domingo, 7 de maio de 2023

No MET de New York, acompanhando a leitura de Patrick Bringley


Patrick Bringley foi guarda do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque entre 2008 e  2017, dez anos de convívio com algumas das melhores obras que a Arte humana produziu. 'Algumas', são centenas, mesmo que o MET não esteja à altura dos congéneres europeus. Bringley descreve o Museu como uma cidade-estado, e dentro dela vários pequenos impérios  - os 17 departamentos - que são regulados de forma mais ou menos independente.

Anteriormente tinha trabalhado sob pressão, sentado a uma secretária para o New Yorker. Sobre o que sentiu ao começar a nova profissão, escreve neste seu livro, que é ao mesmo tempo um livro de memórias e uma guia de arte do museu :

" Tinha as mãos livres e a cabeça erguida, e um dever estrito de não estar ocupado com nada. Só tinha de manter os olhos bem abertos. Era como se uma onda de liberdade se viesse espraiar sobre mim. Naquela quietude, o meu pensamento podia vaguear".

Alguns encontros causaram-lhe um pasmo inicial que foi marcante para o resto da vida: O Templo de Dendur do 1º século AC, nas Galerias Egípcias; o Retrato de um Homem, de Ticiano; Vétheuil en été, Monet...

Visita guiada:

Departamento de Arte Egípcia

Hatshepsut
O 5º Faraó da 18ª dinastia foi uma mulher (1507-1458 A.C.). "Hatshepsut" = Primeira entre as Nobres Senhoras.


" Mesmo sob lâmpadas de halogéneo, ela é resplandescente", escreve Bringley. "Os Egípcios investiram com opulência em objectos que deveriam ofuscar a vista como estranhamente, impensavelmente belos, portanto divinos e imortais."

Templo de Dendur


Um dos tesouros do Museu é este Templo, encontrado em Dendur, na Nubia, na margem ocidental do Nilo, a sul de Assouan. Foi oferecido quando a construção da barragem ameaçava submergir a plataforma onde ele assentava. 


O Temple de Dendur data de 10 A.C., já no Período Romano, sob César Augusto. 


As duas colunas que simbolizam o Sul (Alto Egipto) e Norte (Baixo Egipto).

Não é um faraó, é o Imperador Augusto a fazer uma oferta aos deuses Isis e Osiris, a quem o templo é dedicado.



Ticiano

Rittratto d'uomo, Ticiano, ca. 1515

(...) " tão belo, tão ternamente corado de vida que parece ele próprio vivo, uma memória viva, uma magia viva, arte viva, o que quiserem, vejo-o tão completo, brilhante, irredutível, eterno como desejo que uma alma humana seja."

Bruegel

Ceifeiros, Pieter Bruegel, 1565

Vermeer

(...) "uma situação de intimidade possui uma grandeza e uma sacralidade próprias".

Monet

Vétheuil en été, Monet

Parece banhado em luz, e contudo é só côr. "Monet espalhou a côr da luz, como criador benfazejo deste pequeno universo".

Pintura americana, abundante:

Cole Thomas, The Oxbow, 1836

Impressionantes são as ondas tempestuosas da costa do Maine, de Winslow Homer, especialista do mar:

Northeaster, 1895

A terminar, Bringley interroga-se : que obra gostaria mais de levar para casa ? E conclui pela Crucificação  de Fra Angelico:

Uma invulgar composição circular de personagens em torno da cruz, desde 'basbaques' aos santos que confortam Maria.


E explica ele:
"Gosto da arte que é antiga. Gosto da pintura a têmpera sobre pesados painéis de madeira e folha de ouro estalada com a base de gesso avermelhado a espreitar pelas rachas. (...) lembra-nos do óbvio: que somos mortais, que sofremos, que a bravura no sofrimento é bela, que a perda inspira amor e lamentação. " 


Mais: Patrick Bringley interview: A Met guard tells all

"All the Beauty in the World” de Patrick Bringley (Simon & Schuster)

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