quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ópera: quem merece um Wagner assim?


Decididamente não entendo o gosto dos encenadores modernos, que ao contrário dos intérpretes h.i. da música antiga, tudo fazem para revisitar óperas de qualquer época ao estilo modernaço, com os mais horrendos e kitsch cenários e adereços.
Tudo o que seja decadente, feio, grotesco e sujo é moderno e mesmo avant-garde! Convém insistir muito na sexualidade mais exibicionista e repelente possível.

Enfim. Wagner em Bayreuth, 2013, é assim: um posto de gasolina algures nos EEUU, prostitutas e bêbados... como joga isto com música enfaticamente grandiosa ? mal, só pode.


Moda abjecta, só resta desejar que passe depressinha. Porque quem se atreve a encenar "convencionalmente" é adjectivado do pior, retrógrado, suporífero, entediante, burguês, e poucos têm ainda coragem de respeitar a época da composição.

Maus anos para ver ópera. Pena, porque há belíssimas vozes...

8 comentários:

Paulo disse...

Parece que a encenação tem sido muito apupada e as críticas que tenho lido são em geral para o negativo.
Acabei de ouvir em directo o I acto do Crepúsculo e houve uns buus muito sonoros.

Anónimo disse...

Pavoroso, horroroso, revoltante. Prefiro nem olhar e viver em negação. Isso não aconteceu!

Mário R. Gonçalves disse...

Paulo, sim, mas também já se tornou costume fazer buuu. Oxalá seja para a encenação.

humming, :D

Gi disse...

Se quiserem transpor para os dias de hoje, também é possível (certas óperas - outras deixam completamente de fazer sentido) sem terem de ir buscar o que há de mais feio.

Mário R. Gonçalves disse...

Kalashnikovs e crocodilos: é a primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa em encenar Wagner !?

Peter Sellars, em comparação, parece conservador...

Paulo disse...

E sexo oral e Bratwurst.

João Alves disse...

Nada tenho contra encenações "modernizadas", desde que façam sentido. O anel, por exemplo, é um mito intemporal, logo... mas tudo o que é gratuito tira-me do sério. Mesmo que convencional. Numa produção da Tosca no met, Scarpia beija a imagem da Virgem na boca. Nenhum beato falso como Scarpia, faria tal coisa. Felizmente que no Scala, onde vi a mesma produção, corrigiram a patetice. Infelizmente corrigiram também o final da cena do assassinato de Scarpia. O do Met tinha muito mais força (vi no Mezzo). Compreende-se que sendo a ópera um espectáculo com pouca novidade se tente obter alguma com as encenações, mas devia haver mais inteligência e cultura por parte dos encenadores.

Mário R. Gonçalves disse...

Sem dúvida, João. Mas acha mesmo que a ópera precisa assim tanto de novidade? Para quem? Só se for para os frequentadores compulsivos que já viram o mesmo 50 vezes.

E há novidade sempre - nas vozes, não há duas grandes interpretações vocais idênticas - e na direcção de orquestra - parece que este ano foi excelente em Bayreuth, mais um motivo para lamentar a estragação cénica.

No século passado houve grande variedade de encenações - muitos Cosi, muitos Giovanni, muitas Toscas e Traviatas - sem ser preciso fazer escândalo gratuito.