segunda-feira, 26 de novembro de 2018

domingo, 25 de novembro de 2018

Abadia barroca de Melk, varanda beneditina sobre o Danúbio


Alcandorado num morro sobre o Danúbio, Stift Melk é património cultural e a Áustria no seu melhor.

Na minha recente estada em Viena, dei o habitual 'saltinho' de combóio suburbano até Melk, aldeia na margem de um braço menor do Danúbio. É conhecida pelo grande mosteiro beneditino, que ficou mais famoso desde que Umberto Eco lá situou passagens do Nome da Rosa.

Mas comecemos pelo princípio.


Viajar de combóio na Áustria, como na Suíça, é um previlégio. Não só cumprem rigorosamente todos os horários, como são muito frequentes e para quem viaja em horário livre é fácil este luxo de ter uma carruagem inteira por sua conta. Confortáveis, como novos, suaves: a ÖBB é um dos melhores serviços do estado austríaco. Quem precisa de carro, assim ?

À chegada, damos com as "portas" de Melk e o Mosteiro logo ao fundo, no alto de uma elevação. E ciclistas, muitos ciclistas, devia ser uma excursão.


Percebe-se que o mosteiro é toda a razão de existência de Melk. Domina sobre a povoação, visível de quase toda a parte.


Foi fundado em 1089 quando Leopold II, Margrave da Áustria, ofereceu uma da suas residências acasteladas aos monges beneditinos, que lá instalaram uma abadia fortificada - primeiro um edifício românico, mais tarde remodelado em gótico, numa mistura de estilos. A sua biblioteca ganhou grande fama pela extensa colecção de manuscritos, que os monges também produziam, tendo atingido no século XV grande protagonismo cultural - é dessa época que datam os escritos mais preciosos.


Tendo sofrido por duas vezes incêndios catastróficos, foi decidido em 1700 construir uma nova grande Abadia. O actual complexo - Igreja e Abadia - edificado entre 1702 e 1746, inteiramente em estilo barroco, está cuidadosamente apoiado num irregular maciço rochoso.


Mas antes de ascendermos ao divino, detivemo-nos um pouco cá em baixo, na vila de Melk:

A antiga padaria, na Hauptstraße.

Uma rua comercial que termina numa praça alongada com algumas casas bonitas, esplanadas e lojas no rés-do-chão, a Rathausplatz.


S. Colmano (Koloman) de Stockerau, o mártir peregrino irlandês da igreja católica da Áustria, encima a Fonte da Vila. O desgraçado filho do rei da Irlanda ia para Jerusalém quando ao passar perto de Melk em 1012 foi acusado de espionagem e enforcado. Enfim, hoje está mais nos costumes esquartejar nas embaixadas.
 

A riqueza histórica de Melk.

Vamos então começar a subida.

A Abadia de Melk

Pompa e circunstância arquitectónica.

Großartig !

À medida que vamos passando nos pórticos, torna-se evidente que é mais um palácio que um mosteiro.



Actualmente a Abadia é um colégio monacal de prestígio com mais de 700 alunos.

Talvez mesmo mais bonito que os palácios de Viena !

Não estava um dia de sol, obviamente.
Vistas da varanda do terraço:
O centro da vila, junto ao braço do Danúbio, separado do rio por uma ilhota. Aqui 'nasceram' os Nibelungos !

O centro de Melk (Hauptplatz)

A Sala de Mármore


No lado esquerdo do terraço, a Marmorsaal era o salão de recepções de visitantes ilustres. O tom rosado é dado pelo mármore das pilastras e pela pintura do tecto de Paul Troger.

Pallas Athena numa carruagem puxada por leões, símbolo de sabedoria, acompanhada de Hércules, símbolo de valentia: os valores dos Habsburgos.

Uma outra sala, a Kolomanisaal dedicada a S. Colmano, estava fechada às visitas.

A Biblioteca

No outro lado da varanda, em perfeita simetria barroca com a Sala de Mármore, está a famosa Biblioteca:


Obra prima do barroco, embora já tardia.


Finalmente ! Que emoção...





As estantes contêm milhares de manuscritos medievais, cujas capas em mau estado estão protegidas por novas encadernações.

Quantas preciosidades (*) estarão registadas nestes pergaminhos!


A biblioteca tem dois andares (o superior é uma galeria a toda a volta) e um tecto também pintado por Troger, alusivo à Fé.


Tratados, Missais, Calendários, Dicionários, Livros de Canto a capella beneditino...

Não é o labirinto que esperava, tendo inspirado a biblioteca do Nome da Rosa, mas essa deve ter sido a que ardeu; nem é tão bonita como a nossa Joanina. Mas é uma bela biblioteca ! Surpresa, surpresa vem a seguir: a famosa escadaria em caracol.


  


Muito fotogénica ! Merecia um post à parte...
Ver Melk Treppenhaus.


Passemos à Igreja.

A Igreja da Abadia de Melk
 
De interior tão rico e dourado que cega, é a mais exuberante nave barroca que já vi.


Os frescos do tecto, de 1716-1717, foram pintados por Johann Michael Rottmayr. Aludem à batalha dos monges beneditinos pela Virtude.

 


S. Bento (Sankt Benedikt) no painel central do tecto, vencendo a batalha da Virtude.

Varanda sobre o Danúbio
 
Cansados de tanta cor mística, sair para o ar livre é uma... benção. Para mais, o terreiro tem a varanda mais espectacular do Mosteiro:



Sobre o Donnauarm.

Desta varanda Napoleão, instalado no mosteiro, terá observado a Áustria durante a invasão.


Quinze minutos aqui quase me reconciliam com o mundo dos homens. Inacreditável, a minha sorte em poder disfrutar sem multidão.



Eram 15h, Wiedersehen Melk

---------------------------------------
(*) Alguns manuscritos da biblioteca de Melk:

São Bento, no A inicial do Tractatus beneditino de Hildemarus, o livro de regras monásticas que esteve na origem da Abadia.

Missal, letra D, séc XII-XIII

Uma bela pagina de missal.

Tractatus de musica (canto), séc XV.

Breviário em latim com iluminuras, sobre pergaminho


Tudo isto é uma pequena parte do que há para ver; não faltam documentos na net sobre a Abadia de Melk (Stift Melk) com abundantes dados históricos e imagens, sobretudo em alemão.