Como ainda agora regressei de Oxford e tenho pouco tempo, começo por um post fácil sobre a colecção de relógios solares nos pátios relvados (quads, de 'quadrangles') dos vários Colégios.
Poucos sítios terão, como Oxford, percursos de descoberta de tão numerosos relógios de sol (*); a necessidade de medir a passagem do tempo diário não é certamente o principal motivo: há um culto do clássico, da Babilónia e Egipto, de Grécia e Roma, dos astros e da cosmologia medieval-renascentista, até ao séc. XVI. Mas continuaram a ser usados, simultaneamente com os relógios mecânicos, até ao século XVIII, sobretudo para aferição e acerto da hora. A partir de então passaram a elemento decorativo de torres e jardins - ocupavam pessoas suficientemente educadas na matemática e na cosmologia celeste - meridianos, equinócios, equações, goniometria (ângulos, graus).
Também são, a par dos relógios de água, a única medição contínua do tempo (que supostamente flui continuamente): os relógios mecânicos, digitais, de areia, etc, procedem por saltam discretos. Penso que toda a gente sabe que os relógios de sol medem o tempo através da projecção da sombra de um mastro (gnómon) que se vai deslocando sobre um mostrador (dial, em inglês).
Os que vi em Oxford são todos do tipo vertical. Começo pelo do Christ Church College, onde a tradição avança o tempo de 5 minutos sobre o GMT, devido à diferença de 1º 15' (oeste) sobre o meridiano ! A diferença entre este tempo solar e a hora universal pode ir aos 15 minutos em Novembro...
Este relógio é da primeira metade do séc. XVIII. O quadrante, muito sóbrio, acerta a longitude para a diferença com o GMT.
Na parede voltada a sul.
O Brasenose College é menos prestigiado, mais vulgar na arquitectura, mas tem um dos mais antigos relógios de sol, de 1719. Fica mesmo ao lado da Bodleian Library, no centro histórico.
A parede não está exactamente virada a sul, mas a sudeste, portanto funciona melhor de manhã.
O Merton College é um dos mais bonitos, com vários jardins; a edificação principal data dos séc. XIII e XIV, sendo portanto um dos mais antigos. Aqui estudou J. R. Tolkien. No Fellow's Quad , encimando a frente norte, está este relógio, de feitura moderna - 1974. O quadrante dá também informação sobre as constelações do zodíaco:
O céu estava encoberto - suponho que é o normal, os sundials só funcionavam 'now and then' entre os pingos da chuva inglesa.
Uma breve aberta !
Um menos recente, inaugurado por Isabel II em 1953, é no belo e romântico St. Edmund's College Hall, talvez o meu favorito; substituiu o antigo que estava irreparável.
Na parede norte do Quad.
O Magdalen College é sem dúvida o mais admirável dos colégios. Na parede do recente Grove Auditorium, este relógio pintado sob MM (Mary Magdalen) marca também o segundo milénio MM - data em que foi construído.
Também de 2000 é o relógio solar do velhinho New College (séc. XV), mesmo no centro:
E termino com um dos mais antigos e espectaculares: o "Pelican Sundial" do Corpus Christi College (séc. XVI). Num quad feio, cimentado (sem jardim nem relvado), o relógio solar de 1581 circunda uma coluna encimada por um pelicano:
O pelicano a bicar o peito é um símbolo bíblico (pelicano eucarístico).
Mais na The British Sundial Society (sundialsoc.org.uk)
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(*) Lisboa tem 11, pelo menos; hei-de os procurar.
2 comentários:
E o Porto?
Aqui no Botânico fizeram uma coisa no chão que pensei seria um relógio de sol, mas ainda não compreendi para que serve.
É curioso haver tantos sundials num local onde o sun nem sempre aparece.... :)
Muito interessante. É preciso paciência para andar a fotografar tantos e tão bem....
Paciência não, foi um gosto. Era um dos percursos temáticos e tinha a vantagem de passar em todos os colégios. Tive sol quase sempre...
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