domingo, 4 de outubro de 2020

Artemisia Gentileschi, agora na National Gallery



O auto-retrato recentemente adquirido pela Galeria é a jóia da exposição.

Na reabertura da National Gallery, uma exposição imperdível que vou perder à mon grand dam : o tributo devido, finalmene, a Artemisia Gentileschi, a grande pintora da Renascença italiana.

Artemisia Gentileschi
(1593, Roma - 1654, Nápoles)

Caso raro de talento e de coragem de enfrentar convenções, Artemisia  merece ser mais universalmente conhecida. Usava a côr (amarelos e azuis ficaram famosos) e a luz/sombra como poucos, fazia sobretudo retratos e nas cenas bíblicas projectava com violência o ressentimento pelos maus tratos sofridos por parte do tutor.

Foi difícil afirmar-se, mas a sua primeira obra teve um sucesso tal que foi requisitada por príncipes e cardeais, construiu uma carreira única na época, e tem lugar entre os mestres da pintura barroca. Artemisia rodeou-se de um atelier de assistentes que recebia encomendas de gente rica em Roma, Florença, Nápoles.

Amarelos fabulosos na bela Allegoria dell'Inclinazione (1615-16).

A jovem regula uma bússula apontada para o céu, de onde uma estrela ilumina a sua cabeleira loira. Foi um sucesso, embora a Igreja tenha forçado a cobertura com roupas do corpo nu.


Artemisia ...
"... queria representar uma jovem bem fornecida, despida e que incarnasse a Allegoria dell'inclinazione, a alegoria de todas as propensões artísticas do divino Michelangelo. Com uma liberdade desconcertante, Artemisia retratou-se a si mesma, reivindicando na obra a beleza do próprio corpo, e o génio do seu pincel."

Num prematuro 'feminismo' assumido, Artemisia pintava mulheres, deusas, musas ou figuras históricas trágicas: Santa Cecília (várias), Santa Catarina, Madalena, Minerva, a musa Clio, Cleópatra, Judith ... e Artemisia ela própria, em vários auto-retratos.

Gosto imenso deste em que ela se retrata a tocar alaúde:

Autoritratto come suonatrice di liuto (tocadora de alaúde), ~1617


Cleópatra (1633-35)

A Cleópatra, no seu triste destino de mulher heróica, é retratada com carinho em tons de azul e amarelo... O uso do lapis-lazuli, o pigmento mais caro de todos, a que só recorriam os artistas mais reputados, nota-se no azul vivo do pano.

Em 1638, Artemisia viajou para Inglaterra a convite do rei Carlos I, indo fazer companhia ao pai Orazio que já era pintor da corte desde 1626. Em Londres ela iria pintar algumas das melhores obras - o Auto-retrato como Alegoria da Pintura.

Allegoria della pittura - auto-retrato de Artemisia, de 1638 - uma obra espantosamente moderna.

É actualmente aceite que terminou um fresco alegórico começado pelo pai no tecto de um salão na residência real em Greenwich, actualmente a Marlborough House.

Allegoria della Pace e delle Arti sotto la Corona inglese, 1639
Ao centro, a Paz encimando a Vitória, e à volta as Artes - o Trivium e o Quadrivium.


Artemisia abandonaria Londres antes de 1642, e pouco mais se sabe dela a partir daí. Provavelmente morreu vítima da peste em Nápoles.

Maria Madalena em êxtase.

E mais um auto-retrato, um dos seus mais belos:

Musa della Pittura, 1635 - notável chiaroscuro.
Seria este o olhar de Artemisia ?

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Mais:
https://www.widewalls.ch/magazine/artemisia-national-gallery



Artemisia
3 de Outubro 2020 – 24 de Janeiro 2021
National Gallery, Sainsbury Wing



2 comentários:

SilverTree disse...

Também ando a suspirar por esta exposição. Obrigada pela visita virtual!

Fanático_Um disse...

Não fosse a pandemia de COVID-19 e a situação particularmente problemática em Londres que lá estaria seguramente. Contudo, nas condições habituais, ainda terei que esperar meses para lá poder regressar...