domingo, 3 de novembro de 2019

Paulus, a monumental oratória de Mendelssohn, na Casa da Música


Até me custava a acreditar quando vi esta obra na programação da Casa da Música: é uma oratória muito longa, de execução rara, e muito, muito clássica ! Mendelssohn escreveu-a no modelo de Bach ou Handel, recheou-a de corais portentosos e árias divinais como esta:

Helen Donath, Jerusalem


ou esta cavatina para tenor, canta Barry Banks:

O texto é bíblico, portanto para mim chato e irritante; conta a vida e a morte de S. Paulo. O que vale mesmo é a luxuriosa musicalidade de Mendelssohn, que apesar de excessivas demoras permanece na memória tanto pelos corais como pela boa orquestração. A Paulus obteve grande sucesso em vida, mas depois foi esquecida e é raramente executada em palco, talvez pela necessidade de muita gente - orquestra e coro de grande dimensão (*) - e pela concorrência das oratórias mais populares, o Messias ou as Paixões de Bach. Este ano, nada houve na programação da Casa da Música com tal ambição e risco, e a minha expectativa era grande.

Olari Elts nunca me decepcionou; é um grande maestro, mostra que tem a obra bem estudada e a orquestra bem ensaiada e disciplinada; soou magnífica, mesmo com órgão e metais em fortíssimo. Já o Coro da CDM pecou por demasiado reduzido (nas gravações que conheço deve ser mais do dobro) e mesmo assim, com muitos desacertos e desequilíbrios. Fraquinho, foi uma pena. No quarteto de solistas, destaque absoluto para o formidável barítono Johannes Weisser, uma voz tão poderosa quanto bem colocada e de bonito timbre. Deu alguns dos melhors momentos do concerto.

Alguns coros:



O welch eine Tiefe


Aqui é Helmut Rilling a dirigir a dirigir a Orquestra Checa:

Wie lieblich sind die Boten, 
die den Frieden verkündigen. 
In alle Lande ist ausgegangen ihr Schall
und in alle Welt ihre Worte.

                                 Que  amáveis são os mensageiros
                                 que a Paz estão a anunciar.
                                 Em toda a Terra irrompe a toada
                                 e em todo o Mundo as palavras.


Apetece-me ainda comparar com Kurt Masur e a Gewandhaus Leipzig numa versão à maneira antiga, que pelo menos junta dois coros ( e tem a voz fabulosa de Gundula Janowitz):


Não terá sido insuperável, mas foi uma bela prenda de Outono chuvoso.

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(`) Na estreia em Dusseldorf, a orquestra tinha 172 músicos e o coro 356  vozes, de acordo com a pauta de Mendelssohn ! Em 1836, um concerto em Liverpool levou o coro aos 1200. Neste concerto da CdM eram... 36.

2 comentários:

Fanático_Um disse...

Gostaria muito de poder ter assistido, mas não me foi possível a deslocação ao Porto por motivos profissionais. Apesar de alguns aspectos menos positivos que assinala, estou certo que teria gostado.

Mário R. Gonçalves disse...

Sim, é o mais próxino de ópera que Mendelssohn escreveu. Infelizmente o libretto é o que é.