terça-feira, 24 de maio de 2022

As minhas viagens alpinas, de combóio e de carro


Nunca fiz férias na neve, mas visitei algumas das estâncias mais frequentadas da Europa, algumas no Inverno. Gostava do tempo frio seco, mais fácil de aguentar, mesmo receando sempre uma queda no chão gelado. Foram visitas inesquecíveis, momentos de deslumbramento com a sensação de fazer parte dos sortudos deste mundo, mesmo que tivesse de contar os tostões para um café.

Gstaad
foi a primeira aventura, de combóio a partir de Genève, em 1993. Sol de Inverno, viagem mágica, com chegada sob luz quase poente porque era Janeiro e o dia é curto.


O centro, à volta da capela de St. Nicolas.Nikolauskapelle 1402



Começámos por sair do casario e subir uma estrada que levava a um miradouro sobre as montanhas. Queríamos aproveitar o resto da luz do dia para apreciar a paisagem alpina, a pouco mais de 1000m.


Quando regressámos caía a noite. Fomos lanchar a preços principescos - e mesmo assim com dificuldade em arranjar mesa.

A Promenade é a rua principal, feira de vaidades.

A capela de S. Nicolau estava mais bonita à noite. E foi correr para o último combóio de regresso.

Passei de ano em 2000, e muito bem, em Berna, e de lá fiz um programa alpino mais ambicioso: partimos de manhã cedo num combóio com destino ao Jungfrau numa viagem com vários trasbordos ferroviários via Interlaken, Lauterbrunnen, Mürren, Kleine Scheidegg, Grindelwald. Uma das paragens mais gratificantes foi em Kleine Scheidegg.

A viagem já fora prodigiosa, por entre picos rochosos nevados, aldeias de telhados sob cobertura branca, arvoredo semi-coberto de neve com gelo a pingar, as cores intensas com a dupla iluminação do sol e da neve.


Chegados a Kleine Scheidegg, intervalo para mudar de linha - daqui para cima é cremalheira. Tivemos mais de uma hora para passear e restabelecer calorias. A mais de 2000 m.



A seguir embarcámos no cremalheira amarelo para uma subida íngreme; via-se lá em baixo a estação e o vale nevado de Scheidegg.




Um ano muito bom, o 2000, a terminar um século onde se foi do pior ao melhor.´

O Observatório Sphynx e o glaciar Aletsch, o maior dos Alpes.

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No Verão, vai-se a paisagem branca e o ambiente quentinho dos interiores mas vê-se melhor a arquitectura e decoração das casas, e as ruas estão alegremente floridas. Kitzbuhel foi a favorita, perto de Salzburg; se pudesse voltava lá a passar uns dias. Infelizmente não tenho imagens de quando lá estive para mostrar.

Durante uma estada em Annecy em 2006, fiz uma extensão a Chamonix via Megève. Esta é uma pequena vila alpina de ruas e recantos inesperados.

A Place de la Mairie de Mégève, sempre com calèches à espera de turistas.

A torre da antiga moradia Capré, 'Tour du Demi-Quartier'.

A zona antiga  à volta do riacho Planay.

Haute Savoye, florida e de janelas com porta de tabuínhas.

Daqui a Chamonix é um saltinho; e lá não falta gelo na Aiguille du Midi e no Mont Blanc

Cá em baixo, lojas e hotéis; vale pelo fundo de picos montanhosos em redor.

Le Praz, uma zona de parque.

Mas quando se sobe lá acima aos picos...


A 3842 metros !


Ofegante com a falta de ar e o dramatismo quase sobrenatural... - hélas, nunca mais voltei às alturas. 

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Poor Clares of Arundel, as Clarissas que cantam divinalmente


Não, não me converti ! Apenas recebi mais um CD que veio atrasado e não pude incluir na minha resenha recente (10 de Maio) aqui no blog. 


"Light for the World" é uma colecção de cantos corais pelas monjas Clarissas do Convento de de Stª Clara de Arundel, perto de Brighton, no sul da Inglaterra.


A Ordem de Stª Clara, ou Ordem das Damas Pobres, é uma ordem contemplativa que, seguindo os preceitos de Clara de Assis, praticava uma vida de modéstia baseada na troca directa de produtos com a comunidade e na rejeição da propriedade. Tradicionalmente viviam em clausura monástica, que agora vão relaxando, com internet e tudo o mais.



O Convento das Clarissas em Arundel foi fundado em 1886. Recentemente a comunidade monástica 'modernizou-se': permitiu a realização no Convento de uma série de Televisão para a BBC 2, e gravou com alta qualidade audiófila (DECCA) um CD de música coral.

James Morgan, que compôs cerca de metade das canções, dirige a Orquestra de Câmara Nacional da Dinamarca. A mezzo Juliette Pochin dirige o côro.

Veni creator spiritus

All who labour


Creator Alme Siderum


Há maneiras de viver bastante piores. Estas Clarissas só fazem bem, e até nos dão boa música coral , bem hajam.



terça-feira, 10 de maio de 2022

Mais música para esta Primavera.

Chegaram estas semanas alguns CDs que fui encomendando, com receio de que se perdessem (os que vinham de UK). Um dos melhores veio do coro do Keble College, de Oxford, um colégio admirável, imponente, a Nordeste junto ao Museu de História Natural.


Ainda hei-de lhe dedicar um post.

A Capela

CDs

Resurrexi, Páscoa em Viena
CRD, 2022

Música de Mozart e Haydn, pelo coro do Keble College e o grupo Instruments of Time and Truth. Excertos da rara Spaur-messe de Mozart alternando com excertos de Haydn, executados como eu gosto, na escola de recriação do barroco mas com grande perfeição técnica e detalhe.

- uma obra que não tinha ainda em disco:

Messe des Morts de Jean Gilles
(para o serviço fúnebre do funeral de Rameau)

Collegium Vocale de Ghent,
Capriccio Stravagante, dir. Skip Sempé (2014)

Grande Jean Gilles ! Uma abertura espectacular (Introit/Kyrie), que os músicos e o côro desempenham na perfeição: impacto, pausas, fraseado, quase estonteante. Notável também o Agnus Dei, Uma obra complexa que rivaliza com a música sacra de Handel, podem crer. 

Concertos para Violoncelo
Carl Phillip Emanuel Bach

O sempre estimável J. Queyras com o Ensemble Resonanz num disco muito 'doce' de 2018 - os andantes, sobretudo, são companhia suave e aveludada para momentos de sossego. O H439 para violoncelo, cordas e baixo contínuo é uma obra prima. 

----   Piano, agora ----

Schubert, Impromptus D935 e o quase-concerto D487

Um disco surprendente de 2007 com obras de Schubert pelo pianista alemão Sebastian Knauer, que consegue a proeza, por exemplo, de ser mais poético, impressivo e firme nos D935 que Maria João Pires. Talvez seja a melhor interpretação de sempre! Genial, este Knauer, atenção a ele. Diz o Gramophone: "uma maravilha de eloquência robusta e mestria infalível, livre de caprichos e de maneirismos". Mas surpresa a sério é o Adagio e Rondo Concertante D487, a obra em que Schubert mais se aproximou do Concerto para Piano - talvez seja um esboço - que Knauer arranjou para cordas. Soa com obra nova!

Brahms / Lupu

Finalmente consegui a gravação histórica dos Intermezzi de Brahms por Radu Lupu, que só tinha em vinil riscado. O sublime 118 nº2 nunca me emocionou tanto.
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Fica aqui música do Diligam te, Domine de Jean Gilles, Inclinavit coelos
Canta Veronique Gens.

'Inclinavit caelos, et descendit, et caligo sub pedibus eius.'
          Inclinou os céus, e desceu; e as trevas trazia sob os seus pés.

Assim descem os mísseis russos.