Afinal ainda não está tudo dito? Parece que não: ainda há espaço para novas interpretações das sinfonias de Beethoven, com alguma dose de surpresa e reinvenção.
Comecei com Karajan, retrocedi a Furtwängler e aos incomparáveis Kleiber, avancei para Solti e Günter Wand, fui abalado e conquistado pela escola historicista com Gardiner e Harnoncourt, tombei em gloriosa quase catástrofe com David Zinman. Só faltava o Giovanni Antonini dos Giardino Armonico.
Quando soube, previ desgraça: o que eles já tinham feito com Bach...para que se mete um italiano a querer incarnar alemão? Só que desta vez o italiano dirige uma orquestra com instrumentos modernos e boa reputação de rigor e articulação, a de Basileia; et voilá: a coisa não saiu bem.
Antonini revela na 5ª e 6ª de Beethoven alguma mestria mas um conceito interpretativo mal reflectido, incoerente e mesmo falhado de imaginação. Mantendo-se próximo de Zinman (sem lhe chegar aos calcanhares), opta por tempos rápidos cumprindo o metrónomo conforme a Beethoven, evita o vibrato, desequilibra em excesso nos sopros, articula sem agilidade. A pequena dimensão da orquestra é desconcertante, e não compensada (como em Gardiner, Harnoncourt, Zinman) pelo dinamismo dos ataques, que irrompem desconcertados e falhados. Não sei se estamos a asistir a efeitos especiais da Lucasfilms, visto ter tido um resultado mediático apreciável - boa imprensa. Quando os sopros intervêm, o excesso é de mau gosto; quando não intervêm, a seca rapidez sem pausa e o corte radical do legato asfixiam completamente a música, reduzem tudo a um corridinho insosso sem qualquer lirismo. Possivelmente alguém disse isto mesmo anos atrás de Gardiner, mas não era verdade. Agora, chegou o exagero disparatado e as palavras aplicam-se; Beethoven quase em ritmo hip-hop.
Bola Preta
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