domingo, 22 de julho de 2018

O inevitável percurso dos cafés vienenses
- Alt e Hawelka favoritos.


Outra 'mania' que levei a Viena foi visitar todos os cafés referenciados nos roteiros, ou porque foram cafés 'literários' de gente ilustre, ou simplesmente por serem bonitos: o Central, o Schwarzenberg, o Bräunerhof, o Mozart, o Oper Café, o Kleines, o Alt Wien, o Frauenhuber, o Landtman, o Sperl, o Dommayer ... 

São uma instituição reconhecida pela UNESCO, que os descreve assim: 'mesas de mármore, cadeiras de madeira com costas curvas, uma mesa de jornais, decorações revivalistas com capitéis ou dourados'; 'sítios onde se consome espaço e tempo, mas na conta só se paga o café'. Stephan Zweig escreveu sobre eles, Thomas Mann, Schiele, Klimt, Mahler, Freud ou Trotsky eram habitués.Também eu gostava de ser.

Falhei alguns. Hoje, evidentemente, muitos estão invadidos por multidões de turistas que fazem fila e estragam todo o ambiente; outros ainda servem hamburgers e wienerschnitzels e parecem o actual Martinho da Arcada. Poucos sobram com o devido recato, requinte e respeito para quem quer ler o jornal e trocar ideias - e, isto em favor da Áustria, fumar um cigarrito ou charuto ainda é largamente aceite no interior. Uma coisa é certa: se se quer provar, apreciar, saborerar um bom café, sem ser em Itália, só em Viena ! Excelente gostinho, muito bem tirados e apresentados com (algum) cuidado, entre três e cinco euritos

Começamos no Café da Ópera; sob mais de 30º, só se consegue estar na esplanada, à sombra. É um sitio óptimo para se ver passar tout le monde, vienenses e visitantes - tantas línguas, tantas vestes.




O Café Central, o mais turístico

Na Herrengasse, está numa esquina onde passam constantemente carroças turísticas. O fedor na esplanada é pavoroso, dá vómitos sequer pensar em tomar café ali. Entremos, pois, se a fila é curta.




Tivemos sorte: depois de uma pequena espera, uma mesa previlegiada. E uma gulodice com o café:

'Trio de petits fours'

O Frauenhuber, o mais antigo:

 
Fica na esconsa rua Griechenbeisl, a que resta da Viena medieval. Esta casa barroca começou por ser uma estalagem, que desde o séc. XVIII foi ganhando prestígio. Agora é um restaurante assim-assim.


Consta que Mozart o frequentava; ele e também Beethoven deram concertos nas suas salas. Mark Twain passou por lá.


Cheryl Studder, Riccardo Muti, Suzanne Mentzer, quando estiveram em Viena no Don Giovanni (1990).

Café Alt Wien
Uma preciosidade, na Bäckerstrasse por trás da catedral.

À noite ainda é mais acolhedor.


É o ideal para ler o jornal, mas só há imprensa em alemão. Tem que se ir primeiro a um quiosque internacional. Bom para um acordar tranquilo. Queria um assim à minha porta.


Kleines Café
Já o Kleines, por aconchegado de mais, impede conversas porque seriam ouvidas por todos na pequena sala. Aconselhado a solitários. A esplanada fica numa praça bonita, fente à Igreja Franciscana (riquíssima por sinal, de mármores e dourados).



[esta foto não é minha - encontrei a sala sempre cheia]

Café Schwarzenberg

Grande casa, muito belle époque, às 11h da noite estava vazio. Parece que durante o dia é diferente. Como é próximo do Musikverein, em noites de concerto certamente enche.



O café era bem bom, mas sobre o amargo.

O Café Mozart é tristonho, desilude:

Café Hawelka


Na zona comercial mais luxuosa, é bem bonito e oferece jornais. Só estava vazio porque o calor pedia esplanada.

Um interior quente e com patine.

Muito importante durante a guerra fria, o Hawelka foi frequentado por Günter Grass, Henry Miller, Andy Warhol, Václav Havel.

Leopold Hawelka foi também proprietário do Alt Wien.

Café Diglas
A nossa escolha diária acabou por ser o Diglas: o café bem servido, gostoso, local central mas sossegado e agradável.




E até acabamos num Wienerschnitzel - boas batatinhas !



Ah, esquecia-me de um - o Kunsthistorisches Museum Café, situado sob a majestosa cúpula octogonal do Museu, de interior profusamente decorado em mármores, colunas, arcos, capitéis, pinturas, dourados... Aqui foi uma tarte Klimt - muito boa, apesar da parolice - tinha um biscoito em forma de medalhão inspirado em Klimt... mas foi bem acompanhado de um Riesling fresquinho.




Sucumbi, portanto, e vergonhosamente, aos tempos e costumes de agora: turismo gastronómico primeiro, Letras, Artes e História... logo se verá ! :D


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