sábado, 31 de agosto de 2019

31 de Agosto - 11º aniversário !


Sim, comecei nisto a 31 de Agosto de 2008. Para comemorar, deixo aqui as Estatísticas do Livro de Areia:

Visitas:
a caminho das 350 000, em 11 anos !!

Post mais vistos:
- Paul Klee e a Música: quadros que se ouvem, 4 Fev 2012 - 2139
- O Arminho do Ártico, 20 Nov 2011 -  1429
Portugal em gráficos, 20 Abr 2011 -  1263
- Oymyakon, o Pólo do Frio, 22 Dez 2010 -  1083

Post mais recente acima de 100:
- Os lacados de Takahashi -12 Mar 2019 - 130

Post mais recente acima de 1000:
- O Leopardo das Neves, 13 Ago 2016, 1061

[este só por si desmente a baixa de visitas por 'sillly season' ]

Post mais comentados:
- A Europa e a música - um mapa britânico, 21 Jan 2013 - 13 
- Apoteose Grigory Sokolov na CM, 19 Mar 2012  - 11
- Biblioteca inesperada: 'Betty's Reading Room', 16 Mar 2014 - 10

Origem das visitas:

   E.Unidos
    97893
   Brasil
    75060
   Portugal
    73002
   Rússia
    18341
   Alemanha
    12223
   França
     8035

Engraçado que dos Estados Unidos, Brasil e Rússia venha uma maioria (uns 190 000) e nunca comentem. Serão visitas acidentais?

Aos meus visitantes regulares, os melhores navegadores do mundo !, uma abraço de telúrica gratidão e desejo de bons ventos e rotas venturosas.


quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Dois posts belíssimos do blog de Christine Croucher


Christine Croucher é uma fotógrafa Canadense de Toronto, que tanto viaja às terras do Norte como também a Portugal. Um dos seus posts deste ano é dedicado à Driftwood, a madeira à deriva que dá à costa no ártico:
http://www.christinecroucher.com/blog-1/2018/5/11/driftwood-a-story-of-trees-water-storms-and-time


'White, smooth, and sculpted - and now mostly out of the water - this lovely piece still decorates the beach, hopefully for some time'.

Outro é este sobre a fotogenia da neve:
http://www.christinecroucher.com/blog-1/2018/2/21/photographing-in-the-snow
 
'Grasses along the edge of the dune':

Mais parece um quadro naïf.
Bom fim de Agosto.

domingo, 25 de agosto de 2019

Olafur Eliasson em Serralves, uma modernidade bonita para variar.


Olafur Eliasson (n. 1967) é um artista dinamarquês que desde 1967 tem estúdio em Berlim; as suas obras têm sido expostas nos melhores museus do mundo, do MET à Tate Modern ( a decorrer). A espacialidade, desenvolvida em instalações de materiais variados em grande dimensão, e o efeito cénico surpreendente em integração na paisagem, parecem ser as suas linhas de criação. Está com algumas obras agora em Serralves, e gostei de as ver. Aposta em formas de beleza, com uma dinâmica elegante e harmoniosa - isso agrada-me, ao contrário do kitsch parolo que por aí abunda.

A exposição chama-se "Future is now". No interior há apenas uma sala com três obras, reflectidas em grandes espelhos que dão uma ilusão de enorme espaço, projectando n vezes as curvas dinâmicas das peças em arco expostas.

Entra-se assim:

Yellow Forest, 2017

Um círculo de terra com vasos de bétulas, cortada a meio por uma caminho de passagem e entrada para a exposição.


Entrada para o futuro ?

O futuro ? "The listening dimension", 2017

"Efeito espacial" bem conseguido, os anéis flutuantes e seus múltiplos duplicados.

Passando ao jardim, começo por esta pérgola em curvas hiperbólicas lembrando um tornado, ou um buraco negro, ou um torvelinho... uma boa ilustração da geometria hiperbólica de Lobatchevsky:

Na avenida principal, "The curious vortex".



Num ajardinado mais amplo, ao lado do edifício, está este conjunto de três esculturas em laços contorcidos, "Human time is movement":

São as três estações, mas qual é qual?

Bonito, muito bonito mesmo. As formas são produzidas por processos matemáticos.



Um bailado de voltas e contravoltas.


-----------------------
A fórmula da Clelia:


Decoração de Eliasson no edifício Bloomberg de Londres.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Ferrara, uma italiana admirável


 Mais um regresso ao passado, então.

Era em 2011, e na bela Ferrara não encontrei multidão de turistas. nem lojas de pechisbeque, nem tuktuks. O que havia, era italianos, muitos, com ar feliz de lá viver, uma riqueza arquitectónica deslumbrante e um centro urbano amigável, sem carros, que respira tradição e gosto.

Cidades assim fazem de Itália o melhor país do mundo, digo eu. Visitei Ferrara durante uma estada em Bolonha que foi uma das minhas viagens de férias mais ricas de arte - estive também em Ravenna, claro. Mas hoje quero lembrar, pelas fotos que lá fiz, Ferrara.

Uma das ruas mais bonitas e frequentadas,  Corso Ercole I d'Este


Tem mais de 130 000 habitantes, a que se soma a população universitária. É uma cidade plana, perto do rio Pó e da costa oriental, e é património da humanidade da UNESCO - mais uma razão para me admirar a ausência de turbas. Castelo, catedral, praças, loggias, arcadas, ruas sombrias que oferecem comércio que já vem do século passado. Cinesi, niente. Estudantes e bicicletas - é uma cidade universitária, a segunda de Itália. Um paraíso, pelo menos para quem está de visita por um dia.

Foi pela Via della Luna e Piazza della Republica que chegamos ao centro:



Seguem-se a Piazza Savonarola e a Piazzetta del Castello.

Piazza del Castello. Poderosa. Que equilíbrio e harmonia.

A estátua do mártir dominicano Girolamo Savonarola (Ferrara, 1452).

O Castello Estense (da família Este) foi mandado construir em 1385 por Niccolò II d'Este, marquês de Ferrara, para proteger a sua família da população revoltada. Se de início era destinado a funções defensivas (daí o grande fosso), no século XVI já era usado apenas como residência.

Onde? Só pode ser em Itália.

Sobre as pontes de entrada na fortaleza foram sendo edificadas mais torres. Numa delas funciona agora uma bela cafetaria.


Como chegamos à hora de fechar, não foi possível a visita. Seguimos a pé pelo Corso em direcção à Catedral.


Que luxo de passeata. É tudo tão bonito que dói. Nunca mais houve como na Renascença uma escola de planeamento e arquitectura que conseguisse tanta e tão amirável arte urbana.


Impressiona a espacialidade, a largueza que esta arquitectura renascentista garantia (ao contrário da estreita Florença). Também impressiona o silêncio que se ouve, sensação estranha no centro de uma cidade: um silêncio que ecoa nas pedras, e que deixa até ouvir conversas afastadas.



A beleza da luminosidade coada de Março.


De frente para o Corso de Porta Reno, uma das portas de entrada medievais.


Piazza della Catedrale e Palazzo Comunale:



Glória aos Este, à maneira romana. A estátua é de Niccolò III.

O Palazzo Comunale era onde a família Este vivia antes de se resguardar no Castelo. Agora é a Câmara. Vejam este esplendor de formas e texturas.
E chegamos à
Catedrale di San Giorgio


A Catedral de S. Jorge é gótica, construída entre os séculos XII e XIII, mas assenta sobre uma base românica. É um exemplo da transição entre os dois estilos. A torre sineira é mais tardia (renascentista), e destoa do resto do edifício.



O portal de entrada é guardado por belos leões em pedra mármore.


Além de guardiões do templo, são leões 'stiloforos' - que suportam colunas, como os de Bérgamo por exemplo.

Mas ... são cópias! Os originais, corroídos, estão no museu da catedral.

De fora, mármores brancos levemente róseos.

Dentro, azuis e amarelo-dourados, que me lembram o Galla Placidia na vizinha Ravenna. Mas o interior é barroco, devido a um restauro em 1712 depois de um incêndio. Desilude.



A parede lateral da Catedral dá para a Piazza Trento e Trieste; uma longa arcada sobre colunas encimada por decoração de arcos e colunas em baixo relevo, um conjunto único nas cidades de Itália:



A Loggia dei Merciai, na base, é um vestígio da parte românica da catedral. Assenta em frágeis colunas de marmore branca, que parecem mal amanhadas. Ao longo da galeria funcionava uma espécie de feira medieval, onde os comerciantes montavam lojas porta com porta. Hoje são lojas de design, mais requintadas.


Estranhamente, a torre da catedral, que não é nada bonita (ficou por acabar), está relegada para meio da Piazza, no fim desta galeria.



Depois, vagueámos pelas ruas circundantes, estreitas, muitas delas vazias, algumas com passagens sob arcos.

Via Guglielmo degli Adelardi


Muitos 'ferrarese' e muitas bibicletas, numa cidade cómoda, de praças soalheiras e ruas sombrias. Não é só Veneza que se livra do trânsito infernal.

Via delle volte, um arruamento medieval mal afamado. Por cima dos arcos, através da rua, eram armazéns; de lá os comerciantes rapidamente traziam mercadoria para a loja em baixo.

Via San Romano, talvez a rua antiga mais bonita de Ferrara. Padarias e mercearias, bares, joalharias, longas arcadas dos dois lados da rua.

Um dos palácios de Ferrara, o Pallazzo Paradiso, é há muito a Biblioteca Comunale, pertencente à Universidade. Foi frequentada por Copérnico e Paracelso. E é muito frequentada pelos estudantes, como se nota.



A Universidade foi fundada em 1391. Os departamentos de Matemática, Arquitectura e Medicina têm reputação internacional. Entre os notáveis que nasceram ou estiveram em Ferrara, contam-se Tasso e Ariosto, dramaturgos e poetas; Frescobaldi e Amato Lusitano, músicos; Boldini, pintor retratista da Belle Époque; Paracelso, médico, e Antonioni, cineasta.



É verdade que fiquei enamorado de Ferrara. Por isso lhe quis prestar aqui tributo, passados já 8 anos, aproveitando também para refrescar a memória.


----------------------------------
Apetece-me ainda comentar como eram civilizados os ciclistas de Ferrara. Não faziam gincana à volta de quem caminhava, andavam sossegadinhos e vagarosos, nunca nenhum me incomodou (nem vice.versa). Tinham e usavam campaínha. Nada como cá, à selvagem.