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domingo, 11 de outubro de 2020

Dois poemas de Louise Glück


Não fiquei muito entusiasmado com a atribuição do Nobel a Louise Glück:  parece mesmo forçado por questão de género, já havia muitos homens nomeados na Ciência...  

A poesia de Glück parece-me pouco mais que mediana. Mas pior ainda, os poemas que apareceram na imprensa portuguesa são escolhas infelizes. Encontrei dois que me agradam mais, traduzi e aqui estão:

 O passado

   Um pouco de luz no céu surgindo
   de súbito por entre
   dois galhos de pinheiro, as finas agulhas

   agora impressas na superfície radiante
   e por cima este
   alto, plumoso éden -

   Aspirem o ar. É o aroma do pinheiro branco,
   intenso quando o vento sopra através dele,
   e o som que produz é igualmente estranho,
   como o som do vento ouvido num filme -

   Sombras que se movem. As cordas
   soando como cordas. O que se ouve agora
   será o som do rouxinol, Chordata,
   o macho que corteja a fêmea -

   As cordas escorregam. A cama de rede
   oscila ao vento, atada
   com firmeza entre dois pinheiros.

   Aspirem o ar. É o aroma do pinheiro branco.

   É a voz da miha mãe que ouvem
   ou é só o som das árvores
   quando o ar as atravessa

   pois que som havia de fazer
   se nada houvesse para atravessar?

 

 

          Borboleta

                 Olha, um borboleta. Pediste um desejo?
                 Não se deseja com borboletas.
                 Sim, pois. Pediste um ?
                 Pedi.
                 Esse não conta.



quarta-feira, 22 de abril de 2020

Prateleiras de leituras, chez moi


A neurose do confinamento em casa tem destes resultados: já cheguei ao ponto de andar a tirar fotografias cá dentro, como estas que aqui ficam de livros favoritos alinhados nas suas prateleiras. Viagens dentro das quatro paredes. Enfim, é a prova de que não falta leitura nesta casa.

Número um, os favoritos dos favoritos, os incontornáveis: Banville, Casares, Hesse, Chesterton, Greene, Borges evidentemente, e Calvino.


Número dois, um cantinho de poesia para revisitação frequente:

Dickinson, Yeats, Whitman, mas também Pessoa, O'Neil.

Alguns clássicos arrumados para sempre (?)

Livros de 'sala', seja isso lá o que for.

Explorações árticas e antárticas.

Só mais esta:
Estante dos científicos: fractais, caos, universo e cosmologia. Decoração não relacionada :)

Afinal, ainda mais uma: Arte, História e Viagens.



E pronto, ficou aqui um pouco da nossa intimidade, um auto-retrato possível; mais longe não irei...

Abrir um deles? Seja o Whitman:


I believe a leaf of grass is no less than the journey-work of the stars,
And the pismire is equally perfect, and a grain of sand, and the egg of the wren,
And the tree-toad is a chef-d'oeuvre for the highest,
And the running blackberry would adorn the parlors of heaven 

(...)

A grain of sand, hã ?

domingo, 22 de março de 2020

Leituras e música - relatório de confinamento forçado



Reuni alguns livros para estes dias de quase-prisão domiciliária. Não me curam das dores de costas, antes pelo contrário, porque estar sentado tempo de mais é mau para a coluna. Mas ajudam a curar a neura e a voar para fora das grades do lar, quando de doce se torna amargo.


- Erebus, de Michael Palin, é um relato emocionante, detalhado e bem narrado da vida do navio que provavelmente mais feitos navais alcançou: viagem ao Pólo Norte, depois à Antártida via Tasmânia, com a descoberta da plataforma de Ross, regresso pelas Falklands, Terra do Fogo e de novo a Antártida; finalmente a heróica e trágica viagem pela Passagem do Noroeste onde sob o comando de Franklin sucumbiu ao gelo compacto. De pólo a pólo duas vezes, uma epopeia naval.

- Os 4 Quartetos de T.S. Eliot são leitura para toda a vida, como a obra de Borges. Nunca se acaba, nunca se leu tudo, é uma maré de poesia interminável.

Duas apostas arriscadas:
- Heureux qui, comme Hannibal, de Natale Ada: aventuras pelo mundo, ao estilo de Verne ou Swift.
- Os Leões da Sicília, de Stefania Auci, muito mal traduzido infelizmente (e com A.O.), é uma saga familiar ao longo do estimulante século XIX.

Finalmente, de Matt Gaw, Under the Stars. Dele já tinha lido - e gostei muito! - um semi-romance de semi-viagens, de canoa pelos rios do Reino Unido, onde conta as aventuras que viveu por dentro nos rios Severn, Wye, Waveney, Cam, Thames; agora vem contar, espero que com o mesmo engenho e riqueza sugestiva, jornadas de vida nocturna - não em bares, mas na natureza, sob as estrelas.

- Art North nº 5
Este número vale sobretudo pela notícia da exposição de Mark Edwards, artista escocês que criou um estilo único, como mostra a capa. Em breve publicarei sobre ele neste blog.

- Musées d'Europe, Figaro

Esta colecção já com vários anos sobre os museus da Europa, editada pelo Figaro, vem acompanhada de DVD. Livro e filme ajudam a percorrer museus, alguns onde nunca irei,  a partir de casa, muito melhor que os percursos em streaming.

Música: muita rádio clássica, e mais:
- CD de concertos para violocelo de Vranický e Stamitz


Evitando saturação, o programa é mais ou menos: leituras, culinária (refeições e bolos), música, sofá (sesta e TV) e eventualmente um DVD. Séries, de momento só sigo o Resident. À custa do Covid, vi um grande filme que não conhecia, muitíssimo bem feito, que sendo até certo ponto de SciFi - há uma outra Terra que se aproxima da nossa, onde vivem duplos de nós noutro espaço-tempo - tem uma cuidada e enxuta narrativa e situações tensas onde os personagens se definem com alguma densidade. O final está muito bom, coisa rara. Chama-se Another Earth (2011), é um filme independente (nota-se) de Mike Cahill.

Boa estada em... casa.



quarta-feira, 18 de março de 2020

Palazzo Quirinale em ano Rafael - com um abraço a Itália


Vi a Borghese, a Barberini, a Farnesini e a Medici - mas não visitei o Quirinal, mais um palácio-museu a pesar na lista de sítios que falhei. Agora, está na Scuderia em frente ao palácio (para ninguém ver, purtroppo) uma das exposições dedicadas a Rafael neste ano comemorativo.

Bem maior e mais rico que a Casa Branca, o Palácio Quirinal é moradia de imperadores. Desde a situação - no alto de uma das sete colinas, o Monte Quirinale - até às dimensões: 120 000 m2, um dos maiores palácios do mundo. Actualmente, é lá que trabalha o Presidente da República italiana.


Iniciado em 1593 por Ottaviano Mascherino, grandemente enriquecido por Carlo Maderno e Francesco Borromini (salões) e decorado por Guido Reni, foi sendo ampliado com novas estruturas e jardins até ao século XVIII. Foi residência papal, e depois dos reis de Itália.


Oferece também uma das mais panorâmicas vistas de Roma, do alto do terraço do Quirinal:

Terrazza di Napoleone

Na entrada, há sempre a Guarda de Honra; acede-se depois ao pátio interior desenhado por Mascherino.

A edificação original, agora Cortile d'Onore.

As salas e salões são umas 1200 (!), desde gabinetes de trabalho a salões de bailado. 

Sala Gialla

Salone dei Corazzieri (guardas de honra)

Sala di Augusto.

E assim por diante: sala das Audiências, sala dos Espelhos, sala de Hércules, salão de festas, sala dos tapetes de Lille...

Igualmente sumptuosa é a capela do palácio, a Capella Paolina:


Foi construída ao tempo de Paulo V Borghese pelo arquitecto Carlo Maderno, que fez a fachada da Basílica de S. Pedro no Vaticano.



A escadaria de Mascherino é um dos elementos mais notáveis.


Uma rara escadaria helicoidal:


Mascherino de Bolonha, também chamado Mascarino, foi o arquitecto inicial do Palácio.

Vertiginoso!

No edifício da Scuderia, do outro lado da Piazza del Quirinale, a exposição dos 500 anos sobre a morte de Rafael está temporariamente fechada por causa das medidas sanitárias excepcionais. 

Scuderie del Quirinale

O que se poderá ver quando reabrir :

'Ritratto di Baldassare Castiglione', rosto impressionante de vida.

'La Dona Velata', detalhe.

'Madonna d'Alba', detalhe (é um tondo).

'Madonna della Seggiola' (= cadeirinha), restaurada

Detalhe

Ninguém desenha rostos como Rafael!

Cabeça de Musa, estudo


                 Saudades de Itália !

https://www.artribune.com/arti-visive/archeologia-arte-antica/2020/03/la-grande-mostra-di-raffaello-alle-scuderie-del-quirinale-a-roma-riapre-online-ecco-come-vederla/

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Casa da Música 2020, bonjour tristesse


Não vou repetir queixas e lamúrias de 2019 sobre a programação infeliz deste "Ano de França". Deixo só aqui o pouco que seleccionei para minha agenda CdM 2020, que só começa em... Abril!

4 de Abril
Grande Missa K427, de Mozart, dir. Leopold Hager
Katharina Konradi, soprano

8 de Maio
A 9ª Sinfonia de Mahler, dir. Eliahu Inbal

20 de Maio
Grigory Sokolov, a anunciar

22 de Maio
Beethoven, Conc. piano #3 + Brahms, Sinf. #2
dir. e piano de Christian Zacharias

3 de Julho
Haydn, sinf. #74 + conc. p/ violoncelo
Elia Cohen Weissert, dir. Christian Zacharias

11 de Setembro
Triplo concerto de Beethoven
Trio Van Beerle, dir. Michael Sanderling

10 de Outubro
Bach e Telemann, obras orquestrais, violino e oboé
Pedro Castro, dir. Rachel Podger

23 de Outubro
Conc. p/ violino de Mendelssohn
Diana Tishchenko vl. , dir. Eliahu Inbal

31 de Outubro
Sinf. #7 de Beethoven, dir Stefan Blunier

6 de Novembro
Sinf. #1 Titã, de Mahler, dir. Stefan Blunier

14 de Novembro
Missa da Coroação k317, Mozart
Christina Landshamer, dir. Joseph Swensen

Espremidinho, dá uma dúzia de concertos, mas nenhum entusiasmo nem grandes expectativas, a não ser talvez esta última K317 com a Landshamer. Surpresas, só o diálogo improvável de Pedro Castro com Rachel Podger em Bach e Telemann. E é engraçado: no ano da França (ah ah), aproveitam-se concertos de Mozart, Mahler, Beethoven... onde está um Rameau que valha a pena ?

Fica como aperitivo a voz celestial da Landshamer a cantar o Incarnatus est da Missa K427 de Mozart: