quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Um dia fui até Crovie, Aberdeenshire. Que aventura...


Foi em 2002 (já parece há uma eternidade!) que visitei a região escocesa de Aberdeenshire. A partir da linda capital universitária Aberdeen, muitas estradas percorri, litorais e interiores; hoje vou recordar uma excursão à costa Norte, quando visitei aldeias de falésia (cliff villages) como Crovie, Pennan e Gardenstown. Castelos e destilarias da Escócia, todos conhecem; estes recantos, talvez não.

Aberdeenshire, estrada para Pennan

De Aberdeen saí para Norte em direcção a Pennan, a primeira das aldeias; depois, para poente, a estrada costeira vai percorrendo as outras povoações. As fotos são fraquitas, paciência.


Pennan é a mais 'famosa' por ter sido onde decorreu a filmagem de Local Hero, um filme ecológico 'avant la lettre' que se tornou filme de culto. Chega-se de estrada pelo alto da falésia, com uma vista em plongée que já vale a viagem.


Pennan
Coordenadas: 57° 41′ N


É uma pequena aldeia piscatória no fundo de uma escarpa, ao longo de uma única rua que percorre a orla marítima. Uma fila de casas brancas ao longo da rua, entre o mar e a encosta, e é tudo.



Existe ainda uma tradicional cabine telefónica vermelha. Mas mesmo essa 'atracção' só lá foi posta depois do filme, em 1989, pois todos os visitantes perguntavam pela famosa cabine que tem grande protagonismo na narrativa.



Já não há actividade de pesca a não ser algum particular por passatempo. Depois da trágica tempestade de 1953, a maioria das casas foi restaurada para veraneio.

Pennan ficou neste estado com a Grande Maré de 1953.

Uma imagem do filme Local Hero:


Mas era Crovie que eu tinha escolhido como destino principal; a localização e o cenário ainda são mais admiráveis.


Aninhada numa apertada concha do Mar do Norte, no fundo de uma falésia quase a pique, Crovie é uma das mais bem conservadas aldeias piscatórias da Europa.

Crovie
Coordenadas: 57° 40′ N



Crovie nasceu numa época em que não havia estradas e o mar era a única via de comunicações e transporte. Isso obrigava a construir pequenos portos murados onde fosse possível, como foi o caso nesta concha abrigada.



Como aldeia de falésia, esta é mesmo reduzida a uma frente de casas, separadas do mar do Norte por uma faixa tão estreita que não permite construir uma rua transitável; os carros têm de aparcar mais acima, nas traseiras das casas. Existe apenas um caminho pedestre ao longo da frente marítima.


A maioria das casas está de empena virada para o mar, protegendo as fachadas principais. Aqui não há rede nem para telemóvel nem para internet; é preciso ter um barco e passar o tempo sobre as ondas, quando se pode.



A aldeia foi fundada por camponeses que perderam as terras, convertidas em pasto de ovelhas pelos novos proprietários. Foram subsistindo na actividade de pesca (bacalhau, arenque) e acabaram por ter uma frota própria. Mas a pescaria terminou em 1953, com a super-tempestade North Sea Flood , que, além dos barcos. arrasou várias moradias e obrigou os habitantes a recuar ou retirar-se.






Também algumas das casas são agora de alojamento temporário. É preciso dar muito valor a três coisas: isolamento, sossego e mar.
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Cancela directa para o mar.

O transporte faz-se com carrinhos de mão...



Continuando pela costa, segue-se Gardenstown, que depois das duas cliff villages parece quase vulgar, e não merecia referência especial a não ser porque foi lá que almoçámos, no Harbour Café:

Tem um terraço com vista do portinho, onde soube bem uma pint com fish and chips. O sol é que estava indeciso, fugidio.

Aqui ainda há actividade piscatória.

MacDuff
Coordenadas: 57º 40' N
População: ~ 4 000

Sorte com a luz...


Esta é uma cidadezita plana, com um porto pesqueiro movimentado onde operam ferries para as Shetlands e Orkneys. Tem alguma graça a frente portuária.


E fomos terminar a jornada em

Cullen
Coordenadas: 57° 41' 30'' N
População: ~ 1 500


Esta vila ocupa uma vasta e cénica baía, sobre um terreno em declive suave.

Castle Street, Cullen


Descemos da A98 por Castle Street; eram horas de lanche tardio, e parámos numa casa de chá que suponho já não existir; ou talvez seja esta que se chama Rockpool Café. De qualquer forma foi parecido com isto:



Há dois cenários notáveis em Cullen: os telhados do casario com as suas chaminés em contraste com o mar; e o viaduto do caminho de ferro, já desactivado, cujos arcos atravessam a povoação.



Foi a máxima latitude e a máxima distância onde cheguei no Reino Unido.

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Não é Itália, não tem catedrais nem museus; mas adorei esta passeata de um dia por um recanto longínquo da bela Escócia, que também é inconfundivelmente Europa.



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