Volto às aldeias rurais dispersas nas ilhas Faroé, com as suas casas de madeira pintadas de preto e cobertura de relva.
Actualmente são todas servidas por estradas e muitas têm heliporto, o isolamento já não é o que era quando as ligações só se faziam por mar; nota-se, por exemplo, no facto de em muitos destes locais haver aojamento e restauração e mesmo obras de arte de escultores sobre temas do folclore faroense.
Mikladalur fica no alto de uma falésia, com acesso ao mar por uma rampa. Mas ficou mais famosa por uma bela escultura em bronze da lendária Mulher Foca, uma sereia nórdica, em pé sobre as rochas ao nível do mar, face a uma queda de água lá do alto.
Mikladalur é antiga, relativamente: já é mencionada por escrito em 1298, na contagem de ovelhas e cães da ilha. Mais tarde, em 1584, há um livro de registo de proprietários que menciona também a primeira assembleia da aldeia, no adro da Igreja, em 1646.
Após séculos de agricultura e pastorícia, Mikladalur converteu-se no século XIX num portinho de pesca, bem situado próximo de alguns bancos de pesca. Cresceu mesmo com gente que veio de outras aldeias para se dedicar à faina do mar. Outra actividade nessa época era a caça de aves, que trazia uma receita importante à aldeia. A estrada chegou em 1980, e a vida mudou desde então. Até um café já lá abriu.
Mikladalur, ilha de Kalsoy
População: ~30
Coordenadas: 62° 20' N, 6° 46' W
A igreja actual é de 1856
A
forja do ferreiro Nornðástova, casa de pedra pintada de vermelho com cobertura de relva, foi um centro de actividade na ilha, ensinando a profissão a muitos aprendizes. Fabricava ganchos e arpões para a caça às baleias, facas, foices e até armações de óculos.
A forja fechou na década de 1970, mas o forno e a roda ainda funcionam, agora protegidos por um coberto. Mantém-se na família Norðnástova.
Também há um moínho de água no ribeiro que desce pela aldeia. Todas as aldeias da ilha tinham um, para moagem de grão - cevada e milho.
Kópakonan, a Selkie de Mikladalur.
A lenda de Mulher Foca das Faroé foi eternizada em bronze com uma escultura de Hans Pauli Olsen em 2014, num rochedo baixo ao lado do portinho da aldeia. O enquadramento é espectacular.
Deixo a lenda para publicar no
próximo post, aqui.
Outra originalidade de Mikladalur é um pequeno bosque; já se sabe que nas Faroé as árvores estão ausentes na natureza, só as há em plantação. Por isso esta florestazita é uma atracção:
Nas Faroé, a linha das árvores fica a cerca de 200 m acima do mar. Esta plantação foi feita a 100 metros de altitude, a sudeste da aldeia, nas margens do curso de água que ali desagua. Foi iniciada em 1953, e compõe-se de pinheiros de duna, lariços do Japão e variedades de abeto.
Kallur, o promontório a norte da ilha Kalsoy
A metade norte da ilha de Kalsoy eleva-se mais de 200 metros acima do mar. No pico Nestindar, atinge 788 m.
Penhascos escarpados cobertos por camadas de verdura erguem-se em direcção a um céu que parece fundir-se com o mar.
O percurso pela crista da falésia até ao Farol de Kallur é tão perigoso como irresistível.
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Curiosidade: é aqui que James Bond "morre" atingido por mísseis, no '007 - NoTime to Die'.
1 comentário:
Muito interessante e cativante como sempre, Mário.
Muito obrigado.
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