Patrick Bringley foi guarda do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque entre 2008 e 2017, dez anos de convívio com algumas das melhores obras que a Arte humana produziu. 'Algumas', são centenas, mesmo que o MET não esteja à altura dos congéneres europeus. Bringley descreve o Museu como uma cidade-estado, e dentro dela vários pequenos impérios - os 17 departamentos - que são regulados de forma mais ou menos independente.
Anteriormente tinha trabalhado sob pressão, sentado a uma secretária para o New Yorker. Sobre o que sentiu ao começar a nova profissão, escreve neste seu livro, que é ao mesmo tempo um livro de memórias e uma guia de arte do museu :
" Tinha as mãos livres e a cabeça erguida, e um dever estrito de não estar ocupado com nada. Só tinha de manter os olhos bem abertos. Era como se uma onda de liberdade se viesse espraiar sobre mim. Naquela quietude, o meu pensamento podia vaguear".
Alguns encontros causaram-lhe um pasmo inicial que foi marcante para o resto da vida: O Templo de Dendur do 1º século AC, nas Galerias Egípcias; o Retrato de um Homem, de Ticiano; Vétheuil en été, Monet...
Visita guiada:
Departamento de Arte Egípcia
Hatshepsut
O 5º Faraó da 18ª dinastia foi uma mulher (1507-1458 A.C.). "Hatshepsut" = Primeira entre as Nobres Senhoras.
" Mesmo sob lâmpadas de halogéneo, ela é resplandescente", escreve Bringley. "Os Egípcios investiram com opulência em objectos que deveriam ofuscar a vista como estranhamente, impensavelmente belos, portanto divinos e imortais."
Templo de Dendur
Um dos tesouros do Museu é este Templo, encontrado em Dendur, na Nubia, na margem ocidental do Nilo, a sul de Assouan. Foi oferecido quando a construção da barragem ameaçava submergir a plataforma onde ele assentava.
O
Temple de Dendur data de 10 A.C., já no Período Romano, sob César Augusto.
As duas colunas que simbolizam o Sul (Alto Egipto) e Norte (Baixo Egipto). Não é um faraó, é o Imperador Augusto a fazer uma oferta aos deuses Isis e Osiris, a quem o templo é dedicado.
Ticiano
Rittratto d'uomo, Ticiano, ca. 1515
(...) " tão belo, tão ternamente corado de vida que parece ele próprio vivo, uma memória viva, uma magia viva, arte viva, o que quiserem, vejo-o tão completo, brilhante, irredutível, eterno como desejo que uma alma humana seja."
BruegelCeifeiros, Pieter Bruegel, 1565
Vermeer(...) "uma situação de intimidade possui uma grandeza e uma sacralidade próprias".
Monet
Vétheuil en été, Monet
Parece banhado em luz, e contudo é só côr. "Monet espalhou a côr da luz, como criador benfazejo deste pequeno universo".
Pintura americana, abundante:
Cole Thomas, The Oxbow, 1836
Impressionantes são as ondas tempestuosas da costa do Maine, de Winslow Homer, especialista do mar:
Northeaster, 1895A terminar, Bringley interroga-se : que obra gostaria mais de levar para casa ? E conclui pela Crucificação de Fra Angelico:
Uma invulgar composição circular de personagens em torno da cruz, desde 'basbaques' aos santos que confortam Maria.
E explica ele:
"Gosto da arte que é antiga. Gosto da pintura a têmpera sobre pesados painéis de madeira e folha de ouro estalada com a base de gesso avermelhado a espreitar pelas rachas. (...) lembra-nos do óbvio: que somos mortais, que sofremos, que a bravura no sofrimento é bela, que a perda inspira amor e lamentação. "
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