Acho que esta Tornio finlandesa vai ser uma surpresa.
Numa ilha da foz do rio Torne, é uma povoação modesta.
População: ~ 20 000
Coordenadas: 65° 51' N, 24° 9' E ( ~100 km a sul do Círculo Polar)
Tornio não é muito antiga, não tem castelos nem mosteiros, mas viveu momentos históricos intensos. Foi fundada como cidade em 1621 por Gustavo II, numa ilha do estuário do rio do mesmo nome. Durante 168 anos foi a cidade mais setentrional do mundo e uma das mais ricas do país. O rio Torne é um dos mais importantes e bonitos da Finlândia, traçando fronteira a oeste com a Suécia, atravessando o Círculo Polar e indo desaguar do Golfo da Bótnia, um sítio geográfico muito peculiar. É também o mais longo e caudaloso rio 'selvagem' da Europa, de curso livre sem barragens nem regulação, rico em salmão; o gelo das suas águas é famoso e procurado por todo o mundo.
Tem uma secção rotativa para abertura a navios maiores, [Foto de Antti Kohonen]
Entre os edifícios modernos da cidade, duas igrejas únicas e marcantes se distinguem : a Igreja de Stª Leonor de Tornio, no centro, e a Igreja de S. Miguel de Alatornio, no sul da cidade. Há ainda uma terceira , mais antiga, numa aldeia próxima do Golfo, Keminmaa. Não falta portanto património nesta latitude finlandesa.
A Igreja de Tornio é o edifício mais antigo e valioso da cidade. Dedicada a Stª Leonor ( Hedvig Eleonora), é de arquitectura nórdica em madeira do século XVII (1686), com torre sineira separada. Tem tecto de madeira com pinturas, e guardas do altar esculpidas em ferro.
Pinturas no cofre do tecto.
O velho moínho de Tornio
Dispersas pelas ruas centrais encontram-se casas de madeira do século XVIII-XIX. Uma das ruas mais antigas é a Keskikatu.
Outra casa bonita é a casa da família Säipä, de 1866:
Rua Lukiokatu, 10
Uma das casas classificada mais bem conservadas é a antiga Câmara de Tornio (Raatihuone):
Mas voltemos às igrejas; outra ainda mais antiga, mais surpreendente, existe em Keminmaa, Kemi, 20 km para leste de Tornio; é em pedra, data do século XVI mas parece medieval, e vale pelas pinturas no tecto de madeira.
Igreja de S. Miguel de Keminmaa
Não tão antiga mas mais relevante pelo seu papel histórico foi a
Igreja de S. Miguel de Alatornio
Da segunda metade do século XVIII, a Igreja de Alatornio foi classificada Património Mundial como parte integrante da cadeia de medições de Struve, ou Arco Geodésico de Struve, um projecto europeu para aperfeiçoar o conhecimento sobre a forma da Terra no início do século XIX.
A torre de Alatornio foi um dos locais de medição da cadeia Struve
A torre de Alatornio sobe a 40 metros acima do mar, numa extensa zona de planície. Tem por isso a visibildade que era necessária para as medições, cerca de 20 a 30 km de distância. Uma varanda octogonal dá a volta à torre, e foi nela que se instalaram os instrumentos. Dentro, uma pequena sala dá abrigo a quem está a trabalhar.
O Arco de Struve é uma cadeia de triangulações que se efectuaram desde Hammerfest na Noruega até Izmail, na fronteira Roménia-Ucrânia, junto ao Mar Negro. atravessando 10 países e mais de 2800 km. Tiveram lugar entre 1816 e 1855 sob direcção do astrónomo alemão Friedrich Georg Struve, da Universidade de Tartu, um dos locais de observação
Observatório da Universidade de Tartu, Estonia.
As medições de Struve foram os primeiros resultados confiáveis (*) de um longo segmento de meridiano terrestre, e deram início a um grande progresso das Ciências da Terra e da sua Topografia.
O Arco, desde a Noruega, passando pela Suécia, Finlândia, Rússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Bielorússia, Moldávia e Ucrânia.
Foi também um caso exemplar de colaboração de cientistas de vários países para uma causa comum. As medições foram executadas em 265 estações, que ficavam situadas em locais como um furo num rochedo, uma cruz de ferro, cairns (pedras empilhadas) ou obeliscos.
Tornio pode ter uma dimensão de pequena vila, mas surpreende a sua riqueza em Património e História.
(*) Anteriormente tinha havido uma medição na Índia britânica de um arco de 2400 km, entre 1871 e 1802, na 'Grande Pesquisa Trigonométrica'.
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