quarta-feira, 17 de novembro de 2021

To see, to hear, to touch, to kiss, to die. [John Dowland, há 425 anos]


"Come again ! Sweet love doth now invite" é uma canção de John Dowland para voz e alaúde, de 1597.  Tem portanto 425 anos; mas foi e ainda é um 'greatest hit', um sucesso tremendo com centenas de gravações e versões - piano em vez de alaúde, a capella, côro acompanhado, vozes tão díspares como soprano, tenor, alto, ou simplesmente Sting ou Maddy Prior, versões pop/folk !  Veio aqui à baila porque a sublime Joyce Didonato a cantou em Lisboa, na Gulbenkian, no passado dia 9, conforme relata o Fanáticos da Ópera; e lastimo amargamente não ter estado lá para ouvir. 

No youtube e congéneres consegue-se ouvir sopranos barrocas de bonita voz como Barbara Bonney ou Emma Kirkby, vozes mais poderosas como Danielle de Niese, e mesmo Maddy Prior, esforçada intérprete do folclore britânico. Fico à espera de uma gravação da Joyce... to sit, to sigh, to weep, to faint, to die.

Come again !
Sweet love doth now invite
Thy graces that refrain
To do me due delight,
To see, to hear, to touch, to kiss, to die,
With thee again in sweetest sympathy.

Come again !

That I may cease to mourn
Through thy unkind disdain;
For now left and forlorn
I sit, I sigh, I weep, I faint, I die
In deadly pain and endless misery.

...

Gentle Love,
draw forth thy wounding dart,
Thou canst not pierce her heart;
For I, that do approve
By sighs and tears more hot than are thy shafts
Do tempt while she for triumphs laughs.


Apetece-me dizer: bons tempos esses, em que os lamentos do poeta, que suspira, chora, desmaia e morre, se devem ao amor e não às desgraças todas que assolam o mundo; não se afligia portanto com atentados, racismo, xenofobia e outras fobias, violência de género, catástrofes climáticas, vagas migratórias, desastres ambientais, genocídios e ditaduras. Havia guerras, sim, faziam parte da rotina quotidiana, amor e guerra.

As pessoas eram tão 'felizes' (!?) que os poetas só choravam a indiferença da pessoa amada. Outros tempos, sim, há 425 anos.

- Versão integral:
Grace Davidson, soprano e David Miller, alaúde

Emma Kirkby (soprano) e Joel Frederiksen (baixo e alaúde). 

- Versão abreviada:
Maddy Prior, folk singer, com John Banks em harpa

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[vi agora - atenção ! - que o Mezzo está a transmitir o concerto de Didonato com o Pomo d´Oro em Bayreuth, onde canta não só Come Again de Dowland como o fabuloso, belíssimo, sublime "As with rosy steps the morn", de Handel]

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