No concelho de Arganil, na serra do Açor a uma altitude entre 600 e 850 m, há uma pequena floresta denominada Mata Nacional da Margaraça. Apesar de muito degradada no incêndio de 2017, nem tudo se perdeu, a mata recuperou bem e ainda é um valioso bosque de solo xistoso, rico de vegetação nativa da Península, um raro exemplo do coberto vegetal primitivo que existia há mais de 20 000 anos, quando o clima era mais tropical.
O acesso é a partir de Coja pela estada N344, desviando adiante para Pardieiros pela estrada municipal EM 518, que passa de asfaltado a empedrado e se estreita numa rampa de descida para a Mata.
Carvalhos são as árvores mais abundantes, de variados tipos (alvarinho, negral, roble, cerquinho); muitos sobreiros, castanheiros, e também freixos, ulmeiros, vidoeiros, cerejeiras, medronheiros, aveleiras, loureiros; de salientar uma espécie rara - os azereiros.
As maiores manchas de azereiro no país.
O azereiro (Prunus lusitanica), também chamado loureiro lusitano, é uma planta rara: só existe na Península Ibérica e nalgumas pequenas manchas no sudoeste de França. Era abundante até ao final do Pleistoceno (antigo Terciário), há cerca de 15 000 anos, antes da última glaciação; agora constitui um relíquia histórica que sobrevive em climas onde não chega o frio seco, onde existe humidade elevada e temperaturas moderadas - em vales estreitos ao longo de linhas de água.
Portanto, uma jóia vegetal preciosa na Margaraça.
Na sombra destas árvores e arbustos, crescem muitas outras plantas, algumas raras, como o martagão (Lilium martagon) e outras invulgares, como a pombinha (Aquilegia vulgaris) e a Veronica micrantha, um endemismo ibérico ameaçado.
Lírio-Martagão, espécie rara.AquilegiaAs manchas verdes de floresta mista mais significativas do país são a Mata da Albergaria, no Gerês, e (era) a Mata da Margaraça. Outras de menor valia são a mata do Buçaco, a Serra de S. Mamede, a Serra da Arrábida. Se olharmos para a península, estas manchas são quase irrelevantes à beira da vasta verdura das maiores manchas de floresta, em torno e a norte da Cordilheira Cantábrica - Los Ancares, Somiedo, La Ubiña e Picos da Europa. É chamada a "Espanha Verde", de Léon a Santander.
Um dia também hei de publicar uma descrição detalhada dessa mancha verde Cantábrica.