Descobertas em 1994, as grutas Chauvet ( de Jean-Marie Chauvet, o espeleólogo que as descobriu com mais dois colegas) são uma das maiores revelações de sempre em arte pré-histórica. A humanidade pode ter nascido em África ou na Ásia, mas a Arte nasceu, tudo indica, aqui perto, a norte e a sul dos Pirinéus. Se Altamira (~ 12 000 AC) ou Lascaux (~ 14 500 AC) já apontavam neste sentido, as pinturas das grutas Chauvet foram datadas de 34 000 AC , segundo a datação mais recente com carbono14 recalibrado. São a decoração mural mais antiga conhecida.
Imaginemos, como o autor do artigo do Figaro (*): há 36 000 anos, na obscuridade e silêncio da caverna, o nosso antepassado Cro-Magnon, já Homo Sapiens e artista, debruçado sobre o fogo, recolhe bocados de carvão com diferentes pigmentações.
Levanta-se, frente à parede, e em poucos traços seguros e firmes traça o contorno de um rinoceronte, depois mistura um pigmento negro para produzir sombreados sobre o fundo claro. Último golpe de génio: um traço gravado à volta do corno salienta mais ainda a sua força.
Até custa a crer que, 20 000 anos antes do Côa, humanos caçadores-recolectores das cavernas tenham atingido tal perfeição: a gravura com pedra, a pintura com dedo, vareta, carvão, soprando pigmento talvez, marcas com a palma das mãos, técnicas mistas, ténicas de esbatido para as sombras, representação do movimento e da perspectiva ( por exemplo, alinhavam vários cavalos uns atrás dos outros!)
Até custa a crer que, 20 000 anos antes do Côa, humanos caçadores-recolectores das cavernas tenham atingido tal perfeição: a gravura com pedra, a pintura com dedo, vareta, carvão, soprando pigmento talvez, marcas com a palma das mãos, técnicas mistas, ténicas de esbatido para as sombras, representação do movimento e da perspectiva ( por exemplo, alinhavam vários cavalos uns atrás dos outros!)
Mais: exploravam ao máximo os volumes e relevos naturais da parede da gruta para integrar os animais, que parecem fazer corpo com a rocha. A parede é parte integrante da arte: à luz das tochas, os efeitos de luz e sombra parecem dar vida aos animais.
Ao todo , 425 animais de umas 15 espécies diferentes decoram as galerias. Cavalos, bisontes, cabras, como é habitual; mas impressionam as feras, certamente temidas: felinos, mamutes, rinocerontes, e o temível urso das cavernas, que hibernava no interior da gruta, concedendo-a aos humanos só na primavera e verão !
E como explicar a ausência de emendas, hesitações, o domínio firme do traço? Só por uma "tradição artística" de uns poucos (as pegadas no solo são escassas), que se dedicavam a essa actividade quase em exclusivo ! Essa especialização vai ao ponto de um cuidado quase científico na postura característica dos animais (caça, acasalamento, alerta ) e em detalhes que revelam horas de observação.
Impressionante dinamismo na cena de caça
A Salle du Fond representa uma cena de caça: 16 leões-das-cavernas atiram-se às suas presas, 9 bisontes, alguns representados sobre arestas da rocha. A distribuição dos animais, a preparação de algumas superfícies por raspagem, a organização em painéis, implicam uma visão de conjunto e um projecto artístico.
Desde 1997 que o Estado francês impôs severas medidas restritivas de acesso, para evitar os prejuízos causados em Lascaux. Tanto mais que as pinturas e o solo (com pegadas) estavam impecavelmente conservados, pois a entrada da gruta foi selada há milénios por uma derrocada.
Mas quem quiser "viver" o interior da gruta tem agora à disposição uma reconstituição cuidadosamente preparada, a 3 dimensões, perto do local.
As grutas Chauvet, a nordeste dos Pirinéus, estão situadas num entorno magífico, perto da Pont d'Arc do rio Ardèche, junto às falésias do Circ d'Estre.
5 comentários:
Magníficas! Quanta expressividade! Tenho uma amiga que diz que as gravuras do Coa provam que as gentes da nossa terra nunca tiveram "queda" para a arte. E, perante obras destas, dou-lhe razão :))
Joana,
algumas (poucas) gravuras do Côa são de grande beleza, com um traço igualmente magnífico. Mas a sua amiga tem razão - 20 000 anos mais tarde (mas somos capazes de imaginar o que são 2 0000 anos?!!), como de costume, os de cá ainda estavam muito atrás do que se fazia na Europa!
É impressionante, Mário.
(E 20000 anos, mesmo pré-históricos, são muito tempo.)
Belíssimas. Custa a crer.
Fazem-me pensar que se calhar não são os Gregos e os Romanos (por muito que os admire) os fundadores da Europa das Civilizações.
Estes quase-macaquinhos das grutas fizeram subir o meu orgulho europeu (que anda muito por baixo).
Está bem que houve depois arquitectura, escultura, literatura, música. Mas na arte pictórica, nada se equipararia a isto, no mundo inteiro, durante uns bons 35000 anos! Dá vertigens
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