quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Pompeia em Oxford - a 'Última Ceia'



O excelente Ashmolean de Oxford exibe até Janeiro "Útima Ceia em Pompeia", reunindo espólio do museu com objectos provenientes de Itália (Nápoles, Pompeia e Paestum) com que pretende ilustrar os hábitos quotidianos da cidade - trabalho, lazer, comidas e bebidas - nas vésperas da erupção. Não irei até Oxford, mas não deixo de dar novas aqui e documentar um pouco.


Desde o século IV que Pompeia, antes povoada em parte por gregos e etruscos, estava assimilada e integrada no espaço romano. A cidade de Pompeia era um paraíso meridional para os romanos: terras férteis de vinha e olival de um lado, e a baía de Nápoles, de pesca abundante, do outro, forneciam fartura de vinho, azeite, peixe e moluscos. A cidade podia até exportar os seus produtos para todo o Império.
Garrafa de vidro com azeite de há 2000 anos, ainda fechada.

As evidências desta  prosperidade ficaram soterradas sob camadas de cinza - restos de mesa no triclinium, comida carbonizada na cozinha, cenas de festim em frescos e mosaicos. A moradia mais refinada - a villa - resistiu melhor ao fogo e às cinzas, e muitas das suas paredes revestidas de belos frescos revelam cenas da vida doméstica. No século XIX , os arqueólogos victorianos atribuiram nomes romantizados a essas moradias - casa dos Mistérios, casa dos Amantes Castos, casa do Fauno, casa do Poeta Trágico; são dessas casas a maioria das decorações em exposição. Algumas peças já as tinha visto há anos em Madrid, numa outra magnífica exposição de que dei conta aqui.

"Tablinum" da casa de Marcus Lucretius Fronto, Pompeia, 35-45 AD

Casa dell'Efebo

A estátua de bronze - um requintado suporte de lamparina - veio da Casa do Efebo.


Isis Fortuna protegendo um homem cercado de agathodaemones (espiritos-serpente benfazejos das vinhas e campos de cereais):


Um dos frescos mais significativos é este da distribuição de pão na casa do padeiro (AD 40-79):
O fresco foi descoberto no tablinum (escritório ou sala de negócios) de uma casa modesta; representa um balcão de padaria onde estão empilhados pães de grande formato, enquanto ao lado está um cesto de paezinhos pequenos. O padeiro oferece um pão a uma de três pessoas em traje pobre de viajante.


A Villa dei Misteri

O grande painel de fresco Dionisíaco.

Casa de família abastada, foi das menos atingidas pela erupção, e tem alguns dos mais belos frescos de Pompeia. Estes são do triclinium, a sala de refeições.

Um rapaz lendo os rituais da iniciação ao culto de Dionysos-Baco. Notável a mão carinhosa da sacerdotisa sentada sobre o ombro do rapaz.

 
Oscillum de mármore com sátiro deitando vinho numa cratera (cálice de mistura).  50 BC – 50 AD

Fresco de Herculaneum com uma 'carta de vinhos', à porta de uma taberna.

Taça de vidro azul com pintas, 50 AC - 50 AD

Taças de prata dourada decoradas com moldagens repoussé de folha de oliveira, vinha e murta. 50 BC – 150 AD (Museu Ashmolean)

Este mosaico polícromo (100-101 AC) mais parece um catálogo da vida marinha, ou um menu de especialidades do mar mediterrâneo: robalo, polvo, lula, camarão, dourada, solha, raia... Casa do Fauno, Pompeia.

Uma técnica de mosaico admirável.

Um dos frescos mais bem conservados é o do Galo a debicar figos, peras e romãs; estava na Casa dos Amantes Castos (Casa dei Casti Amanti); o nome poético designa afinal a moradia de um padeiro.

Coelho mordendo figos.

A carne consumida em Pompeia era sobretudo de pássaros, galináceos e coelho. Apreciavam muito um ratinho, o leirão, recheado com carne de porco picada: um pitéu... mas ainda pior era o muito cheiroso garum, um molho à base de restos de peixe fermentados. O odor das cozinhas devia ser nauseabundo!

Uma das mais bonitas imagens de fresco, esta pomba de cabeça negra no fresco da sala de jantar da faustosa Casa do Bracelete Dourado (Bracciale d'oro).

--------------------------------
                                Catálogo disponível no site do Museu.

Outras fontes:
http://www.alaintruong.com/archives/2019/07/26/37523137.html
https://twitter.com/pompei79/status/1154481018998423553

Sem comentários: