Não fiquei muito entusiasmado com a atribuição do Nobel a Louise Glück: parece mesmo forçado por questão de género, já havia muitos homens nomeados na Ciência...
A poesia de Glück parece-me pouco mais que mediana. Mas pior ainda, os poemas que apareceram na imprensa portuguesa são escolhas infelizes. Encontrei dois que me agradam mais, traduzi e aqui estão:
O passado
Um pouco de luz no céu surgindo
de súbito por entre
dois galhos de pinheiro, as finas agulhas
agora impressas na superfície radiante
e por cima este
alto, plumoso éden -
Aspirem o ar. É o aroma do pinheiro branco,
intenso quando o vento sopra através dele,
e o som que produz é igualmente estranho,
como o som do vento ouvido num filme -
Sombras que se movem. As cordas
soando como cordas. O que se ouve agora
será o som do rouxinol, Chordata,
o macho que corteja a fêmea -
As cordas escorregam. A cama de rede
oscila ao vento, atada
com firmeza entre dois pinheiros.
Aspirem o ar. É o aroma do pinheiro branco.
É a voz da miha mãe que ouvem
ou é só o som das árvores
quando o ar as atravessa
pois que som havia de fazer
se nada houvesse para atravessar?
Borboleta
Olha, um borboleta. Pediste um desejo?
Não se deseja com borboletas.
Sim, pois. Pediste um ?
Pedi.
Esse não conta.
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