segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ora vamos lá ao desastre: Casa da Música - temporada 2019


Sei bem que já é uma sorte "termos o que temos" ao pé da porta, mas comparar com o que oferecem outras cidades de similar ou até menor dimensão é muito deprimente. Enfim. Há sempre a opção de um salto à "vizinha Espanha".

A desgraça é esta: a Casa da Música resolveu de vez investir na modernidade, como Serralves; traduzindo, em subproduto cultural barato. Acabaram-se os grandes concertos clássicos, como se acabaram as exposições de arte clássica. Queres Giotto, Turner, Matisse ? Levas Mappletorpe. Quando muito sobra uma boa temporada de piano, e por quê ? porque é financiada - ah, palavra mágica ! - pela EDP, que não está para se limitar ao Burmester e aos Ligetis, era capaz até de perder clientes. Na programação sinfónica e concertante, reina o cânone dissonante, atonal, serial e electrónico; mas já não é assim, claro, quando toca a "outras músicas": Ólafur Arnolds vem tocar as suas harmonias suaves e melodias ambientais hiper-clássicas ( sol-e-dó, quase) e aí já se aceita o antiquadamente convencional.

Vamos gramar com o caseiro Haas (eu não, que o evito sempre), com Birtwistle, Reich, Varèse, Ligeti (muito!), Adams, Ives, Bartók, Boulez, Eötvös, Pinho Vargas e Clotilde Rosa, Pedro Lima e Tinoco, e - claro !  p.c. obriga... - "mulheres pioneiras " como as famosas Saarihao, McDowall e Rehqvist. Tais são as Maravilhas do Mundo Novo, uma galeria de horrores, com a direcção soturna de Baldur Brönnimann que é provavelmente o culpado-mor destas opções, visto que não sabe dirigir música clássica - é um completo desastre em reportório barroco e romântico.

Vamos ainda gramar, para cúmulo, com toneladas de Tchaikovsky (integral das sinfonias) e bastante Rachmaninoff, dois valentes chatos que pouca coisa compuseram de interesse. A avalanche é tal que este mais parece um Ano da Rússia, outra vez; 'Mundo Novo', isso ? Ora como, em querendo ter lugares decentes nos poucos concertos decentes, há que fazer assinaturas, lá voltaremos a deixar muitas vezes dois lugares vazios.

Vamos ao que interessa. Em primeiro lugar o piano, com quatro personalidades imperdíveis, de primeiro plano: Kathia Buniatishvili, a espantosa georgiana; David Fray, menino prodígio francês que toca divinalmente Bach e Mozart; Beatrice Rana, a revelação confirmada e premiada, de quem gostei muito nas Goldberg (traz infelizmente Stravinsky); e o eterno, insubstituível Sokolov. É um elenco de luxo, mas infelizmente não sabemos o programa dos concertos da Buniatishvili e do Sokolov. Se escolhas semelhanes se fizessem na música barroca e clássica, com convidados deste nível, aí sim teríamos uma bela programação.

Imperdível é a 9ª (Grande) de Schubert, a 5 de Abril, dirigida por Douglas Boyd; o Stabat Mater de Pergolesi por Iestyn Davies e Rowan Pierce, a 17 de Abril;  e a de Mahler por Eliahu Inbal, a 10 de Maio. Sou capaz ainda de me tentar com a oratória Paulus de Mendelssohn dirigida por Olari Elts, um valor seguro.

Calendário:

25 de Janeiro - Tchaikovsky nº1 (piano + sinfonia) , dirige M. Jurowsky.

8 de Fevereiro - Vier letzte Lieder de Strauss, + Wagner, dir. Stefan Blunier. Canta Miah Persson, excelentíssima soprano.


1 de Março - mais russos: piano nº 2 de Rach, sinfonia nº 2 de Tchai, dirige Vassily Sinaisky. Muito duvidoso.

29 (+31) de Março - A Fanfarra de  Copland e as Danças de Bernstein, dir. Steven Sloane. Festivo. Ligeiro.

5 de Abril (+7) -  Grande concerto: a de Schubert dirigida por Douglas Boyd. Espero que a Orquestra CdM esteja à altura !

17 de Abril - o Stabat Mater de Pergolesi, Orq. Barroca dirigida por Laurence Cummings. Bom programa, expectativa mediana.

Abril acaba numa orgia de Ligetis. Mas... grande mês de Maio, finalmente !

3 de Maio - Jörg Widmann toca o Concerto para clarinete de Mozart e dirige a 3ª, Escocesa, de Mendelssohn.

7 de Maio: Sokolov, a celebração.

10 de Maio -  Lieder de Wagner por Ekaterina Gubanova, e a sinfonia de Mahler dirigida por Eliahu Inbal, que não nos deve deixar ficar mal. Expectativa de grande concerto.

24 de Maio - o fantástico David Fray em dois concertos de Bach (BWV 1052 e 1055), e o nº 24 de Mozart (repete dom 26 ). Imperdível, um rapaz que toca como se fosse Maria João Pires.


Segue-se um longo vazio , evitando Brönnimann e outras Ana Amália de Brunsvique-Volfenbutel, até

5 de Outubro - Khatia Buniatishvili, a diva estelar, não se sabe em que programa.

2 de Novembro -  a oratória Paulus de Mendelssohn, uma longa e desigual obra coral-sinfónica dirigida por Olari Elts.

8 de Novembro - Volta Leopold Hager, num programa felizmente clássico e fácil -  a Haffner e o Exultate de Mozart e a 1ª sinfonia de Beethoven. Canta Chen Reiss.

13 de Novembro - Beatrice Rana, com os 12 estudos de Chopin e o mais que logo se verá.

Uma 3ª de Brahms com direcção do muito mau Peter Rundel é a evitar cuidadosamente. A 22 há Samuel Barber e Gershwin, talvez, num dia de muita chuva...

-----------------------------------------------
- Nota-se que acabou a habitual temporada barroca de Novembro.
- No jazz, a 3 de Maio, sou capaz de ir ouvir Erik Friedlander.
- Venda de bilhetes a partir de  Dezembro




Sem comentários: