domingo, 11 de outubro de 2020

Dois poemas de Louise Glück


Não fiquei muito entusiasmado com a atribuição do Nobel a Louise Glück:  parece mesmo forçado por questão de género, já havia muitos homens nomeados na Ciência...  

A poesia de Glück parece-me pouco mais que mediana. Mas pior ainda, os poemas que apareceram na imprensa portuguesa são escolhas infelizes. Encontrei dois que me agradam mais, traduzi e aqui estão:

 O passado

   Um pouco de luz no céu surgindo
   de súbito por entre
   dois galhos de pinheiro, as finas agulhas

   agora impressas na superfície radiante
   e por cima este
   alto, plumoso éden -

   Aspirem o ar. É o aroma do pinheiro branco,
   intenso quando o vento sopra através dele,
   e o som que produz é igualmente estranho,
   como o som do vento ouvido num filme -

   Sombras que se movem. As cordas
   soando como cordas. O que se ouve agora
   será o som do rouxinol, Chordata,
   o macho que corteja a fêmea -

   As cordas escorregam. A cama de rede
   oscila ao vento, atada
   com firmeza entre dois pinheiros.

   Aspirem o ar. É o aroma do pinheiro branco.

   É a voz da miha mãe que ouvem
   ou é só o som das árvores
   quando o ar as atravessa

   pois que som havia de fazer
   se nada houvesse para atravessar?

 

 

          Borboleta

                 Olha, um borboleta. Pediste um desejo?
                 Não se deseja com borboletas.
                 Sim, pois. Pediste um ?
                 Pedi.
                 Esse não conta.



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