quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Nova casa descoberta em Pompeia, com frescos magníficos

 

 

Na rua principal de Pompeia, a Via dell'Abbondanza, há um quarteirão designado por Insula 12, na Regio IX. Aí foi agora posta a descoberto uma moradia pequena mas tão opulenta em decorações como outras grandes villas luxuosas vizinhas - a "Casa dos Pintores" e a "Casa dos Castos Amantes".

  

O colorido das paredes ainda está vivo. Aqui vê-se uma cena de abraço (symplegma) entre um sátiro e uma ninfa:

  

 
A nova casa foi baptisada "Casa de Fedra", devido ao mais belo fresco que lá encontraram, a cena de Hipólito e Fedra:

Hipólito e Fedra - a raínha mitológica de Atenas é rejeitada por Hipólito

Ao lado há uma janela que abre para um pequeno pátio com um altar (lararium) decorado com plantas e animais. 

Duas cobras, três pardais, ramos de arbusto com bagas vermelhas, em volta de um altar de oferendas.

O lararium depois da limpeza

No centro do fresco, um altar circular que suporta uma taça com uma pinha, um suporte com ovo, um figo e uma tâmara. 

A casa não tem o habitual átrio interior descoberto que permitia recolher água da chuva, e iluminar melhor as divisões. Este pequeno pátio é coberto.

Parte de uma parede do pátio

Detalhe

Máscara de Teatro num friso pintado.

A erupção foi em 79, estamos no 1º século DC, há mais de 600 anos que a domus romans mantinha a mesma arquitectura: em volta do atrium, com um tanque (impluvium) central para recolher a chuva, dispunham-se : à direita e à esquerda, os quartos pequenos; Na frente e trazeiras, as divisóes nobres - o triclinium para recepção e banquetes, e o jardim (peristilum). Das 1076 casas conhecidas de Pompeia, só 20% tinham atrium; a grande maioria era já uma moderna geração de habitações, como a Casa de Fedra, mais pequena e sem átrio mas nem por isso menos luxuosa. 

As escavações continuam, parte de um trabalho mais vasto na secção Sul da Região IX, sobretudo na Insula 12.

  



sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Lendo Louise Doughy descobri Plockton, próximo do Eilean Donan


Aposto que nunca ouviram falar de Plockton.

Plockton nas Highlands, com palmeiras.

Nunca teria sabido da existência desta atraente aldeia escocesa se não fosse pela leitura de Bird in Winter, um thriller de agências de espionagem largamente acima da média da escritora premiada Louise Doughty. Lembra um pouco Portmahomack, que aqui mostrei recentemente, mas Plockton está na recortada costa oeste das Terras Alltas, frente à ilha de Skye, perdida num golfo recôndito do Loch Carron. Por ser adequada para esconderijo temporário é que foi escolhida pela protagonista do livro, em fuga de Birmingham: é que Plockton é a estação terminal de uma linha de combóio desde Inverness.

O sítio mais notável da região escocesa de Lochalsh é o fotogénico castelo de Eilean Donan. 

Plockton, Loch Carron, Lochalsh
 
Coordenadas: 57° 20′ N, 5° 39′ W
População: menos de 500
 

De fundação recente (1808), foi construída como aldeia piscatória modelo, um passado de que hoje apenas existe um porto de pesca de pequena escala. Mas a faixa costeira construída foi tão bem pensada e enquadrada que se tornou um pequeno paraíso de vilegiatura.  

Plockton começa em Bank Street, um caminho residencial de moradias iguais em fileira.
 
 
 
A povoação serpenteia ao longo do litoral de uma baía do Loch Carron, entre palmeiras e ilhotas arborizadas, que beneficiam de um clima bastante suave devido à corrente quente do Golfo que se dirige para a costa ocidental escocesa.

O cais ajardinado ao longo da baía oferece locais de pouso para disfrutar.

O núcleo principal é uma arco de baía de águas rasas, onde o casario segue a estrada em toda a extensão, numa fila contínua de casas na maioria brancas, com dois pisos e águas furtadas, voltadas o Loch. Toda essa frente construída data do século XIX. 

A rua principal, Harbour Street, organiza toda a povoação.

 
Há pouco mais do que duas ruas: uma rua frente ao Loch, Bank Street / Harbour Street, onde convergem vielas laterais; e outra paralela nas trazeiras, Innes Street, mais curta. O que marca a diferença é o 'arzinho' de ilha tropical conferido pelas palmeiras.

 
Harbour Street é ajardinada em toda a extensão do balcão sobre o Loch. Uma das ruas mais bonitas da Escócia.

Na rua transversal Innes Street fica a pequena igreja de Plockton, de 1828.



Também em Innes Street há uma galeria de arte, a Studio

 
Mas é em Harbour Street que há quase tudo - uma loja, o correio e quiosque, o restaurante, alojamento local.
 

 Craft Shop, jornais e artesanato, na esquina de Innes St. com Harbour St.
 
Plockton Shores, loja e restaurante. 
 
 
Uma casa que se distingue é o Plockton Hotel, de arquitectura igual às outtras mas de parede pintada a preto e branco imitando ardósia. 


 
Suponho que um dos atractivos do hotel são as vistas sobre o golfo e as pequemas ilhas.

Uma vista do Hotel sobre a baía, com parte da ilha de Eilean nan Gamhainn
 

Quanto a peculiaridades de Plockton, há dois sítios especiais. 
 
O primeiro, é uma 'igreja' a céu aberto:
 

A única e exclusiva "Open Air Church" - baseada numa lenda sem sustentação arqueológica: é um pórtico misterioso no meio do bosque verde da periferia, que dá passagem para um anfiteatro de relvados que mãos locais arrajaram à medida. Mas a gente de Plockton e muitos visitantes gostam de lá ir e ficar em recolhimento, ou dançar em rodopio como sílfides.

 
O acesso a partir da estrada faz-se por uma escadaria curva em pedra.
 
Era para ser uma igreja divergente, resultado de um cisma na greja da Escócia em 1843.


Passado o arco, estamos numa ampla ravina com chão de relva e ervasdaninhas cercado por muros de pedra, revestidos de fetos raquíticos e tojo. Tudo a descoberto, claro, isso é que marca a diferença.
 

No livro de Louise Doughty, é aqui que a protagonista desenterra um cofre deixado pela sua maior amiga, que lhe irá alterar a vida. Seguidamente, ela parte de volta para Inverness, pela bonita linha de Kyle. A fuga continuará.

Outro sítio especial é a pequena estação ferroviária, da era vitoriana, bem cuidada.

Plockton Station

As duas carruagens azuis da Kyle Line atravessam paisagens de lagos, colinas e floresta do oeste da Escócia.


 
 
Mas Plockton é sobretudo um local magnífico de pouso para visitar o superlativo Eilean Donan, a 15 km no afamado Loch Alsh.

O enquadramento ajuda a valorizar o castelo.
 

O castelo ficou ainda mais famoso e conhecido com as cenas de Entrapment (Armadilha), aqui filmadas.

 
O que vemos é uma reconstrução do século XX sobre ruínas abandonadas de um castelo do séc XIII, para defesa contra os Vikings. Em 1719, ocupado por espanhóis (!), foi conquistado e depois demolido pela Marinha Real.


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Henningsvær, aldeia renascida das ilhas Lofoten


As Ilhas Lofoten, na costa atlântica central da Noruega, são notáveis por várias razões.

  - São dos poucos territórios europeus que mantêm a sua autenticidade natural, oferecendo paisagens fabulosas de montanhas e fiordes.

  - São povoadas de pitorescos portos pesqueiros tradicionais, que se dedicam sobretudo à pesca do bacalhau desde a era Viking.

  - É nas Lofoten que se situa o maior torvelinho marítimo da Europa. o Maëlstrom descrito por Allan Poe, no extremo poente da ilha ao largo da aldeia de Å.

  - São um possível limite norte do local referido por Plínio como 'Ultima Thule', na narrativa das viagens nórdicas de Pytheas. É a tese defendida por Nansen.

Mas é fácil encontrar mais coisas notáveis no arquipélago.

Reine e  Å no extremo, junto ao Maëlstrom; Henningsvær fica mais perto da costa.
 

Henningsvær, 68° 11' N, 14° 13' E
(mais de 180 km a norte do Círculo Polar)

Festvågtind (540 m), o rochedo com que a cadeia dos montes Vågakallen termina no mar, é o pano de fundo desta vista.

Henningsvær é uma vila pesqueira com pouco mais de 500 habitantes; a povoação está dispersa por vários ilhéus à volta da ilha maior Austvågøya, no arquipélago das Lofoten. Está ligada ao resto do território pelas Pontes de Henningsvær.

Vista do alto do rochedo Festvågtind, com a estrada 816 a serpentear de ilha em ilha, de ponte em ponte.

A primeira notícia escrita de Henningsvær data de 1567; mas foi no século XVIII que a aldeia mais cresceu em população e passou a contar com serviços básicos de saúde, correios, e ligações regulares por barco. Água doméstica e electricidade só chegariam no século XX.

O porto é um largo canal entre duas ilhas que foi fechado, dando um toque Veneziano à ilha.

A economia assenta nas indústrias da pesca, até porque um dos mais ricos bancos de pesca do mundo fica ali mesmo, a sul de Henningsvær. A frota actual ronda dez barcos registados no porto.

As espécies mais captadas actualmente são o bacalhau, a cavala, o alabote (halibut), a arinca (haddock) e o badejo.


Cais dos Ingleses: o centro e a zona comercial


O mais parecido com um centro urbano é a zona em volta do Engelskmannsbrygga (= cais dos ingleses), um antigo armazém na rua Dreyers Gate. É uma área pedonal onde o cais foi adaptado a zona de lazer.

 
Uma Galeria de Arte e oficina de cerâmica e vidraria ocupa a Engelskmannsbrygga. Tem sopradoras de vidro, ceramistas e um fotógrafo que na loja vendem a sua criações. É um dos locais mais visitados.
 
 
  
 
 
 
Tudo tão bonito e perfeitinho.

 
 
 
Uma das vidreiras da equipa.
 
 Pelo Natal,é uma tentação
 
A seguir, na rua Misværveien, fica o Klatrekaféen (Café dos Alpinistas) e as Galleri Lofoten.


O Klatrekaféen é uma das casas mais famosas, construída em madeira sobre as estacas do cais e de um vermelho intenso. Abre-se para o porto, mas a entrada é por trás.


Bacalao, 200 NOK ~ 21 €, vá lá...
 

Galleri Lofoten
 
 
O vermelho intenso de um antigo armazém tranformado em espaço artístico.

Exposição com trabalhos de S. M. a Raínha Sonja em 2020

Otto Sinding (1842–1909) faz parte da colecção.

Ah! barcos, o culto escandinavo dos barcos.´
 

Galleri Lofoten - Henningsvær (galleri-lofoten.no)

Outra loja especial é a Catrine Linder, joalharia de criação local.
 

 
Mannfolkparkering
 
 "Parque de estacionamento para homens". Uma originalidade local, enquanto as mulheres andam nas compras... único no mundo, talvez.
 
Vista à luz do Inverno 
 
Uma aldeiazita remota de pescadores, notem. É a diferença escandinava: riqueza bem distribuída, não há regiões abandonadas.

História

O Jekta Pauline, um barco nórdico de transporte de peixe no séc. XVII

A povoação surgiu no séc. XVI mas a maioria das casas que se conservaram são do séc. XVIII / XIX, sobretudo armazéns ligados à actividade pesqueira. Depois das pragas medievais, a Liga Hanseática estabeleceu-se em Bergen e passou a controlar o negócio das pescas - captura, indústria e transporte do precioso peixe seco. No século XIX Henningsvæer tornou-se o maior centro pesqueiro das Lofoten, mas não deixava mesmo assim de ser uma aldeia pobre, atrasada e isolada, como documentam as fotografias da época. 

Durante a 2ª grande guerra Henningsvær foi duramente castigada com a ocupação alemã - prisões, bombardeamentos... As ilhas produziam um óleo de peixe de onde se extraía uma glicerina que fazia falta aos alemães para fabricar explosivos, e os aliados tiveram de destruir fábricas e portos; muitas infraestruturas de pesca foram arrasadas. Foi durante o desembarque que capturaram engrenagens de uma máquina Enigma e um livro de códigos, o que lhes permitiu decifrar as mensagens navais alemãs!  

As pescas retomaram depois ainda mais intensamente, atingindo máximos e elevando a população até 1 000 habitantes nos anos 50. Desde então, com o declínio das espécies, os pequenos barcos de madeira foram abandonados em favor de menos mas maiores embarcações, e a população diminuiu.

Em 1960, abriu a fenomenal estrada 816 Henningsværveien, e estabeleceu-se uma ligação próxima por ferry; nos anos 80, um sistema de pontes que permite uma ligação rápida por estrada. Henningsvær viu-se subitamente rica, moderna e visitada: no Verão o turismo passou a ser uma indústria relevante, com significativo crescimento da hotelaria e excursões organizadas.

O velho barco de pesca Sabina reconvertido para turismo de pesca

Na longa noite ártica, o céu pode iluminar-se de verdes...