quinta-feira, 25 de maio de 2017

Oxford 4: no labirinto dos colégios e bibliotecas


Quinze dias eram bem precisos para calcorrear os percursos entre e dentro dos colégios de Oxford - e só falo dos que são acessíveis ao público. Há espaços tão mágicos e encantatórios que não admitem visita rápida, há que conseguir planear bem o tempo... Fachadas medievais, travejamentos, vitrais, claustros, altares esculpidos, nervuras góticas, quilómetros de prateleiras de livros antigos, trepadeiras e relvados, cúpolas e torres victorianas e relógios de sol, passeios entre muros vetustos, grades de ferro forjado e portais em arco, gárgulas aos milhares - parece que estamos numa cidade imaginária de Italo Calvino. Mas só - só ! - na zona história universitária e dos museus: o resto de Oxford é feioso, sujo, caótico e incómodo, não houve qualquer investimento ou cuidado em rodear a História de uma envolvente limpa, organizada e elegante.

Toda a gente conhece - nem que seja do cinema e de séries da TV - alguns lugares mais chamativos dos edifícios colegiais. Esta é a selecção do que vi e fotografei, por vezes sem permissão. Sítios por onde andaram Lewis Carroll, C.S. Lewis e Tolkien, Oscar Wilde e Shakespeare, T.S. Eliot e Graham Greene, Edwin Hubble e Aldous Huxley, T. E Lawrence e John le Carré, John Locke e Jonathan Swift, Christopher Wren e William of Ockham... já para não falar de cantores líricos, actores, políticos, etc.

O coração de Oxford:

Magdalen College e Queen's Lane

A ver só um colégio, é este. Fundado em 1458, teve alunos como Schrodinger (o físico quântico do 'gato') , Wilde e C.S. Lewis.


A torre de St. Magdalen é 'a' torre de Oxford, um marco incontornável.


Passando a entrada, um pequeno 'quad' com um torreão e fachada neo-góticos do arquitecto victoriano que mais obra deixou em Oxford, William Bodley :



Segue-se o famoso claustro, ele próprio mais um quadrangle, com invulgar decoração de estatuária a toda a volta por cima da galeria. Gryffindor, Hufflepuff, Ravenclaw, Slytherin - devem ter nascido aqui, destes leões, pássaros, cobras e lagartos, seres mitológicos e demoníacos.





A capela é dos primeiros anos da construção do Colégio, 1474-80. De nave única, a parede do altar está decorada com estatuária mais recente, de 1864-65, lembrando um "iconostasis" em pedra.



Consegui assistir a uma sessão de cânticos do Magdalen College Choir, uma sorte - de um lado crianças (agudos), do outro jovens à volta dos 20 a dar os graves.


Já com o sol muito baixo, saímos curvando por uma viela lateral - Queen's Lane - em direcção a um dos mais famosos recantos da cidade.



Seguindo em curva, estamos entre o Merton e o New College, sob a célebre Merton Bridge frente ao cruzamento mais lindo de Oxford.


A 'ponte' de Merton foi construída em 1913, obviamente inspirada pela célebre ponte de Veneza. A verdade é que foi um acrescento genial.


E desaguamos frente ao Sheldonian Theatre:

O Sheldonian de Christopher Wren.


A Bodleian Library e a Divinity School


Da torre da Igreja da Universidade, descobrem-se os pináculos e a malha colegial com os seus recintos, torres e capelas.


Tive a sorte de um fabuloso sol de primavera. À volta, passava a vida estudantil plena do mês de Maio.


A Divinity School é um edifício gótico (1427-1483) onde decorriam leituras de teologia e os exames mais formais. O trabalho em pedra para sustentação do tecto é de William Orchard, c.1480. Trata-se do mais antigo edifício construído em Oxford com o propósito de ensino universitário.





No andar de cima, a velha Bodleian:



Fundada em 1602 por iniciativa de William Bodley, recorrendo a múltiplas doações, foi aqui que nasceu o copyright : Bodley fez um acordo para que uma cópia de cada publicação viesse para a biblioteca; ainda hoje vigora, mas nestas galerias só estão livros antigos, da colecção original (cerca de 16 000 em 1620); o grande armazém é noutra cidade próxima, Swindon.

Lugar sagrado ?

Farncis Bacon:
"A Bodleian é uma arca para salvar a sabedoria do dilúvio"


A parte mais antiga, de 1488, foi construída directamente sobre o Divinity Hall, quando o Duque de Gloucester doou um grande número de manuscritos à Universidade. A Duke Humfrey's não é visitável, só se pode observar do lado de fora do ponto de controle. Vários Codex, exemplares da Bíblia de Gutemberg, manuscritos de Shakespeare...


Nenhum livro pode ser levado para fora da biblioteca.

Juramento do estudante:

" Do fidem me nullum librum vel instrumentum aliamve quam rem ad bibliothecam pertinentem, vel ibi custodiae causa depositam, aut e bibliotheca sublaturum esse, aut foedaturum deformaturum aliove quo modo laesurum; item neque ignem nec flammam in bibliothecam inlaturum vel in ea accensurum, neque fumo nicotiano aliove quovis ibi usurum; item promitto me omnes leges ad bibliothecam Bodleianam attinentes semper observaturum esse."

"Aqui me comprometo a não remover da Biblioteca, não marcar, apagar ou de alguma forma lesar nenhum volume, documento (...)". O mais engraçado é o acrescento moderno "neque fumo nicotiano".

Lá fora de novo, um chá na esplanada do Vaults & Garden, frente à Radcliffe. Mesmo com o dia soalheiro, às 6 já faz fresco e sabe bem a bebida quente.

A crer na série 'Lewis', aqui se serve (às vezes, a certas pessoas) arsénico no café :D

Regresso pela rua mais linda de Oxford, Brasenose Lane, cenário de cinematográficos passeios.



No século XIX, mal iluminada, era uma rua temível, com fama de assaltos e crimes. Por isso as janelas eram reforçadas com gradeamentos.


Agora é um paraíso de ciclistas.




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