domingo, 31 de julho de 2011

Um concerto primoroso: FIME 2011, Espinho


Nada a ver com o post anterior!!
A Orquestra Barroca da União Europeia esteve este fim-de-semana nos festivais de Espinho e de Alcobaça, dirigida pelo cravista dinamarquês Lars Ulrik Mortensen.


Posso dizer que o concerto de ontem na linda e íntima sala do Auditório de Espinho, a encerrar o FIME, foi um absoluto luxo, no sentido musical: máxima riqueza interpretativa. Senti logo um "choque" com o Brandeburguês nº 3 de Bach que abriu a noite. Uma precisão no ataque das cordas, nos staccatos, ao mesmo temo uma macieza durante o arco sonoro, absolutamente de arrepiar. O tipo de coisa que nunca se pode ter em casa, por melhor que seja o Hi-fi system.
A direcção de Mortensen teve tudo a ver com isso. A gestualidade com as mãos e os saltos na cadeira do cravista eram só por si um espectáculo dentro do espectáculo - impressionava a expressividade que ele conseguia de uma orquestra que ao mesmo tempo era uma unidade tão coesa como se estivéssemos a ouvir um só instrumento a várias vozes. Enfim , uma síntese do perfeccionismo nórdico com o colorido e a alegria latina.

E era bem visível também essa alegria e extrema entrega dos músicos. Os oito das cordas esquerdas (violinos e violas) formavam a secção mais encantatória que ouvi nos últimos tempos. As cordas de tripa também contribuiam, claro.

O programa "Bach and Sons" foi dedicado ao Pai J.S. Bach e seus filhos. Destes, foram escolhidas obras menos conhecidas mas com belas e por vezes divertidas surpresas:

- Johann Christian Bach (Concerto para cravo em fá menor)
- Wilhelm Friedemann Bach (Sinfonia em fá Maior)
- Carl Philipp Emanuel Bach (Sinfonia em si bemol Maior).
- Johann Bernhard Bach, Concerto para violino, "Ouverture", em sol menor.

Fotos descarregadas da Net

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Merry Ploughboy, um pub em Dublin

Tinha de ser, tinha de ser... era como ir a Roma e não ver...

Lá fui ouvir música tradicional irlandesa e passar um serão num pub de Dublin. Com duas Guinness para ajudar (parece que 10 é o mínimo...)

E foi divertido, agradável. Os tocadores são os Merry Ploughboys, donos do pub.



Este filme é meu!! o primeiro que publico no Youtube, estreia sensacional.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

portas fechadas, portas abertas

It went many years,
But at last came a knock,
And I thought of the door
With no lock to lock.

I blew out the light,
I tip-toed the floor,
And raised both hands
In prayer to the door

But the knock came again
My window was wide;
I climbed on the sill
And descended outside.

Back over the sill
I bade a “Come in”
To whoever the knock
At the door may have been

Robert Frost

Passaram muito anos,
Por fim, alguém tocou,
e eu pensei na porta
sem chave a fechar.

Apaguei a luz,
pisei o chão de leve,
e levantei as mãos
à porta, em oração

Tocaram de novo
tinha a janela aberta;
saltei o peitoril
e desci para fora.

De costas para casa
pedi "Vem, entra"
a quem veio tocar,
quem à porta bateu

***************************************************

Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.
António Ramos Rosa

- 5ª feira, 28 de Julho, ....

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Visita à National Gallery de Dublin



Portas irlandesas

Não faltam postais à venda com as coloridas portas de Dublin, mas esta é a minha colecção. A maioria tiradas na zona de Merrion Square, uma das mais bonitas praças de Dublin, rodeada de três frentes de casas georgianas, e lugar de exposição e venda de quadros (aguarelas, guaches, óleos, gravuras) na presença dos artistas, como em Montmartre, à volta do lindo jardim central.



Quanto às portas, as originais não tinham caixa do correio, que era distribuído porta a porta por uma viatura puxada a cavalo; o correio tocava sempre à campaínha (duas vezes?) e entregava em mão.









Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Vinicius de Morais

Agora uma gracinha para gatófilos e gatófilas:


sábado, 16 de julho de 2011

Agora, Dublin

Vou fazer uns dias de visita a Dublin e arredores. Para conhecer.

Não tenho grandes expectativas, porque não é nem uma cidade monumental, nem romântica, nem musical - é um deserto de concertos e óperas, muitos furos abaixo do Porto... não tem temporada lírica, nem orquestra de jeito. E o bailado é aquele sapateado horrendo...

É uma cidade literária, sim; mas onde estão os cafés? só há pubs e Guinness... e embora goste muito de Beckett, Shaw, Wilde, Swift, Yeats, já Joyce ou Seamus Heaney não fazem o meu género de literatura. E não sou de peregrinações às casas onde nasceram...

Arte? julgava eu que também ia encontrar um deserto. Para meu espanto, a National Gallery tem uma riquíssima colecção !


Vermeer - Senhora escrevendo uma carta com a sua criada
- roubado duas vezes (uma pelo IRA) !

Goya - Retrato de Antonia Zarate

Turner - Shipwreck

E muito mais : Rembrandt, Picasso, Gris, Velasquez, Caravaggio, Signac, Monet, Brueghel, ...
Vai ser um regalo.

Também as igrejas não estão mal. Duas catedrais !

Interior de Christ Church cathedral

Interior de St. Patrick cathedral

Ver História e ver paisagem. Tenciono ir a Glendalough, mosteiro único de localização e arquitectura; e a vilas costeiras e medievais (Skerries, Kilkenny), atravessando a muito verde irish country.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Coisas boas da minha geração: 1 - a Vista

Começo uma série de posts "optimistas" a glosar o tema "porque valeu a pena viver nesta era".

Aqui está uma visão de que nunca antes os humanos puderam disfrutar, que me enche de vaidade na raça e na época. Faz toda a diferença com a barbárie, o provincianismo, a religiosidade, o obscurantismo, o regreso às cavernas e outras tendências modernas que me envergonham.

A Estação espacial com o Space Shuttle atracado e a nossa Terra em fundo

Três hurras pela humanidade. Assim sim! Este é um Monumento do séc XXI.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um Stabat Mater fenomenal

Cheguei lá agora: o Stabat Mater de Rossini, com Netrebko, DiDonato, Brownlee, d'Arcangelo e sobretudo a direcção musical de um Antonio Pappano em estado de graça, justamente premiado.

Trailer com entrevistas, excertos e belas imagens de Roma:


DiDonato nos proms, "Fac ut portem":


Aguardo ansiosamente pela nova gravação do Guilherme Tell, a sair em Agosto, mesmo com um cast bem mais modesto.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

É pena, mas o Bloco tem razão

Eurobonds, para criar solidariedade financeira, e desvalorização do Euro. São soluções SOS, brufens, mas estancavam esta maluqueira de lixos e bancarrotas, permitiam ganhar tempo e construir soluções mais sólidas.


Sempre disse: Francisco Louçã pode ser uma peste política, mas de economia sabe umas coisas. Teve razão antes do tempo, continua a tê-la no tempo certo.

A piada toda está em ele querer, afinal, salvar o capitalismo :D

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Tintin revisitado por Spielberg

Hurra! Coisa bem feita!

Já todos sabíamos que Spielberg não é grande coisa quando se toma a sério, nem quando mete dinossauros :(

Mas este Tintin promete! Que animação bonita, usando modelos reais digitalizados. Que perfeição de cenários. As crianças-que-há-em-nós, 50-ões/60-ões, vão ficar deliciadas.





sábado, 9 de julho de 2011

O último Atlantis, arte do séc XXI


Despedida de uma das mais complexas e perfeitas obras da humanidade. Não podia haver maior contraste com o post anterior, e contudo só passaram uns 36 000 anos. Um breve suspiro no tempo.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

As grutas Chauvet: onde a Arte começou ?


Descobertas em 1994, as grutas Chauvet ( de Jean-Marie Chauvet, o espeleólogo que as descobriu com mais dois colegas) são uma das maiores revelações de sempre em arte pré-histórica. A humanidade pode ter nascido em África ou na Ásia, mas a Arte nasceu, tudo indica, aqui perto, a norte e a sul dos Pirinéus. Se Altamira (~ 12 000 AC) ou Lascaux (~ 14 500 AC) já apontavam neste sentido, as pinturas das grutas Chauvet foram datadas de 34 000 AC , segundo a datação mais recente com carbono14 recalibrado. São a decoração mural mais antiga conhecida.

Imaginemos, como o autor do artigo do Figaro (*): há 36 000 anos, na obscuridade e silêncio da caverna, o nosso antepassado Cro-Magnon, já Homo Sapiens e artista, debruçado sobre o fogo, recolhe bocados de carvão com diferentes pigmentações.

Levanta-se, frente à parede, e em poucos traços seguros e firmes traça o contorno de um rinoceronte, depois mistura um pigmento negro para produzir sombreados sobre o fundo claro. Último golpe de génio: um traço gravado à volta do corno salienta mais ainda a sua força.


Até custa a crer que, 20 000 anos antes do Côa, humanos caçadores-recolectores das cavernas tenham atingido tal perfeição: a gravura com pedra, a pintura com dedo, vareta, carvão, soprando pigmento talvez, marcas com a palma das mãos, técnicas mistas, ténicas de esbatido para as sombras, representação do movimento e da perspectiva ( por exemplo, alinhavam vários cavalos uns atrás dos outros!)

Mais: exploravam ao máximo os volumes e relevos naturais da parede da gruta para integrar os animais, que parecem fazer corpo com a rocha. A parede é parte integrante da arte: à luz das tochas, os efeitos de luz e sombra parecem dar vida aos animais.


Ao todo , 425 animais de umas 15 espécies diferentes decoram as galerias. Cavalos, bisontes, cabras, como é habitual; mas impressionam as feras, certamente temidas: felinos, mamutes, rinocerontes, e o temível urso das cavernas, que hibernava no interior da gruta, concedendo-a aos humanos só na primavera e verão !

E como explicar a ausência de emendas, hesitações, o domínio firme do traço? Só por uma "tradição artística" de uns poucos (as pegadas no solo são escassas), que se dedicavam a essa actividade quase em exclusivo ! Essa especialização vai ao ponto de um cuidado quase científico na postura característica dos animais (caça, acasalamento, alerta ) e em detalhes que revelam horas de observação.

Impressionante dinamismo na cena de caça

A Salle du Fond representa uma cena de caça: 16 leões-das-cavernas atiram-se às suas presas, 9 bisontes, alguns representados sobre arestas da rocha. A distribuição dos animais, a preparação de algumas superfícies por raspagem, a organização em painéis, implicam uma visão de conjunto e um projecto artístico.


Desde 1997 que o Estado francês impôs severas medidas restritivas de acesso, para evitar os prejuízos causados em Lascaux. Tanto mais que as pinturas e o solo (com pegadas) estavam impecavelmente conservados, pois a entrada da gruta foi selada há milénios por uma derrocada.

Mas quem quiser "viver" o interior da gruta tem agora à disposição uma reconstituição cuidadosamente preparada, a 3 dimensões, perto do local.


As grutas Chauvet, a nordeste dos Pirinéus, estão situadas num entorno magífico, perto da Pont d'Arc do rio Ardèche, junto às falésias do Circ d'Estre.


Fontes:
(*) - suplemento do Le Figaro, artigo de Pedro Lima, 6/06/2011
- Chauvet Cave, The discovery of the world's oldest paintings
J.-M. Chauvet, E. Brunel Deschamps, C. Hillaire, ed Thames &Hudson