sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ora até que enfim...

que alguém fala sem papas na língua e faz um retrato fiel do ensino em Portugal: Paulo Guinote, de A Educação do Meu Umbigo, no Plano Inclinado de sábado passado na SIC Notícias. Não é hábito no Livro de Areia publicar actualidade politica, mas vale a pena repetir aqui o video publicado no Rerum Natura, com a devida vénia:



Já agora, agradeço a máxima divulgação.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Por falar em vulcões: o Beerenberg, na ilha Jan Mayen



Um vulcão activo, o Beerenberg (2277 m), domina a ilha europeia de Jan Mayen. É o mais nórdico dos vulcões activos no planeta.

Jan Mayen é uma pequena ilha (380 Km2) ártica e estéril, coberta de gelo excepto nos meses de verão onde exibe algumas ervas e musgos. Situada a 71°N , 8° 30' W, ergue-se inesperadamente do Atlântico Norte, 950km a oeste da Noruega e 600 km a norte da Islândia. É o lugar mais remoto de todo o hemisfério norte, muito acima do círculo polar ártico e a dias de viagem de qualquer outro local.

Geograficamente, o mais notável é o Monte Beerenberg, cujo topo (a cratera vulcânica) está coberto por uma capa de gelo que envia glaciares em todas as direcções. A paisagem do resto da ilha, quase rasa, é de pedra de lava negra e musgo verde. Um glaciar precipita-se do alto da cratera para o mar.

Jan Mayen está sob soberania da Noruega desde 1922. É habitada desde 1912 por uma equipa de investigadores - actualmente são 18 - que opera as estações de rádio, meteorologia, vulcanologia e marítima e mantém as infrastructuras - edifícios, pista de aterragem, central de energia.

A cratera principal - vê-se o início de um dos glaciares.

Do Beerenberg conhecem-se 7 erupções entre 1732 e 1985. As mais recentes foram em 1970 ( a mais forte) , 1973 e 1985.
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A erupção de 1970 foi a única que mereceu cuidada observação e atenção da Europa:

Olonkinbyen (Olonkin City) é o nome da base permanente onde habita o pessoal científico que opera as diferentes estações de medida. Além de escritórios e laboratórios, dispõe de inesperado conforto - biblioteca, bar, sala multimedia, ginásio, sauna, amplas salas de convívio e refeitórios, corredores decorados, um museu e uma piscina!


Um lugar de mistério e desolação, aventura e ciência. Podia ser esta a Última Thule.


Mapa:

domingo, 25 de abril de 2010

Liberdades

A liberdade, para ter sentido numa sociedade organizada tem de consistir numa amálgama de hierarquias de liberdades e de restrições.
Samuel Hendel

A liberdade vive no coração, na acção e no espírito dos homens, por isso tem de ser diariamente conquistada e refrescada – senão, como uma flor cortada das raizes, definha e morre.
Dwight D. Eisenhower

A minha definição de sociedade livre é uma sociedade onde não corre perigo quem é impopular.
Adlai Stevenson

A liberdade diminui à medida que o homem evolui e se torna civilizado.
Salazar

A grande meia verdade: liberdade.
William Blake

A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
Fernando Pessoa

É verdade que a liberdade é preciosa. Tão preciosa que deve ser cuidadosamente racionada.
V. Lenin

Ser livre não é fazer o que se quer, mas querer o que se pode.
J.P. Sartre

O problema de haver eleições livres, é que nunca se sabe quem vai ganhar.
L. Brezhnev

Se uma nação dá mais valor a alguma coisa do que à liberdade, vai com certeza perder a sua liberdade; e a ironia é que se o que valoriza é o conforto ou a riqueza, vai perder isso também.
Somerset Maugham

Ninguém é livre, até os pássaros estão engaiolados no céu
Bob Dylan.

Os irresponsáveis vêem a liberdade como a fuga a qualquer lei, a qualquer constrangimento; os sábios vêem na liberdade, pelo contrário, a poderosa Lei das Leis.
Walt Whitman

Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
e che sospiri la libertà.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os frescos de Stein-am-Rhein

A pequena vila vinhateira de Stein-am-Rhein, situada onde o Reno nasce do Lago de Constança (Bodensee), foi considerada única na Suíça e rara na Europa pelo conjunto numeroso de casas notáveis concentradas à volta da praça, a Rathausplatz, datando do início do Renascimento.

A vila mantém o traçado medieval quase intacto, incluindo a muralha integrada na malha urbana, com todas as antigas entradas sob arco.

Os frescos intensamente coloridos exibidos pelas casas mais antigas revelam o passado vinícola, mas também cenas bíblicas, profissões, comércio e artes da época (séc XV - XVII). Os proprietários exibiam a sua riqueza competindo ums com os outros na decoração da fachada.

A casa do Touro Vermelho (Zum Rothen Ochsen) , a mais antiga taberna da vila, com uma magnífica janela de sacada:

A Águia Branca (Zum Weissen Adler), a mais bela e mais antiga (1520)

Pintura na fachada da Rathaus: a história de Stein-am-Rhein.

Também é notável o conjunto de varandas fechadas suspensas, ou "janelas de sacada", debruçadas sobre a praça. Parecem criar um cenário de paredes e balcões, tudo ricamente decorado e colorido, à volta da praça-plateia.

Cara Moura Aveirense, agradeço a sua chamada de atenção: era imperdoável perder esta visita.

(fotos minhas, à excepção da primeira)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Coisas que me enervam:

o mau uso da matemática

Todos os aldrabões deste mundo, desde astrólogos e pós-modernos a políticos e técnicos da educação, gostam imenso de usar terminologia e instrumentos matemáticos para dar crédito às suas aldrabices. Mentir com a matemática está de moda. Falar em "vectores", "diferenciais", "correlações" ou (ah ah ah!) "mínimo divisor comum", descontextualizados e esvaziados de sentido, ou usar a estatística sem critérios nem rigor para construir as maiores mentiras, ou as maiores vulgaridades, em estudos geralmente inúteis ou enviesados e para se concluir aquilo que à partida se quer - é para isto que muitos "aprendem" as bases da matemática no ensino básico e secundário!

É desgastante, por exemplo, o tempo que se perde a fabricar e a analizar papéis intitulados "avaliação" ou "diagnóstico" em que se despejam tabelas comparativas, médias, percentagens, desvios padrões, papéis que depois são objecto da ordem de trabalhos em longas reuniões, e que para além erros processuais não servem para n-a-d-a.

Ignoram a maioria das vezes que

não se pode comparar o incomparável: duas amostras de dimensão ou de características muito diferente não podem servir para um estudo comparativo sério. Sejam turmas de alunos , países ou repartições.

a diferença é boa, a uniformidade é má
Frequentemente o objectivo é chegar a um padrão de uniformidade, em que haja desvios mínimos, em que se eliminem discordâncias; ora numa escola ou numa repartição ou na União Europeia o que é bom é que HAJA diferenças, horrível seria que todos fossem iguais à média.

resultam na pioria dos serviços por intimidação
os casos escandalosos já estão à partida conhecidos e diagnosticados, os números só servem para intimidar os responsáveis por diferenças mais que compreensíveis e até benéficas.

Odeio isto. Mas odeio. É muito pior que todas as nuvens de cinza que todos os vulcões deste mundo possam emitir. Tapa os olhos de forma insidiosa.

domingo, 18 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

Eyjafjallajökull

Com um nome destes, não admira que rebente em explosões de lava e lance toneladas de cinza pelos céus.

Os homens esquecem facilmente que o planeta não é um hotel com spa e ar condicionado (felizmente). E a fragilidade dos nossos "life-supporting systems" é evidente perante fenómenos como este: muitas das comodidades que damos por adquiridas entram em completa falência.

Do que mais precisamos não é de "proteger o planeta Terra": é sim , e cada vez mais, de nos proteger do planeta Terra. E isso só com mais ciência.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Voz

Music, spread thy voice around,
sweetly flow the lulling sound



Handel, Solomon
Andreas Scholl, The Gabrieli Consort & Players
Paul McCreesh

quarta-feira, 14 de abril de 2010

E enfim, os Mestres Cantores

Ainda continuo fascinado e ao mesmo tempo intrigado com a récita dos "Mestres Cantores de Nuremberga" de Wagner a que agora assisti (10/4, Opernhaus de Zurique), para mim uma estreia.

Os Mestres Cantores é uma ópera de homens, e de homens maduros. O basso reina. Dois reis absolutos, Michael Volle e Matti Salminen, ofuscaram. O Beckmesser de Volle, sobretudo – um papel bem difícil – foi arrasador ! Ainda para mais o homem é muito bom actor. Foi curioso ver o personagem mais negativo e humilhado por Wagner salientar-se assim pela qualidade do canto. Consegue fazer o que quer com a voz, ginásticas difíceis em que tem de exprimir que canta mal, cantando bem ! Imensa ovação. É verdade que Volle já faz Beckmesser há muito tempo, e lá passeou em grande por Bayreuth. Um senhor.

Salminen, que eu já tinha aqui postado em videoclip, foi bom, muito bom, com aquela voz firme e possante. De bengala, devido a uma operação ao joelho, parecia ainda melhor no papel de Veit Pogner. É pena que Wagner lhe tenha dado tão pouco tempo de antena...

(Pequena) decepção foi o terceiro baixo, Alfred Muff no mui nobre sapateiro Hans Sachs. O termo de comparação que eu tenho (em DVD) era tremendo: a obra prima de James Morris no MET com Levine. Muff é competente mas não correspondeu às expectativas, tanto mais que para mim é Sachs o principal personagem desta ópera e Muff foi algo tíbio.

O imprevisto foi o tenor americano Robert Dean Smith. Substituiu Peter Seiffert como cavaleiro Walther Von Stolzing. Já tinha ouvido opiniões divididas sobre Seiffert neste papel, já conhecia o seu belo timbre mas insegura voz. Nunca tinha ouvido Robert Dean Smith. Começou a cantar nos Meistersinger em Bayreuth, 1997. A escala da voz não será das mais largas, não se ouve bem sobre a orquestra, o timbre é comum, mas nunca gritou nem mostrou esforço, antes evidenciou grande segurança, firmeza e flexibilidade. Um verdadeiro prazer ouvi-lo no início do 3º acto, quando ensaia a canção com Sachs, na sua melhor prestação, cheio de força e bravura; ao nível de um Chris Merritt ! Muito bem (sem deslumbrar). Como actor, pouco expressivo, mas acho que fiquei a ganhar com a troca. Parece que tem feito por aí um Tristão muito aclamado.

A orquestra e a direcção de Philippe Jordan foram impecáveis, no sentido em que não ouvi uma única falha, atraso, adianto, desequilíbrio. Tenho dificuldade em distinguir uma “boa” de uma “má” interpretação instrumental de Wagner. Ao contrário dos barrocos e clássicos, onde há interpretações desastrosas e interpretações geniais, onde se debatem escolas e estilos para proveito de todos nós, tenho a sensação de que toda a gente toca Wagner da mesma maneira. Jordan e a sua orquestra pareceram perfeitos, em particular os leit motiv de Wagner eram enfatizados em crescendos com belo efeito, sublinhando cada personagem. A conjugação com os coros no 3º acto foi primorosa e de grande impacto.

A produção, sem fastos nem excessos, cumpriu no essencial: grandes vozes. Qunto à ideia do encenador Nikolaus Lehnhoff , era aliviar a carga nacionalista do texto e tentar modernizar e globalizar à europeia a perspectiva originalmente germânico-ariana. Começou por um cenário escuro e pesadão, com carga inquisitiva, trajes à antiga (muito bonitos, diga-se) e ambiente tribunício. Sofrível.

No segundo acto, desastre: a modernização minimalizou a rua de Nuremberga à noite numa escadaria e numa “lua” que mais parecia a bola de luz de uma discoteca.

Como este acto é o menos conseguido da ópera, com excessivas delongas, pouca teatralidade e alguma pobreza musical, exigia-se ao menos que compensasse com um cenário visualmente atraente e boa movimentação dos actores. O cavaleiro von Stoling esteve à altura, Michael Voller também foi espectacular na conjugação da magnífica “péssima” voz (por vezes de difícil colocação) com a gesticulação e expressividade. Mas uma solução cénica feia e ridícula quase deu cabo de tudo: os amorosos Walther e Eva escondem-se, não num banquinho atrás de uma árvore, como era suposto, mas...num buraco no chão do palco ! Horrível! E a janela onde Madalena vem ouvir a serenata de Beckmesser dedicada a Eva é...um camarote da sala! Ora, soluções fáceis, baratas e feias, à São Carlos.

Já no 3º acto, o conceito de Nikolaus Lehnhoff resultou. Mesmo que isso desagrade a muitos Wagnerianos, ele conseguiu des-germanizar: situou as festas joaninas na arena de um teatro grego, colocou um coro grego na escadaria vestido de camisa e calças brancas, humilhou o pobre Beckmesser com palhaçadas mais próprias de comédia italiana e pôs o cavaleiro da Francónia a cantar a canção vencedora sobre um tronco de coluna grega, com vibrato e ênfase bastante bel-cantisticos ! Nada disto contraria o discurso final de Hans Sachs em prol da sublime arte germânica, que assim o é para nossa alegria e proveito. Houve grandiosidade e pathos q.b. no final !

Noite em cheio, pois. Não há récitas perfeitas, os homens não são máquinas, o que conta é que criaram com empenho nessa noite um entusiástico momento de canto, teatro e música.

O público de Zurique é geneticamente diferente do de Lisboa ou do Porto. Possivelmente trata-se de uma mutação que evoluiu para uma espécie que não sofre irritações na garganta. Não ouvi uma, mas uma única, tosse durante as 4 hora de ópera. E quando sussurrei inaudivelmente um comentário, fui metido na ordem com um imperativo schutz!

Fotos do site da Opernhaus (excepto a primeira e a última)

Nota - repete a 17/4, 1/5, 8/5 e 3/7

terça-feira, 13 de abril de 2010

Gulodices

Viajar também é provar novas lambarices. Chegado a Zurique, morria se não ia à Sprüngli e à Péclard.
Nem falo de preços. é preciso abrir bem os cordões à bolsa. Mas os expositores são de arregalar os olhos e os menus também.

A Sprüngli (Banhofstrasse) é a mais famosa confeitaria e chocolataria suíça. Mandado vir um chá e um docinho, eis:

  mmmmmmm
( o chá, contudo decepcionou )

A Péclard é uma sala de chá requintada na cidade velha, com fabrico próprio, e com uma bem situada e sempre cheia esplanada. Mesma receita:

mil folhas de baunilha:
e uma especialidade de chocolate divinal:

Não bastassem os doces, também experimentei salgados na Sprungli; anunciavam vol-au-vents de vegetais com legumes em bechamel:

  Uuuui mas que coisa boa! Comia isto todos os dias. Inacreditável.
Para acabar, cafés servidos como deve ser: (pagos em conformidade: 3 € cada, em média)
Pronto, isto foram os excessos. Agora as moderações:
A "Haus Hiltl" foi o primeiro restaurante vegetariano na Europa (1898 !) . Já tinha boas referências à qualidade, variedade e bom preço da casa. Visitei uma, e duas, e três e quatro vezes ... o "buffet" a peso permite a cada um fazer um pratinho a seu gosto, e as escolhas são mais que muitas. Difícil é manter-se abaixo do 15 €/prato.


Mas o requinte é pedir pela carta do dia: os pratos vêm belamente arranjados e a surpreendente mistura de gostos é sempre gratificante.



E dormi sempre bem depois destes jantarinhos ! Recomendo: Hiltl, Sihlstrasse, Zurich.
www.hiltl.ch








segunda-feira, 12 de abril de 2010

Janelas e lampiões

Ora aqui está outro factor de identidade. Se há símbolo que exprima a tradição urbana suíça é este. Uma colecção:


Fotografias feitas em Zurique, Baden, Stein-am-Rhein e Rapperswil.