879


De Cézanne, uma quinta na Normandia:

Ferme en Normandie, 1885


De Vlaminck deslumbrou-me com esta obra que para mim é a estrela da colecção:

La Seine à Chatou, 1906

Pinceladas largas, firmes, muito coloridas, numa composição de equilíbrio perfeito



Surpresa foi Wilhelm Thöny, pintor austríaco desgraçado que teve a quase totalidade da sua obra queimada num incêndio. Nascido em Graz, onde estudou, participou na 1ª Grande Guerra. No regresso a Graz, fundou o Grazer Secession em 1923. Fascinado pelas grandes capitais do mundo moderno - quem não seria ? - passou vários anos em Paris e Nova Iorque, que lhe inspirou várias obras.


Esta é uma das poucas que se salvaram:

New York - East River, 1936

Uma visão feérica, gloriosa, da metrópole além-Atlântico no período entre-guerras.



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Quanto à admirável e tremenda Merkaba de Anselm Kiefer, no piso de cave do Museu, merece um post à parte, fica para breve. Mas deixo aqui uma imagem, bem contrastante com a América de Thöny:



quarta-feira, 25 de julho de 2018

Livros e CDs para o Verão


Fui deixando para Julho e Agosto uma mão cheia de livros e CDs, que não têm nada a ver com as listas habitualmente publicadas em jornais e revistas.

Quanto a livros, há os ligeirinhos e os não-tão-ligeiros-assim. Nos ligeiros, Le Dernier des Nôtres de Adelaïde de Clermont-Tonnerre (que nome tonitruante !) venceu prémios, é uma primeira obra, mas tudo indica que seja uma historinha leve e rocambolesca de (des)amores em Manhattan entremeada de um passado terrível de 2ª grande guerra durante a derrocada nazi.

Un Été avec Homère de Sylvain Tesson tem mais ambição - reler Homero com as notas de humor e reparos 'inteligentes' de actualidade de um autor que já conheço. Curiosamente, Uma Odisseia de Daniel Mendelssohn também vai por aí, mas mais à séria - pai e filho deambulam por Nova Iorque numa aventura urbana cheia de peripécias num épico também inspirado em Homero. Será engraçado comparar.

O mais sério deve ser Asymmetry de Lisa Halliday. Entre o ensaio e o romance, à volta de Ezra Pound e passado nos anos finais da guerra no Iraque, coloca questões sobre a compreensão da Arte e dos outros que pensam diferente de nós. O New Yorker gostou. Veremos.

Discos.

O ´ligeirinho' é muito fresco, de 2018, as árias que Anna Netrebko reuniu em Diva. Todas as divas são vaidosas, e aqui é bem o caso, Anna exibe a voz com fartura, sensualidade e excessos. Quem gosta de vibrato (bem controlado) fica satisfeito. Os maiore êxitos - Babbino, Casta Diva, Vissi d'Arte, Lakmé - mas também um surpreendente Padre, germani, addio de Mozart. A Casta Diva é inultrapassável, claro. Brava.

Dois barrocos quase perfeitos de gravação e de composição - Telemann com abudante flauta e viola de gamba (Helios, 2015), Boccherini com violoncelo (HM, 1994), interpretados com grande mestria. Zelenka e Pisendel são compositores surpreendentes da transição para o séc XVIII, e mal conhecidos; talvez as obras sejam 'menores' mas são muito agradáveis e soam a coisa nova, com a fantástica orquestra barroca de Freiburgo (HM, 1995). O concerto para violino e fagote de Pisandel, a sinfonia concertante de Zelenka, são pequenas maravilhas.

Finalmente, uma obra favorita - a 5ª de Sibelius - com a frescura nórdica, que por sinal este ano o até anda cálida. A interpretação de Osmo Vänskä para a BIS (1995) com a orquestra da Letónia tem sido escolhida como referência, que para mim ainda vai no saudoso Colin Davis. Mas este digital é suposto ser mais límpido, e inclui as duas versões, original e final - coisa rara.

Pronto. Já estou a ouvir.

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Em breve, o que vi nos museus de Viena....




domingo, 22 de julho de 2018

O inevitável percurso dos cafés vienenses
- Alt e Hawelka favoritos.


Outra 'mania' que levei a Viena foi visitar todos os cafés referenciados nos roteiros, ou porque foram cafés 'literários' de gente ilustre, ou simplesmente por serem bonitos: o Central, o Schwarzenberg, o Bräunerhof, o Mozart, o Oper Café, o Kleines, o Alt Wien, o Frauenhuber, o Landtman, o Sperl, o Dommayer ... 

São uma instituição reconhecida pela UNESCO, que os descreve assim: 'mesas de mármore, cadeiras de madeira com costas curvas, uma mesa de jornais, decorações revivalistas com capitéis ou dourados'; 'sítios onde se consome espaço e tempo, mas na conta só se paga o café'. Stephan Zweig escreveu sobre eles, Thomas Mann, Schiele, Klimt, Mahler, Freud ou Trotsky eram habitués.Também eu gostava de ser.

Falhei alguns. Hoje, evidentemente, muitos estão invadidos por multidões de turistas que fazem fila e estragam todo o ambiente; outros ainda servem hamburgers e wienerschnitzels e parecem o actual Martinho da Arcada. Poucos sobram com o devido recato, requinte e respeito para quem quer ler o jornal e trocar ideias - e, isto em favor da Áustria, fumar um cigarrito ou charuto ainda é largamente aceite no interior. Uma coisa é certa: se se quer provar, apreciar, saborerar um bom café, sem ser em Itália, só em Viena ! Excelente gostinho, muito bem tirados e apresentados com (algum) cuidado, entre três e cinco euritos

Começamos no Café da Ópera; sob mais de 30º, só se consegue estar na esplanada, à sombra. É um sitio óptimo para se ver passar tout le monde, vienenses e visitantes - tantas línguas, tantas vestes.




O Café Central, o mais turístico

Na Herrengasse, está numa esquina onde passam constantemente carroças turísticas. O fedor na esplanada é pavoroso, dá vómitos sequer pensar em tomar café ali. Entremos, pois, se a fila é curta.




Tivemos sorte: depois de uma pequena espera, uma mesa previlegiada. E uma gulodice com o café:

'Trio de petits fours'

O Frauenhuber, o mais antigo:

 
Fica na esconsa rua Griechenbeisl, a que resta da Viena medieval. Esta casa barroca começou por ser uma estalagem, que desde o séc. XVIII foi ganhando prestígio. Agora é um restaurante assim-assim.


Consta que Mozart o frequentava; ele e também Beethoven deram concertos nas suas salas. Mark Twain passou por lá.


Cheryl Studder, Riccardo Muti, Suzanne Mentzer, quando estiveram em Viena no Don Giovanni (1990).

Café Alt Wien
Uma preciosidade, na Bäckerstrasse por trás da catedral.

À noite ainda é mais acolhedor.


É o ideal para ler o jornal, mas só há imprensa em alemão. Tem que se ir primeiro a um quiosque internacional. Bom para um acordar tranquilo. Queria um assim à minha porta.


Kleines Café
Já o Kleines, por aconchegado de mais, impede conversas porque seriam ouvidas por todos na pequena sala. Aconselhado a solitários. A esplanada fica numa praça bonita, fente à Igreja Franciscana (riquíssima por sinal, de mármores e dourados).



[esta foto não é minha - encontrei a sala sempre cheia]

Café Schwarzenberg

Grande casa, muito belle époque, às 11h da noite estava vazio. Parece que durante o dia é diferente. Como é próximo do Musikverein, em noites de concerto certamente enche.



O café era bem bom, mas sobre o amargo.

O Café Mozart é tristonho, desilude:

Café Hawelka


Na zona comercial mais luxuosa, é bem bonito e oferece jornais. Só estava vazio porque o calor pedia esplanada.

Um interior quente e com patine.

Muito importante durante a guerra fria, o Hawelka foi frequentado por Günter Grass, Henry Miller, Andy Warhol, Václav Havel.

Leopold Hawelka foi também proprietário do Alt Wien.

Café Diglas
A nossa escolha diária acabou por ser o Diglas: o café bem servido, gostoso, local central mas sossegado e agradável.




E até acabamos num Wienerschnitzel - boas batatinhas !



Ah, esquecia-me de um - o Kunsthistorisches Museum Café, situado sob a majestosa cúpula octogonal do Museu, de interior profusamente decorado em mármores, colunas, arcos, capitéis, pinturas, dourados... Aqui foi uma tarte Klimt - muito boa, apesar da parolice - tinha um biscoito em forma de medalhão inspirado em Klimt... mas foi bem acompanhado de um Riesling fresquinho.




Sucumbi, portanto, e vergonhosamente, aos tempos e costumes de agora: turismo gastronómico primeiro, Letras, Artes e História... logo se verá ! :D