domingo, 7 de dezembro de 2025

Pärnu, cidade histórica e hanseática da Estónia


Kuninga tn., rua histórica de Pärnu

Sinto pela Estónia uma imensa simpatia, não apenas por ser um posto avançado da Europa no leste, mas por ser um posto avançado de arte, cultura, civilização, e um modelo de país 'ideal' - pequeno, afável, acolhedor. Já louvei aqui no blog a ilha de Kuresaare e a vila de Saaremaa, a cidade-fortaleza de Narva na fronteira russa, agora proponha uma visita detalhada a Pärnu, na costa do Báltico. 

A cidade está numa baía do Golfo de Riga.


Pärnu

A antiga Pernau, fundada em 1251, já era uma cidade portuária no estuário do rio Pärnu, um dos maiores da Estónia (144 km). Graças ao porto fluvial e à situação geográfica não tardou a entrar para a Liga Hanseática e estabelecer negócio previlegiado com a Holanda e depois a Suécia. Nesse comércio marítmo, sobretudo em madeira, ferro e cobre, cresceu até ao século XVII. 

À esquerda, as pontes sobre o rio Pärnu; à direita, o antigo fosso que foi porto medieval; em cima, ao longe, a cidade antiga.

Com cerca de 40 000 habitantes, Pärnu é a principal cidade de veraneio da Estónia, tendo rio e mar, praias com dunas, muita arquitectura dos séc. XVII, XVIII, e do séc. XX que constitui património protegido. 

A ponte nova (2025) sobre o rio Pärnu

O centro antigo foi parcialmente destruído na 2ª Grande Guerra. É um reticulado plano de ruas com casas de pedra e de madeira que datam desde o séc XVII, as mais antigas próximas do porto fluvial. 


As ruas (tänav) principais do centro antigo, com muitas casas em madeira colorida, são a Nikolai, a Kuninga (Rei) e a Uus; a Pühavaimu e a Rüütli são pedonais e comerciais, com esplanadas e alojamento. Não existe uma praça central.

Câmara de Pärnu

Na rua Uus (Rua Nova) está a Câmara, o Turismo e a Igreja de Stª Catarina, não por acaso mandada construir pela Imperatriz Catarina a Grande quando visitou a cidade em 1764; ficaria terminada em 1769.

Igreja de Stª Catarina, ortodoxa obediente a Moscovo

Rua Kuninga

É o eixo principal do núcleo antigo, juntamente com a perpendicular Nikolai.

Rua Kuninga, e a igreja de Stª Isabel.

Igreja de Stª Isabel é o ex-libris, presente em quase todas as vistas. É uma igreja neo-barroca de 1750.



O 'Kolbe', um dos melhores órgãos do país.


Rua Nikolai é o outro eixo do núcleo antigo, do séc. XVII-XVIII. Na esquina com a Rua Uus fica esta jóia em madeira, com empena em enxaimel: 

Rua Nikolai nº 8, Casa dos Cidadãos, de 1740 - uma espécie de museu da cidade.

Na esquina com a rua Pühavaimu, esta outra em pedra, ainda da era hanseática:

No nº 28, uma casa de 1700, uma das mais antigas.


Na outra esquina em frente, outra casa classificada de 1759: o Café Pastoraat, uma sala requintada.

Rua Kuninga, 30


As trazeiras dão para a Rua Pühavaimu:

Mais casas de madeira, e esplanadas.

Uma via muito frequentada do burgo antigo.


Mas a casa mais antiga de Pärnu é a Seegi Maja, de 1658. Era um asilo ou hospital dos pobres, foi totalmente restaurada. Fica na esquina da Kuninga com a rua Hospidali.

Seegi Maja', antiga casa de enxaimel, fundada para abrigo dos pobres; é agora alojamento e restaurante.


Testemunho de tempos áureos é o Café Grand, de 1934, em Arte Nova, digno de uma capital centro-europeia:

Rua Kuninga nº 25 , perto da Hospidali.




O Festival anual Dias Hanseáticos

Tem lugar anualmente nas margens do antigo fosso das muralhas, que funcionou também como porto medieval hanseático: o Vallikäär ou Vallikraav.

A cidade está à direita do antigo porto.



Vamos então à praia do Báltico. Fica a menos de 5 minutos da cidade.

O Rannahotell

Praias de luxo para férias no Báltico.

Construído em 1937, pouco antes da guerra; desde os anos 30 que a estação balnear em Pärnu estava na moda entre os russos e escandinavos ricos. Em 2016 o hotel foi amplamente renovado para uma nova vida.


Café Rannakohvik


Ao lado, uma café de praia de arquitectura também elegante, não invasiva, de um tempo em que isso contava, os anos felizes entre guerras.



domingo, 30 de novembro de 2025

Os posts mais vistos no "Livro de Areia" desde finais de 2024



Embora o máximo de visionamentos de um post esteja na casa dos 3 milhares, isso já foi há muito tempo. Depois do Covid e da IA é uma sorte passar dos 100.
Aqui está a lista dos mais visitados ultimamente:

Aasiaat, em Disko Bay (Gronelândia), Ártico civilizado -----------------------------  211

Cruzeiro no MS Bruvik até ao fim do mar: Mo i Modalen --------------------------  156

Wick e Thurso, em Caithness - a remota e bela Escócia ---------------------------  125

O Universo numa fórmula ---------------------------------------------------------------- 114

Leituras na varanda ao sol de Setembro ----------------------------------------------- 114

Batumi, porto e cidade vibrante do Mar Negro, na admirável Geórgia -----------  100


E ainda não cheguei ao milhão - no total estou nos 673 000. 

Estão ainda em rascunho: La Rochelle, Stromness, Trondheim, Estonia, Bath, Basileia. Isto quanto a cidades onde estive ou gostaria de ter estado. Posso aceitar sugestões de prioridade...




domingo, 23 de novembro de 2025

Ilha de Victoria , na Passagem ártica do Noroeste: uma Cratera gigante e duas aldeias Inuit


Um território de tundra arenosa, semidesértico, com relevo baixo.

Esta área do Arquipélago Ártico do Canadá foi intensamente explorada por navegadores, caçadores e aventureiros no século XIX. Barrow, Cook, Franklin, Rae, McClure, Amundsen são apenas os mais famosos entre muitos outros; a Hudson's Bay Company alcançou estas terríveis latitudes, acima de 70° N, com entrepostos nas duas povoações da Ilha Victoria: Holman e Cambridge Bay.

A Passagem do Noroeste segue ao longo dos canais a sul da ilha.

A Ilha de Victoria, que é a segunda maior do Canadá e a oitava maior do planeta (maior que a Grã-Bretanha), ganhou maior protagonismo devido à importância estratégica da Passagem do Noroeste, a rota marítima ártica que atravessa o Arquipélago junto à ilha, justamente onde navegaram tantos exploradores e onde se desenrolaram naufrágios e as muitas tragédias que lhes seguiram. Mas ainda ganhou ainda mais por ser um local de treino para estadias em Marte ! É na área a Nordeste, em redor de Collinson Inlet,  que as condições do terreno são mais próximas das marcianas - arenosas, pedregosas e com penhascos.

A Cratera Tunnunik

Começou por ser chamada "Prince Albert crater", por estar na península com esse nome. Mas hoje em dia a "correcção" anti-colonial dita que de designem acidentes geográficos na língua dos nativos. O que cientistas descobriram foi uma estrutura geológica de padrão circular, com 25 km de diâmetro, onde se encontraram estuturas cónicas de material e estratos sedimentares com forte declive que apontam para o impacto de um meteoro, com alguns quilómetros de diâmetro.


O impacto do meteoro libertou uma fonte de água que jorrou à suerfície e ao long de milhares de anos escavou um Canyon.

Canyon de Tunnunik

A garganta cavada por um rio na tundra, mostra estratos sedimentares em declive acentuado. Essas camadas deformadas são a elevação central que resultou da recaída de material após o impacto do meteoro, há 350-400 milhões de anos.

Um dos cones de fractura (shattercones), típicos de crateras de impacto.

Paisagem extraterrestre ? Os futuros visitantes de Marte já treinam nesta região da Ilha Victoria

A cratera Tunnunik a noroeste, o rio Ekalluk no sul, junto a Cambridge Bay.

Descendo para sul, encontramos um rio que se tornou particularmente famoso pela riqueza em trutas árticas (salvelino); muitos pescadores aventureiros vão para Holman com o intuito da pesca no rio Kuujjua.

Nasce no centro da ilha e corre 350 km para oeste através da tundra, desaguando em Minto Inlet, uma entrada do Mar de Beaufort.

A tundra estéril à volta do rio Kuujjua.

Outro rio muito peocurado pela pesca mas de curtíssimo percurso é o rio Ekalluk.

Nasce do lago Ferguson (Tahiryuaq) , corre apenas 3.5 km até a Wellington Bay, pouco a Norte de Cambridge Bay.  Foi John Rae o primeiro homem que descobriu estas geografias.



John RaeRobert McClure e Roald Amundsen visitaram a Ilha Victoria. John Rae foi o primeiro explorador a subir o Monte Pelly, a norte de Cambridge Bay, quando procuava sinais do naufrágio dos navios de Franklin.

Monte Pelly, Cambridge Bay.

Num território tão grande como a Grã-Bretanha, é algo insólito haver apenas duas aldeias; mas estamos isolados no mar, e 160 km a Norte do Círculo Polar Ártico !

Holman  (Ulukhaktok)

População: 410 (cresce no Verão)
Coordenadas: 70° 44′ N, 117° 46′ W

O primeiro entreposto da Hudson's Bay Company foi estabelecido nesta área, em 1923, e mudado para Holman em 1939. Em 2006, o nome da aldeia foi mudado para o inuit 'Ulukhaktok'.

Holman é uma povoação arrumadinha, com uma frente de casas dispostas em arco ao longo de uma baía.


Igreja de madeira, anglicana, é da época da Hudson Bay Co.


Nesta aldeiazita ártica existe um centro de arte Inuit (gravura e escultura):


Mary Okheena

Mary Okheena

Helen Kalvak

Foi o nome de Helen Kalvak que foi atribuído à escola em Holman.

Em frente da escola há sempre um grande número de snowmobiles.

Alunos da escola numa saída de estudo, sob temperatura de congelar.

Lição de Geografia.


A outra povoação da grande ilha é mais caótica, mas também mais populosa e dinâmica:

Cambridge Bay  (Iqaluktuttiaq)

Para uma aldeia a quase 70º N, é maior do que seria de esperar.


Coordenadas69° 07′ N, 105° 03′ W
População: ~1800 (cresce no Verão)

Cambridge Bay é uma povoação Inuit na semi-desértica tundra ártica do sudeste da Ilha de Victória. É a última escala para navios de passageiros e de exploração científica no percurso da Passagem de Noroeste; por essa razão é de importância estratégica para o Canadá, uma base militar para o exercício da soberania nestas águas disputadas , que muitos querem ver declaradas "internacionais".

O nome inuit da aldeia é Iqaluktuttiaq, que significa "um bom sítio onde o peixe abunda".

A Hudson's Bay Company fundou aqui um entreposto em 1839.

Antigo posto da Hudson's Bay Company. Aqui nasceu Cambridge Bay.


Como centro regional, Cambridge Bay tem bastantes equipamentos e serviços : escola, centro de saúde, banco, ginásio com piscina coberta, alojamentos, polícia, a sede administrativa... e o aeroporto !

O terminal do aeroporto.

Escola Secundária Kiilinik 

A escola Kiilinik resulta de um projecto de arquitectura inteligente, adaptada ao local e ao clima, com grandes espaços interiores - hall, museu, biblioteca. Foi um marco na modernização da aldeia.



Biblioteca da escola

Artic Coast Visitors Centre, com informação sobre a região.

Mapa das viagens de exploração, em navios (vermelho) e a pé (preto) - as do orcadiano John Rae.

Os escritórios da Associação Inuit de Kitikmeot, outro edifício a marcar alguma diferença.

A relevância da aldeia nota-se em estruturas como o aeroporto ou este supermercado inuit COOP.

Há não um mas DOIS cafés em Cambridge Bay. Esdte Saxifrage leva o nome da mais famosa planta de flor ártica.


Aparentemente, a qualidade das casas é um pouco melhor, mas o clima nada mais ameno, entre -30 e +3ºC. Para servir as Escolas há um autocarro aquecido!

Paragem do autocarro escolar.

O North Warning System (NWS) e a operação Nanook

A soberania e a defesa deste território e sobretudo das águas nacionais Canadianas exerce-se com cada vez mais preocupação e intensidade. O sstema de radares do Ártico Canadiano já vem da 2ª Grande Guerra, mas tem sido modernizado e ampliado.


Por outro lado, as Forças Armadas do Canadá realizam exercícios de treino periodicamente, como este desembarque em Cambridge Bay, com o nome de código "Operação Nanook".


Os militares reunem sempre com a população nativa para explicar a operação e mater relações cordiais que possam motivar a mobilização.

Uma cerimónia Inuit - 'Qulliq' - com os convidados militares da Operação Nanook.