terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ler e Reler: O passeio divino de Marco Aurélio


"Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde"

Mário de Carvalho


Um "Livro da minha vida" para décadas de releituras

Numa cidade romana da Lusitânia, ao tempo de Marco Aurélio, o magistrado supremo vive um shakespeareano “to be or not to be” simultâneamente actual e muito bem enquadrado historicamente, rodeado de sinais e personagens, costumes e instituições que resistem (uns) ou prenunciam (outros) uma viragem histórica, tudo brilhantemente narrado num português elegante e bonito cuja leitura é uma permanente delícia.

Três personagens magníficas – o duúmviro Lúcio , a esposa Mara e a cristã Iunia – observadas com detalhe e argúcia psicológica, dão vida intensa a uma trama onde a novidade do cristianismo se vai contrapondo cada vez mais ao agnosticismo e aos valores e costumes romanos. Lúcio é um filósofo humanista, que tende para a contenção e a tolerância, entre fascinado e agastado pela palavra e pela presença de Iunia.

Excelente a sequência do cerco mouro que precipita o final, em que um homem decente, preocupado e racional reconhece que não há poder contra a indiferença cívica, as superstições étnicas , o fanatismo moralista e a tentação da violência. Refrescante também a perspectiva sobre os cristãos como minoria pacificamente subversiva...

1995 - Grande Prémio APE
1996 - Prémio Pégaso de Literatura
1996 - Prémio Fernando Namora

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