quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ópera: quem merece um Wagner assim?


Decididamente não entendo o gosto dos encenadores modernos, que ao contrário dos intérpretes h.i. da música antiga, tudo fazem para revisitar óperas de qualquer época ao estilo modernaço, com os mais horrendos e kitsch cenários e adereços.
Tudo o que seja decadente, feio, grotesco e sujo é moderno e mesmo avant-garde! Convém insistir muito na sexualidade mais exibicionista e repelente possível.

Enfim. Wagner em Bayreuth, 2013, é assim: um posto de gasolina algures nos EEUU, prostitutas e bêbados... como joga isto com música enfaticamente grandiosa ? mal, só pode.


Moda abjecta, só resta desejar que passe depressinha. Porque quem se atreve a encenar "convencionalmente" é adjectivado do pior, retrógrado, suporífero, entediante, burguês, e poucos têm ainda coragem de respeitar a época da composição.

Maus anos para ver ópera. Pena, porque há belíssimas vozes...

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Duas vezes Gulbenkian em 2014


Bom, consegui bilhetes razoáveis para
  • 22 de Fevereiro - Dido e Eneias com os extraordinários MusicaEterna de Teodor Currentzis
  • 24 de Abril - Julia Lezhneva, soprano angelical, em recital Handel
Chamo a atenção para o quase sumiço de bilhetes. Já não consegui para a Criação com Miah Persson.

Lá irei à terrinha do sul que mais se aproxima de capital :)

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Ah, e mudei a Rádio oficial do livro para a RTBF, belga, que tem uma programação e sonoridade excelentes, dá informação sem ser palavrosa e recorre muito ao Concerto Copenhagen e ao Concerto Köln, o que por si já diz tudo.

domingo, 28 de julho de 2013

Kent & Sussex, V:
- Bookshops, tearooms and else


Provavelmente vou ficar por aqui nesta reportagem de férias, tenho outros assuntos a tratar no Livro  :)

The Tiny book shop

Livrarias e salas de chá são os marcos infalíveis de qualquer cidade, vila ou aldeia inglesa. Fico sempre admirado com a vitalidade das lojas de livros, novos ou usados, nas mais recônditas vielas de um aglomerado qualquer.



E muitas vezes mesmo ao lado, cor de rosa ou azul, a também previsível tearoom onde senhoras idosas passam as horas mortas da tarde, e gulosos como eu correm aos scones com creme e compota.

Lewes: livros usados e, ao lado, florista e casa de chá (tudo junto) - a Lewesiana !

Rye: a mais florida

Rottingdean: a mais cor-de-rosa
'Scrumptious' ?! Ena.

Creme, sim, creme de nata, e não natas plastificadas. Abuso um bocado, eu, mas o Earl Grey ajuda a digerir.



Também se pode subir de nível, nas cidades, e ir ao chá num hotel requintado, de charme. Não se fica arruinado e podemos mimar-nos com um serviço atencioso, bom inglês, bela louça inglesa. E também já há expressos bem tirados.



Lewes tem disso tudo, mais as floreiras e as portas bonitas e calçadas de pedra íngremes como nas nossas aldeias de serra. A diferença é que ali ao lado há Glyndebourne.

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Em Tunbridge Wells, saiu-me a sorte grande e tive prendas : dois magníficos livros de poesia, belamente ilustrados, que estavam na prateleira da rua a 50 p. cada ! Custa a acreditar.

Keats, de When the Night doth Meet the Noon :

                               Oh, sweet Fancy! let her loose; 
                               Every thing is spoilt by use: 
                               Where's the cheek that doth not fade, 
                               Too much gaz'd at? Where's the maid 
                               Whose lip mature is ever new? 
                               Where's the eye, however blue, 
                               Doth not weary? Where's the face 
                               One would meet in every place? 
                               Where's the voice, however soft, 
                               One would hear so very oft? 


e Dickinson, de Acts of Light :

                              Beauty crowds me till I die
                              Beauty, mercy have on me!
                              But if I expire today,
                              Let it be in sight of thee -




Um gosto de ler, sim, mas de ver e folhear, também.
E pelo preço de um café - em Portugal, claro.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Kent & Sussex , IV :
- A costa de Eastbourne, paisagem e história


Talvez a melhor área balnear e paisagística da costa do Sussex seja a parte litoral do 'South Downs National Park', em torno de Eastbourne.


Esta estância elistista da belle-époque vitoriana exibe uma frente de hotéis e residências a lembrar as da Côte d'Azur,  e o mais magnífico dos "piers" (pontões sobre estacas mar adentro) que até hoje visitei na costa inglesa. Impressiona a limpeza e o bom estado de manutenção, tanto do pier como da marginal. Mas há mais.

O Pier de Eastbourne

Construído entre 1866 e 1872, com trabalho em ferro do melhor que se fazia na altura, e ancoramento elástico para resistir ao mau tempo.




A glória da 2ª era do ferro !

Dolce far niente à inglesa

A frente marítima de Eastbourne

Vista do alto de Beachy Head
Passa por mediterrânico...

Gente famosa que por aqui andou: Charles Dickens na sua juventude; Conan Doyle nasceu perto e frequentou o passeio marítimo; o explorador polar Ernest Shackleton tinha residência em Eastbourne; Debussy compôs La mer no Grand Hotel, em 1905.
Mas, mais inacreditável,  Karl Marx e F. Engels passavam aqui longas temporadas ! As cinzas de Engels foram espalhadas pelo mar do alto da falésia em Beachy Head, a seu pedido...

A aldeia de East Dean

Um casario bonito no meio de relvados e jardins, num vale viçoso e ondulante.


Casa de retiro de Sherlock Holmes, “a small farm upon the Downs, five miles from Eastbourne”, segundo Doyle.

Doyle nasceu perto daqui, no East Sussex.

Fim de uma tarde quente na Tiger Inn, onde se junta toda a comunidade, e que bem me soube half a pint.

As falésias brancas

Desde Eastbourne para poente, estende-se uma falésia vertical de calcário branco (giz); ao fundo, praias de difícil acesso; no alto, um percurso de planalto ondulado coberto de erva, seara de espigas e árvores esparsas..

Parece que se contam sete "ondas" de falésia, daí o nome.


Situada nos arredores de Glyndebourne (festival de ópera) e Herstmonceux (castelo e jardins), numa costa precipitosa e coberta de verdura, Eastbourne é o centro urbano mais atraente deste litoral.

Sobre Lewes, cidadezinha mais próxima de Glyndebourne, escreverei em breve.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Uma galeria em Brighton e dois poemas de Nancy Campbell


Em Brighton visitei a galeria  ONCA, onde sabia estar a correr uma exposição - Making Tracks - com trabalhos de Nancy Campbell. É uma escritora de Oxford, que eu conhecia por contactos na blogosfera desde que esteve residente em Upernavik, Gronelândia, como curadora do pequeno museu. O Ártico é um dos seus temas recorrentes.

Nancy Campbell está também ligada à publição artesanal de livros, que são em si obras de arte, manufacturados com criatividade em materiais reciclados.


Não foi fácil, mas lá encontrei a St George's Place.


The Night Hunter, um poema em painéis que se desdobram, para ser lido suspenso do tecto :

Mais sobre este "livro" aqui.


The Suitcase Library


Uma instalação com livritos de esboços e pequenos poemas em folhas verdes com textura de papiro, enroladas no gargalo de frascos de vidro: irresistíveis !


Outro poema de Nancy Campbell:


"Obituary"




domingo, 21 de julho de 2013

Kent & Sussex , III : Castelos e jardins floridos


Este vai ser um post florido de muitas cores. Talvez um dos mais bonitos de sempre aqui no Livro - exceptuando os de poesia, claro.

Três castelos - Sissinghurst, esguio e apalaçado, Herstmonceux, grandioso e bem proporcionado, e Bodiam, uma fortaleza - e outros tantos jardins, foram um dos pontos altos desta minha estadia inglesa. Canteiros e flores, havia-os por toda a parte: nos pequenos quintais das moradias, nas bermas de estrada, nos floreiras de rua ou suspensas de postes de iluminação...


O Kent é o jardim de Inglaterra, dizem eles, mas o Sussex não fica atrás.

Jardim de moradia, Leigh

Mas o maior encanto são os jardins de castelo !

Comecemos por Bodiam, o menos florido mas muito bem enquadrado por um largo fosso e jardins relvados salpicados de monumentais carvalhos.

Bodiam é um castelo medieval do séc XIV, construído para a defender o litoral sul contra invasões francesas durante a guerra dos 100 anos. Nunca serviu para tal.

É de planta quadrangular, sem torre de menagem; os aposentos ficavam nas torres, ao longo dos muros e no pátio interior. Com invulgar conforto, dispunha de 33 lareiras e 24 lavabos com saneamento (para o fosso circundante).
Apesar da aparência, as paredes não tinham espessura suficiente para resistir a artilharia. Abandonado, entrou em ruína e só recentemente foi recuperado.

Enormes carvalhos centenários dão sombra aos relvados circundantes.

Sissinghurst, Kent

O castelo é só isto - uma torre-mansão isabelina (séc XVI) , com uma sala de chá lá no alto - e já estava fechado.

Também desta vez só por sorte pudemos ter acesso ao jardim. Atrasos, estradas complicadas, e chegámos às 6 da tarde (fechava às 4h ) sem esperança. Outra vez, muita gente bem vestida a beber champanhe... o castelo tinha fechado mas havia um evento particular , muito "posh" - Aston Martins, Maybachs, Jaguars e assim.
Como estava tudo "aberto" aos participantes, não foi difícil agir como "infiltra" e, jogando às escondidas, ir disfrutando o fim de tarde entre relvados e molduras de belos arranjos florais.





O caramanchão de rosa mulliganii, no jardim branco:

Até as sebes e cancelas têm encanto - aliás, adoro cancelas, são uma beleza na paisagem rural.

Havia ainda uma antiga quinta, com um conjunto de Oast Houses - as edificações típicas da zona onde se secava o lúpulo antes de fermentar, recorrendo a fornos aquecidos a carvão, dotadas de chaminés especiais de ventilação.

Herstmonceux, Surrey

Construído por um cavaleiro abastado e ostentativo no séc. XV, foi a mais luxuosa moradia do país na altura. É um castelo Tudor, todo em tijolo, o mais antigo edfício em tijolo do país (~1441), que foi utilizado durante anos no século XIX pelo Royal Greenwich Observatory (ainda lá estão os telescópios), e acabou agora comprado pela Queen's University do Canada.

Já apareceu em vários filmes, como as séries de Narnia, os Harry Potter...

Este sim, uma magnífica construção, ao mesmo tempo sólido, equilibrado e de bela arquitectura.

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Aqui encontrei os jardins mais lindos que já vi. São recintos e mais recintos, separados por sebes ou muros forrados de flores,  com magníficos arranjos.

Entrada:

O Roseiral

Algumas esculturas pontuam o jardim
(Vale a pena ampliar)

O jardim das borboletas


E de facto elas andavam lá - borboletas castanhas malhadas.

Espaço Zen
Camomila
Não sei o que é , mas são fantásticas

e nunca mais acaba...


O Jardim Mágico


Outro mundo, subitamente
Sim, ouviam-se as fadas a esvoaçar mansinho.
A magia anda no ar

Na hora de sair, havia, claro, uma casa de chá.

Se há dias felizes, este foi um deles. 



Adorei.