sexta-feira, 30 de julho de 2010

Beethoven (?), por Antonini

Afinal ainda não está tudo dito? Parece que não: ainda há espaço para novas interpretações das sinfonias de Beethoven, com alguma dose de surpresa e reinvenção.

Comecei com Karajan, retrocedi a Furtwängler e aos incomparáveis Kleiber, avancei para Solti e Günter Wand, fui abalado e conquistado pela escola historicista com Gardiner e Harnoncourt, tombei em gloriosa quase catástrofe com David Zinman. Só faltava o Giovanni Antonini dos Giardino Armonico.


Quando soube, previ desgraça: o que eles já tinham feito com Bach...para que se mete um italiano a querer incarnar alemão? Só que desta vez o italiano dirige uma orquestra com instrumentos modernos e boa reputação de rigor e articulação, a de Basileia; et voilá: a coisa não saiu bem.

Antonini revela na 5ª e 6ª de Beethoven alguma mestria mas um conceito interpretativo mal reflectido, incoerente e mesmo falhado de imaginação. Mantendo-se próximo de Zinman (sem lhe chegar aos calcanhares), opta por tempos rápidos cumprindo o metrónomo conforme a Beethoven, evita o vibrato, desequilibra em excesso nos sopros, articula sem agilidade. A pequena dimensão da orquestra é desconcertante, e não compensada (como em Gardiner, Harnoncourt, Zinman) pelo dinamismo dos ataques, que irrompem desconcertados e falhados. Não sei se estamos a asistir a efeitos especiais da Lucasfilms, visto ter tido um resultado mediático apreciável - boa imprensa. Quando os sopros intervêm, o excesso é de mau gosto; quando não intervêm, a seca rapidez sem pausa e o corte radical do legato asfixiam completamente a música, reduzem tudo a um corridinho insosso sem qualquer lirismo. Possivelmente alguém disse isto mesmo anos atrás de Gardiner, mas não era verdade. Agora, chegou o exagero disparatado e as palavras aplicam-se; Beethoven quase em ritmo hip-hop.


Bola Preta

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O sole mio, vê se te encobres !

Aaah, o que eu não dava por umas férias no Ártico !

Decididamente, odeio calor a mais. Mosquitos, incêndios e praias apinhadas. Carros a escaldar. Gente de torso nu em ruas e esplanadas. Gente que que bebe de mais e conduz. A casa feita estufa e o computador esbaforido a soprar ar quente para cima de mim.

Quando reincarnar, que seja no Alasca. Ou, vá lá, na Escócia.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Bach por David Fray: vagas sucessivas de lirismo e sensualidade

Dá gosto ver assim um jovem pianista entusiasmado, tocando Bach ao piano com esfuziante alegria.

Ensaio da gravação de David Fray
Bach, concerto para piano e orquestra em La maior, BWV 1055, 1º and.



Um excerto da gravação está disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=7zPIQKnCePg&NR=1
Música refrescante como as águas do ribeiro...

domingo, 25 de julho de 2010

Bela tradução: as sedas bordadas do céu

Grato a Carlos Pires do Dúvida Metódica, que me forneceu a tradução de Miguel Esteves Cardoso de um dos "poemas da minha vida":

He Wishes For The Cloths Of Heaven

Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,

I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.


                                              William Butler Yeats


Tradução de Miguel Esteves Cardoso:


Se eu tivesse as sedas bordadas do céu,
com bainhas de luz de ouro e de prata,
as sedas azuis e sombrias e escuras,
da noite e da luz e da meia-luz,

deitava-as todas aos teus pés.
Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés.
Pisa com cuidado,


é nos meus sonhos que estás a pisar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Prunus persica, dádiva do verão

Sumarento, perfumado, refrescante, carnudo, doce, liso ou aveludado, o pêssego é a fruta do verão por excelência.

Nectarina e pêssego amarelo

Pêssego "donut"

A "maçã da Pérsia" veio da...China (via Pérsia) para a Europa pela mão de Alexandre o Grande. Protegido e cultivado em grandes pomares pelo general Pompeu, o Grande (o do primeiro triunvirato) em 65 A.C., tema de belas naturezas mortas (Matisse...), o pêssego existe em pelo menos quatro variedades - pêssego amarelo, melocotão, nectarina, pêssego "donut" ( variedade criada em 1975 ).

Pêches, Matisse

Poucas calorias, selénio, muita fibra e vitaminas, mmmmmm - que pêssego! :)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um dia especial, 20/07/2010

Há dias assim, que nunca mais hão de esquecer, dias de graça e encanto para lá do que jamais poderia esperar, dias de prémio mais valioso que a vida e o sol e o mar e tudo...

Angels are painted fair, to look like you;
There's in you all that we believe of heaven, -
Amazing brightness, purity, and truth,
Eternal joy, and everlasting love.



(post dedicado; poema de Thomas Otway)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Morte de uma Árvore

Não me posso queixar de falta de árvores na área onde resido; choupos, carvalhos, jacarandás e outras árvores de menor porte decoram muitos dos arruamentos e esquinas.

Mesmo assim, interrogo-me, tal como no caso dos touros, que prazer se tira da trucidação por moto-serra de uma árvore? Que mal podia ela fazer a alguém, ali tão frondosa, verde, quietinha, a dar sombra gratuitamente quando o sol incomoda?

É bem verdade, como se diz no blog A Sombra Verde, que parece haver uma sanha camarária contra as árvores. Muitas vezes, depois de as derrubar, plantam uns arbustos decorativos mixurucas que se vergam ao vento e não filtram o sol.


Esta da fotografia decorava outrora um espaço onde havia uma esplanada de café, e ao mesmo tempo projectava a preciosa sombra que todos os clientes procuravam, ajustando a posição das mesas. Desde há meses que ficou um espaço árido . Já ninguém lá pára a ler o jornal ou conversar.

Com certeza há uma razão para o abate. Podiam avisar com tempo para ao menos fazermos as nossas despedidas e o nosso luto. Podiam por respeito não deixar um coto do cadáver à vista de todos.

sábado, 17 de julho de 2010

Lições do famoso ensino na Finlândia

Sucesso de 100%, uma escola feliz; este vídeo ajuda a perceber porquê: quadro preto, repetições em uníssono com a professora, laboratórios físicos em vez de simuladores, intensas relações humanas dentro e fora da escola, estabilidade total ao longo do tempo. Tudo ao contrário de cá - novas tecnologias a esmo e ao quilo, turmas enormes, promoção de inamizades ou ódios competitivos e hierárquicos, instabilidade total nas regras, nos currículos, nos espaços escolares, no corpo docente...


fonte: BBC

Regra nº1 - uma pequena, estável e amável comunidade escolar
Regra nº2 - Não passar a vida a mexer no sistema
Regra nº3 - o saber transmite-se fisicamente, de pessoa a pessoa, falando, experimentando com as mãos e os cinco sentidos, e não por tecnologias interactivas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

PIPE ORGANS, um blog sobre música de órgão

PIPE ORGANS - Órgãos de tubos

Instrumentos notáveis e históricos de todo o mundo, com descrição da história, características técnicas e sonoridade de cada um

http://mypipeorganhobby.blogspot.com/

Há órgãos fantásticos em todos os continentes, datando desde 1400 até há poucos anos. Aqui encontramos centenas deles, com fotografias, descrição e ficheiros de audio-vídeo.

O belíssimo órgão da igreja de Sion, 1434 (Notre Dame de Valere)

É pena que não haja nenhum português...o blog salta de Polónia para Rússia. Mesmo assim vale a visita, como se prova com este órgão de 1646 em Alkmaar, Holanda, com o grande Gustav Leonhardt :

Johann Sebastian Bach (1685-1750)
1. Prelúdio Coral "Lobt Gott, ihr Christen, allzugleich" BWV 732
2. Prelúdio Coral "Valet will ich dir geben" BWV 736

Gustav Leonhardt no órgão de van Hagerbeer/Caspar Schnitger, Laurenskerk, de 1646 , Alkmaar

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guimarães na vanguarda

o fim das touradas

Em solidariedade com o Garden of Philodemus, transcreve-se da notíca do Público de hoje:

"Guimarães exclui tourada das festas da cidade

As Gualterianas (...) vão deixar de contar com uma corrida de touros no programa. A decisão é «um sinal de modernidade» , assume o Presidente da Câmara, António Magalhães (...)"

Bem-vinda modernidade; é de pequenos sinais assim que se pode fazer mais civilização.

domingo, 11 de julho de 2010

Deambulações de fim de semana

(à hora dos futebóis)

Este fim de semana esteve bom para caminhadas à beira mar: temperatura agradável, muita gente em casa a ver o Mundial (ou já é sinal de cautela com as poupanças?). Aproveitei para fazer uns 2 Km por dia, o que já é quase inultrapassável para mim ... e levei música no CD walkman e a máquina fotográfica pequenina.
Esplanadas vazias...

A barraquinha das pipocas...





Música a acompanhar: June Tabor "At the wood's heart", Peter Gabriel "Scratch my back", Magnetic Fields "Realism".



sábado, 10 de julho de 2010

Outros lugares:

Å aldeia das ilhas Lofoten e do mítico Maëlstrom

Em tempo de férias, como estou este ano limitado de movimentos, sabe bem viajar pela net para destinos improváveis.

Uma finis terrae do Norte, no termo da estrada europeia E10 , Å é uma cascata vermelha de casinhas de madeira numa paisagem verde-azul.



Å i Lofoten é uma das mais autênticas aldeias piscatórias da Noruega. Tem 33 casas classificadas como património cultural. Å (norueguês å (riacho); pronuncia-se [oː], como eau em francês)





Barco de pescador solitário.

Óleo de fígado de bacalhau (museu local>.

A maioria das casinhas vermelhas (rorbu) dos pescadores são agora cabinas turísticas; aqui a actividade da pesca terminou, mas continua nas demais portos das Lofoten.

Por trás de Å , existe o Lake Ågvatnet rodeado de impressionantes picos. O lago foi escavado por um glaciar, e falta-lhe pouco para ser fiorde: apenas uma estreita faixa de terra o fecha do mar.


The Maëlstrom (Moskenstraumen)

Ao fim da E10 , dá-se de caras com o mal-afamado "Maëlstrom“, uma das mais fortes correntes de maré do mundo, criando redemoinhos que resultam da travagem das marés pela barreira das Lofoten. Descrito em primeira mão por Pytheas há mais de 2000 anos, tem sido ilustrado em mapas antigos com terríveis ilustrações.

Descrições fantasiosas surgiram na literatura geográfica Europeia nos séc. XVII e XVIII. Edgar Allan Poe escreveu um conto chamado ´A Descent into the Maelstrom´ e Jules Verne refere-o em´20,000 Leagues Under the Seas´.
The “swirling, hissing, spinning waters” of the Moskenstraumen.

O estreito tem 4 a 5 quilómetres de largura e 40-60 m de profundidade. A maré enche o fiorde duas vezes ao dia, e a diferença entre maré alta e maré baixa pode ser de 4 metres. Entre a maré alta e a baixa, a corrente muda de direcção, e é então que surgem os torvelinhos.

Mais links:
ttp://tripatlas.com/Moskstraumen
http://www.math.uio.no/maelstrom


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Nova "catástrofe" à vista, LOL ?

Depois das profecias de Nostradamus, do vírus do ano 2000, do 6 /06 /2006, dos asteróides em rota de colisão, do el Niño, de todas as oportunidades perdidas de assistirmos de bancada a um belo fim do mundo, eis mais um Armagedon:

O Sol!
Terminado um período anormalmente longo de acalmia (ver aqui), o Sol entrou numa actividade desenfreada e na manhã de 3 de Julho a NASA registou duas erupções simultãneas de invulgar magnitude, com ejecção simétrica, que assustaram os astrónomos.

Ao que parece, se erupções tão violentas fossem dirigidas no sentido da Terra, muito provavelmente causariam uma catástrofe electro-magnética - pondo fora de serviço tudo quanto é electricidade, aparelhos domésticos, comunicações fixas ou móveis, hospitais, governos, exércitos... caos nos transportes (as bicicletas não eram afectadas!), um silêncio quase total. Um regresso a mais de 100 anos atrás. Ouviríamos de novo os sinos das igrejas, os melros e o vento a soprar sobre as searas (é isto o fim do mundo?).
Não atingindo directamente a terra, teremos apenas um aumento de auroras boreais e alguma perturbação nalgum satélite , degradando o sinal.
Reportagens sensacionalistas típicas:
CBS


FOX
http://www.foxnews.com/scitech/2010/06/10/electronic-armageddon-solar-flares-disaster/

O que pode ser verdadeiramente preocupante são as consequências climáticas de toda esta actividade. E para já, :( temos uma onda de calor em Portugal :(







domingo, 4 de julho de 2010

Guitarra, insisto

Parece que há poucos apreciadores de guitarra clássica por aqui, o que nem admira, mas além do ártico, da ópera, de Haendel e Brahms e Mahler, de Borges e de Blake, de John Wayne e do pudim francês da minha mãe, guitarra clássica é outra das minhas paixões. De adolescente.

John Williams veio há uns anos quase anonimamente à Casa da Música tocar na pequena sala 2 - apinhada - e garanto que nunca tinha ouvido tocar tão bem seja lá o que fôr. Nunca tinha visto uma coordenação cabeça - dedos - instrumento tão alucinante. Nunca tinha ouvido uma sonoridade de um instrumento solo que me enchesse de tão variadas sensações, de tanta riqueza de harmónicos, de rubatos, de vibratos, de uma impossível velocidade de execução.

Também Julian Bream tinha, ainda há mais tempo, feito o mesmo por mim no Casino da Póvoa, a tocar Bach sobretudo...

Em homenagem à guitarra, John Williams no Alhambra
Bach, Preludio da suite para alaúde nº4


Já agora: a versão para alaúde é do próprio J. S. Bach!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Novo record pessoal

medicina 1, natureza 0

Hoje subi (e desci) 15 x 13 escadas, ou seja , 15 andares. A pé ! Estou, é verdade, muito aliviado e a operação resultou em cheio. Nunca acreditei nos "colchões que nos fazem acordar sem dores nas costas": agora, com o mesmo velho colchão, acordo e levanto-me como se nada fosse. Adeus costas empenadas, adeus formigueiros nas pernas. A última ciática foi particularmente insuportável, fiquei com a perna e a anca fora de serviço e nem as injecções Relmus/Voltaren faziam efeito. Recuperei até agora 80% e acho que consigo melhor - só não posso vergar as costas ainda, nem conduzir, nem calçar as meias...

Para os menos impressionáveis. eis um aparelho de artrodese da coluna lombar:

A pressão dos parafusos vai promover a fusão das duas vértebras num bloco, impedindo o desalinhamento e sem prejuízo da mobilidade.

E é assim que cada vez haverá mais velhinhos saudáveis e capazes ( e menos jovens deficientes) com derrota parcial da mãe natureza, ou seja, os jovens saudáveis serão cada vez menos proporcionalmente numerosos, e se isso é bom ou mau levar-nos-ia a um longo e difícil debate - desafio para os amigos do Dúvida Metódica...