Ontem foi um dos ponto altos da programação 2012 da Casa da Música. Com sala cheia, Sokolov tocou Rameau, Mozart e Brahms.
Da Suite em Re de Rameau, sei que dei por mim sem ter respirado vários minutos, por volta de Les Niais de Sologne . As mãos do mestre Grigory têm um absoluto não sei quê que faz parar o tempo biológico. Aquele piano, a tocar barroco de forma esfuziante, inebriante, só podia ser ilusão.
A mestria nas Variações sobre um Tema de Händel, op. 24, de Brahms, foi tudo isso e muito mais, vibrante, vertiginosa, sufocante, apoteótica. Transições de velocidade, de força, de ritmo, alucinantes. Jogo de mãos alucinante. De olhos e ouvidos absolutamente bloqueados, era-me difícil acreditar no que se estava a passar naquele teclado.
Aclamação delirante.
Ficando em Brahms, o primeiro Intermezzo, op 117 nº 1, sobre uma melodia escocesa, foi belo de arrepiar. Um Sokolov pianíssimo, sublime de dolente expressividade, numa obra genial do pianismo de Brahms. Fiquei KO.
Já não aguentava muito mais, eu. Demasiadas emoções para uma noite só. E não é que faltavam duas peças? Em que mundo é que isto acontece?
O público da CM (comportamento impecável, pouca tosse) aclamou, aclamou, e... vieram os encores ? Sim. Um (Rameau) . Aplausos, aplausos... e dois (Brahms)! Aplausos... e mais... e três ! ......... quatro ! ..........cinco ! C-I-N-C-O encores ! ... e seis... e sete...
Já não aguentava muito mais, eu. Demasiadas emoções para uma noite só. E não é que faltavam duas peças? Em que mundo é que isto acontece?
O público da CM (comportamento impecável, pouca tosse) aclamou, aclamou, e... vieram os encores ? Sim. Um (Rameau) . Aplausos, aplausos... e dois (Brahms)! Aplausos... e mais... e três ! ......... quatro ! ..........cinco ! C-I-N-C-O encores ! ... e seis... e sete...
Só pode ter sido uma noite mágica. E eu estava lá, mas sem saber onde, nem quando, nem como, nem nada.
Ah, e Brahms, meu Brahms, ninguém te chega aos calcanhares . *
As Variações:
Intermezzo nº1, de Brahms:
Intermezzo nº2
Les Niais de Sologne, da Suite de Rameau
Adagio da KV 310 de Mozart:
* pronto, já sei, Mozart está lá em cima contigo, ao piano.
11 comentários:
Grande pianista. Também já tive a sorte de o ouver na Gulbenkian.
Grande Entrada!
É fantástico como se encontram na net pessoas que nunca se viram na realidade e que sentem a música como nós próprios.
Já puz este blogue na minha lista e vou começar a lê-lo.Há tão poucos sobre o que me interessa a sério!
Os excertos são fantásticos, deve ter andado a pesquisar durante horas:)
Obrigada!
Também já tinha ouvido Sokolov, duas vezes, sem me entusiasmar tanto, Paulo. Acho que o programa também é uma pérola, é raro ter a sorte de um concerto tão bem pensado e com peças deste nível. E Sokolov está nitidamente no topo de carreira.
Penso que este programa está em vigor nos próximos concertos, se tiver oportunidade não perca.
Virgínia,
espero que seja o início de uma longa blog-friendship!
Mário
Sokolov esteve na Gulbenkian em Novembro mas eu não pude ir. Tocou seis encores.
Fiquei maravilhada só ao ler o post.
Se calhar antes isso, visto que Brahms não é a minha chávena de chá (quem sabe se teria passado a ser?).
O Joaquim, no blogue In Fernem Land, dá conta do mesmo encantamento em Barcelona.
Efectivamente, ayer en Barcelona sucedió otro milagro.
Es sencillamente sensacional
Gi, Joaquim, eu nem sou muito dado a encantamentos e milagres. Sokolov também não é uma figura com impacto visual. Simplesmente toca piano como ninguém e deixa-nos em êxtase. Em toda a parte, menos na América, onde não vai.
Estou furioso, a propósito, com uma crítica idiota que veio no Público, dedicada quase toda a fazer pouco da corte de fãs (se fosse a MJ Pires já não falava assim) e a troçar do mito (e se fosse Gould?), e depois de considerar que afinal o concerto foi muito bom, apesar de tudo, dá-lhe 1 estrela em 5, ou seja, MAU !
Imbecil!
Os críticos do Público e etc. são de fugir.
Yo tampoco soy muy dado a los milagros, por eso cuando suceden me vuelvo creyente.
Joaquim, :-)
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