terça-feira, 12 de junho de 2018

A 5ª de Sibelius por Arvo Volmer na Casa da Música


Na passada sexta-feira, 8, esteve na Casa da Músiica Arvo Volmer a dirigir a Orquestra num belíssimo programa (finalmente !) com o jovem violinista Benjamin Schmid.

Começo pela irritação dos lugares vazios, certamente assinaturas de gente que prefere futebol, algarve ou centro comercial. E bons lugares!.. A iniciar o concerto, a abertura do Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn, obra muito ouvida mas cuja sábia e dinâmica arquitectura é sempre de apreciar. Não saiu mal, mas não deslumbrou. Volmer não é Gardiner.

Seguiu-se o concerto para violino nº 3 de Mozart. Embora igualmente bem conhecido, não tem sido muito frequente na CdM. Como Volmer não é Gardiner, o Mozart dele saiu convencional, mas o violino de Schmid não ! Até me desconsolou na primeira entrada, mas à medida que aqueceu foi mostrando uma mestria admirável e uma abordagem pessoal de algumas passagens, sempre muito bem executadas. Só as cadenzas modernaças não me agradaram, mas o virtuosismo foi em crescendo e a obra terminou em ovação. Não é von Mutter, mas foi uma audição empolgante. Tivemos direito a um Paganini vertiginoso como encore (Caprice nº 24).


A 5ª é a minha preferida sinfonia de Sibelius, uma obra genial que deu ao compositor muitas dores de cabeça: o trabaho foi muito atribulado, com várias reescritas, devido sobretudo à má recepção da anterior 4ª (fraquinha) e às novidades que corriam no campo musical europeu, com o surgimento de dissonâncias, atonalidade, música contínua e outros experimentalismos que tentavam quebrar as convenções, sobretudo no campo sinfónico.

Com toda essa efervescência, a 5ª acabou por ficar riquíssima de invenções - harmonias inesperadas, quebras de ritmo, sincopismo, transição do lirismo para explosivos tutti com os sopros em destaque a dar uma sonoridade operática; o mais genial é que Sibelius consegue fazer a sinfonia transitar por todo este percurso acidentado de uma forma fluida, melódica, poética - como se sabe, a inspiração, dizia ele, vinha da natureza nórdica, florestas e lagos, montanhas e fiordes. Não digo que se 'vejam' esta coisas no decorrer da música, mas sim que tem uma beleza variada, rica de detalhe, luxuriosamente harmónica, que se assemelha a uma paisagem escandinava.


A surpresa maior foi a direcção de Volmer, com uma desenvoltura e expressividade de quem já 'nasceu' com esta música no sangue - ele é Estoniano, mesmo de ali ao lado. Deixou a orquestra respirar, solta, mas sempre com a sonoridade controlada. Foi a melhor 5ª que já ouvi, e o melhor concerto da Casa da Música este ano até agora: tremendamente bom.

Para quem não conhece, duas gravações recomendadas:
- Colin Davis com a LSO
- Osmo Vanska com a Orq. da Letónia (Lahti)

No youtube, para aqui deixar, encontrei em vídeo uma razoável interpretação - e muito bem filmada:
Thomas Dausgaard, Orquestra Real da Dinamarca


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