quarta-feira, 23 de junho de 2021

Passagem do primeiro ano do século em Graz, com o Euro a chegar

Memória de uma escapada europeia

Passei de 2001 para 2002 em Graz - inseguro, com o Euro a estrear, iria conseguir obter dinheiro quando precisasse ? Felizmente esse 'vírus' foi um flop e a moeda um sucesso.

O frio era de rachar, certamente abaixo de zero, e anoiteceu muito cedo. Quando saímos à rua, foi directo para a Herrengasse, a 'granvia' de Graz - que seria o nosso picadeiro ao longo da estadia. É uma rua larga e direita, não muito longa, percorrida por eléctricos nos dois sentidos, que como é de regra em país civilizado convivem sem desnível com os peões, o que torna a rua muito cómoda. 



No edifício mais notável, a renascentista Landhaus (séc. XVI) que é sede do parlamento da Styria, estava exposto o tradicional (e famoso) Eiskrippe, o presépio esculpido em gelo por Gert Hödl e que todos os anos aqui fica até derreter.


Como já lá estava há semanas (desde antes do Natal), dava sinal de alguma perda de formas; mas durante o tempo que estivemos em Graz ainda derreteu bastante.

Nos dias seguintes o tempo foi melhorando um pouco, e ao meio dia havia já mais luz.

Estamos em frente da Landshaus, a meio da rua. É um palácio de estilo italiano, desenhado pelo lombardo Domenico dell'Allio.


Varandas mediterrânicas sobre o portal principal.


O Pátio interior, um entre muitos em Graz.

É notável o poço com gazibo de bronze, de 1590, com 4 sátiros e 4 ninfas, encimado por um cavaleiro.

O pátio das Arcadas à noite.

Mais adiante, já na parte final, há este edifício profusamente decorado, a Herzoghof. A construção é de 1450 mas a primeira pintura foi só em 1600.


Já nada resta dos frescos originais, os actuais foram executados no séc XX.


A Herrengasse termina na praça cívica Hauptplatz, com a Câmara e um friso de bonitas casas com pinturas murais nas fachadas.



Luegg é a casa medieval da esquerda, que faz esquina com a Sporgasse; foi coberta de estuques barrocos no séc. XVII.


No meio da praça foi construída em 1878 uma fonte para celebrar o arquiduque Johann. 

A Hauptplatz é o centro cívico de Graz, com grande movimento de transportes urbanos.

O conjunto arquitectónico das casas barrocas e renascentistas, a fonte e a Torre do Relógio que se vê lá em cima levou à classificação de Graz como património mundial. A Sporgasse, a Hofgasse e a Burggasse são os principais arruamentos da Altstad, a cidade antiga; tive alguma desilusão com este quarteirão, de facto não tem a riqueza e valor histórico de outros centros antigos que vi pela Europa.

Subindo a Sporgasse encontramos a Höfbackerei, que parece ser um dos grandes chamarizes de Graz pela montra de madeira trabalhada. 


Desde 1569, agora já não padaria mas sim confeitaria.



Nestes passeio concluí ainda que Graz não tem nenhuma igreja digna de ser mencionada. Tirando a tardogogótica Franziskaner (séc XVII), são todas pesadamente barrocas, disformes.  Não sei se isto abona contra ou a até a favor da cidade, mas aplico o peremptório aforismo: todas as igrejas de Graz são feias

Voltando ao centro: da praça Hauptplatz em direcção à ponte sobre o rio Mur, segue um arruamento curvo e estreito mas muito comercial, com uma luminosidade particular - a Murgasse. Apesar do frio há ciclistas, como havia sempre e por toda a parte; a desilusão foi o café, que eu esperava aberto, o Schwalbennest:

Fechado até dia 2.

Havia que subir ao monte onde está a Torre do Relógio, o Schlossberg. Ao terceiro dia, tinha nevado de noite, depois um sol tímido apareceu; já era demasiado tarde quando fomos pela Sackstrasse até à Schlossberg Platz. Na passagem, o Mausoléu de Fernando II, antiga capela da Igreja de Sta Catarina. Neoclássico pesadão, interior feioso.


Seguimos para apanhar o elevador, que corre sobre carris puxado a cabo; era suposto dar belas vistas sobre a cidade, mas pousara uma  neblina húmida que não deixava ver quase nada. Ora então eis o mais famoso postal de Graz, a Uhrturm.



A partir do terraço há um caminho panorâmico no parque, que estava muito nevado ainda, talvez por ser virado a Norte.


Ao fim de poucos metros tive de desistir, com dores nos ossos todos !

Foi na cidade velha que fizemos o jantar de S. Silvestre, numa casa simpática e numa sala com tecto em abóbada em túnel, o Krebsenkeller


Foi bom. Depois saímos para a noite de festa, íamos a contar com ambiente tranquilo e pouca gente na ponte Radetzky que nos fora aconselhada; mas à medida que nos aproximávamos demos conta de que bom ambiente é que não íamos ter. A cidade tinha sido invadida pelos vizinhos húngaros e eslovenos, uma turba ruidosa, embriagada e abrutalhada; já nem se podia entrar na ponte com tantos cacos de garrafa e latas pelo chão. Com muito cuidado, empurrados e ensurdecidos, fomos furando até um intervalito na grade da ponte onde nos agarramos. 


À meia noite foi uma chaladice; meia dúzia de fogachos lá no alto da Torre, tudo a gritar e beber cá em baixo. Viemos embora assustados, sem esquecer de parar no multibanco a ver se funcionava. E sim ! Consegui os meus primeiros Euros ! Ena.

Vista a partir da ponte Radetsky.

No 1º dia de 2002 fomos no autocarro 250 até St. Radegund, ver a neve no alto das antenas em Schöckl (1400 m). Ao fim de meia hora, através de nevoeiros e ventos, chegamos ao topo. A ventania era de mais, multiplicava a temperatura gélida por dez. Só deu para um curto passeio antes de corrermos para o mesmo autocarro, que ia descer.


Apesar da luz mortiça e do frio, valeu a pena, havia uma estranha beleza no panorama desolado; as fotos, infelizmente. não mostram os cambiantes de luz.

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Nesse dia 1, ao fim da tarde, fomos à Ópera de Graz assistir ao Neujahrskonzert.


Phillipe Jordan dirigiu Haydn, V. Williams, Elgar, Strauss. Foi assim-assim, o que se espera de um concerto de ano, mas ... tristonho. Valeu mais ver a casa.

Graz não é Viena, claro, nem sequer cafés de jeito tem; mas soube bem estar uns dias no topo do mundo civilizado - e contudo (tirando o Silvester na ponte) num ambiente pacato com uma escala urbana confortável, que não esmaga.


2 comentários:

SilverTree disse...

Continuo sempre grata por continuar a partilhar connosco as suas viagens e investigações. Obrigada!

Mário R. Gonçalves disse...

Olá, Árvore Prateada, estou sem acesso ao Silvertree e à Biblioteca. Fui expulso, de castigo ? ;)

Um bom Verão, desconfine o mais que puder !