Regresso às montanhas da Geórgia.
Depois das belas Mtskheta e Mestia, as aldeias do sul do Cáucaso, na região classificada da Svanetia, são outra maravilha. Podem lembrar remotamente as nossas aldeias de Beira Alta e Beira Baixa, casas de pedra a esmo com vacas a passar pelos arruamentos toscos entremuros. Mas o conjunto de aldeias da Svanetia tem uma dimensão e coesão espantosa, um impacto visual fortíssimo com as suas torres fortificadas nos estreitos vales erguendo-se contra o fundo de picos acima dos 3000 metros.
Estamos nos confins da Europa, a paredes meias com a Ásia. O Cáucaso é a fronteira, palco de tantas invasões e batalhas, os seus poucos passes de montanha fortificados; as surpresas abundam, muita História se desenrolou ali entre Roma/ Bizâncio, a Pérsia Sassânida, os Mongóis, e, claro, Turcos e depois Russos. Meio mundo às turras, para lembrar que a coisa vem de longe. Mesmo assim, em tempos de paz por ali transitaram caravanas das rotas comerciais do Oriente, que conseguiam atravessar para a Europa pelos difíceis portos de montanha. A rota da seda também passou por aqui. Actualmemte, uma única travessia é permitida por estrada, fortemente controlada devido ao conflito com a Rússia na Ossétia.
O Cáucaso georgiano atinge o ponto mais alto a ocidente, na região da Svanetia, e é nessa direcção que, a 2100 metros de altitude, se situa Ushguli, um aglomerado de povoações na encosta sul, perto do sopé do Monte Shkhara (5130 m). Num sítio desses não se espera nada como uma aldeia suíça, arrumadinha, como nova; não - é pobre, caótica, arruinada e quase toda feia. Mas ... é espectacular!
Situada na confluência dos rios Inguri e Shavstkala, que descem do glaciar do Monte Shkhara, Ushguli é uma comunidade de quatro aldeias, 45 km a leste de Mestia (património mundial da UNESCO). Ushguli é a mais elevada povoação habitada da Europa.
Devido à situação e às Torres Svan (séculos IX-XII) tem sido destino de turísmo de aventura promovido pelo Estado, e assim no meio dos casebres em ruína ou habitados por gente que subsiste surgem 'restaurantes' que mais serão tascas , e 'hotéis' semelhantes a pensões baratas. Incrivelmente, o conjunto de aldeias resiste e parece cada vez atrair mais viajantes que mais parecem peregrinos, chegados em todo-o-terreno 4WD.
As povoações vizinhas no vale do Inguri que no conjunto se conhecem com Ushguli são: Chazhashi ou Chajashi (ჩაჟაში), Zhibiani (ჟიბიანი), Chvibiani(ჩვიბიანი), Murqmeli ou Murkmel (მურყმელი). Rodeiam a mui venerada Igreja de Lamaria, que protegiam, juntamente com o acesso ao vale, com as suas centenas de torres fortificadas.
Chazhashi, com 28 habitantes, é a mais visitada, talvez a maior, com alguns serviços básicos. Só nesta aldeia há 200 edificações medievais classificadas 'Svan' - torres, igrejas, castelos, machubs (casas térreas anexas às torres). Há um pequeno museu etnográfico com artefactos desde a Idade Média numa dessas machub.
A Torre Negra do Castelo de Tamar, do século X , foi residência de Verão da Raínha Tamar (1184–1213), a heroína nacional da Geórgia que reinou no 'período de ouro' medieval. Devia escrever "Rei Tamar", porque foi assim que a designaram para mostrar estima e respeito.
A Torre ergue-se numa colina acima de Chazhashi.
Lá do topo, visitável, tem-se uma das melhores vistas de Ushguli a estender-se pelo vale do Inguri até à aldeia de Murqmeli e, ao longe, o pico nevado do Shkhara.
Murqmeli ( უშგული)
Chvbiami - Museu Etnográfico de Ushguli
O coração anímico destas aldeias é a Igreja de Lamaria; está situada no topo de uma elevação, de costas para o majestoso Monte Shkhara, a torre feita pelo homem contra os 5000 metros da montanha nevada.
Falta o imprescindível café: chama-se Café Lemi. Já se tornou ponto de encontro bem conhecido dos visitantes.
Num dia de sol, com vista para os cumes nevados, que bem deve saber !
A Geórgia bem precisava de um forte apoio da Europa, mas com a urgência dramática na Ucrânia é difícil que isso aconteça por agora. Vai tentando aumentar os recursos por via do crescente turismo.
A Torre Negra de Tamar
2 comentários:
Continuo a admirar-me com a dedicação e cuidado que dedica a estas "viagens". Claro que imagino que o faça sobretudo pelo prazer que lhe dão, mas ainda assim é admirável, tal como é que as partilhe. São um pequeno oásis, que ao mesmo tempo sossega e dá vontade de mais mundo.
Tudo isso, Inês, mais - neste caso - a necessidade de homenagem; à História, porque andaram por perto Gregos e Romanos, Turcos e Mongóis, e é finalmente uma matriz cristã europeia que se impôs desde a fundação da nação; a este povo, porque não quer ser colónia da decadente potência vizinha , mas sim orgulhosamente Europa; ao Cáucaso, porque é uma das grandes maravilhas deste planeta, que muito poucos conhecem e admiram. Uma espécie de Ultima Thule do Oriente, para mim.
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