Seja então por aqui que começo. Estrada litoral a poente de Brighton, à procura de indicações para Lancing - para a frente e para trás, por rotundas e cruzamentos ao engano, Lancing North, Lancing South, nada disso. A paciência a esgotar - e a vontade de desistir a crescer, eram 5, eram 6 h da tarde, nada de College. Mesmo que o avistasse longe, ao fundo, na encosta, seguia sempre sem atinar com o acesso. 'A esta hora claro que já não há visitas, mas ao menos saber onde fica e voltamos amanhã'.
- Olha ! Lancing Airport, "click", sim, li que era ao lado do aeroporto, o mais antigo (1911) aeroporto operacional do mundo !
Agora zigzagueamos por estradas rurais, verdinho, castanheiros, prados, sebes, ribeiros, ovelhas e canteiros floridos, sempre. Mais enganos, volta atrás, aqui também não, será aqui?
UFFF ! Lancing College ! Acelero rampa acima, dois jovens colegiais muito fardadinhos, ao longe vejo gente vestida de cerimónia. "Há casamento?...".
Não:
- Are you for the concert, sir ?
Concerto, eu? se nem ao local sabia chegar !
- Yes, right now at half past six. I think you can still buy tickets at the door.
Eram 6 e 25, após horas de estrada à procura, quase a voltar para trás, tínhamos chegado just in time for the concert !
Atarantado com os fraques e as toilettes, perguntei se podíamos entrar "assim", de pólo e sapatilha. " Yes you can of course, it's perfectly all right". Shame on me: as toilettes eram dos músicos, o público estava todo ligeiro ou desportivo, com os 26º lá fora.
Ah, só 16 £ ! Com concerto, visita livre e demorada fruição da capela, fóra de horas, com a luz crepuscular... dia de sorte, está visto.
Era o concerto final de um festival local, sendo os principais intervenientes a Bernardi Chamber Orchestra dirigida por James Whitbourn, e dois coros - um deles americano, de Princeton.
Começou com um God Save the Queen de deitar a casa abaixo, órgãos em força máxima.
De arrepiar, côro e órgão por aquelas paredes acima...
O melhor foi a Cantata a St. Nicolas, op 42, de Britten. Foram usados dois órgãos e dois coros - um à frente, outro na galeria de trás sobre a entrada. Estereofonia sublime. Não há som igual a este.
Perdoo-lhes os infindáveis discursos de agradecimento, um pouco paroquianos - lá como cá -, mas enfim, não estamos em Londres.
O Colégio de Lancing é um colégio secundário privado para alunos de idades 13 a 18, com ênfase no ensino artístico - música, teatro e pintura - e desportos. A prática religiosa anglicana é obrigatória, e os custos £30.000 anuais (há muitos bolseiros).
Entre os alunos célebres, o grande tenor Peter Pears, ou a escritora Evelyn Waugh.
Como afinal vinha só ver a capela neo-gótica, cá vai:
Construída entre 1848 e 1911, inspirada no gótico francês devidamente "abrutalhado" pelos ingleses, o edifício estreito e alto precisou de alicerces com 21 metros de fundo.
A nave tem 27 m de altura. A espectacular rosácea de 10m é a maior do país.
A capela é muito rica de vitrais; este representa St. Nicolas, o santo patrono, também protector dos marinheiros, rodeado de imagens alusivas.
Situado no alto de uma colina, entre bosques e verdura campestre, eis um belo sítio para estudar.
(Fotos minhas)
5 comentários:
Quer dizer que o Mário ainda não se rendeu ao GPS? O meu, depois de uns enganos iniciais antes de eu perceber como configurá-lo, tem sido uma enorme ajuda em viagem.
Ainda bem que acabou por chegar ao destino e ter uma bela surpresa.
Nunca li nada do Evelyn Waugh, e mal me lembro da série que fizeram a partir de Brideshead revisited, talvez seja altura de o "revisitar".
Gi, o GPS é uma grande invenção sim, mas o Hyundai i10 que me custou 140 € de aluguer não dispunha dessas mariquices...nem de espaço para malas, aliás :(
Ahahah (para a primeira parte do post)
Quanto ao concerto, que sorte!
Hehe, alugar um carro também exige certos cuidados ;-)
Tudo se resolve... pelo melhor. Com GPS tinha ido lá direitinho no dia seguinte, e perdia o concerto !
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