domingo, 6 de julho de 2025

Mata da Margaraça, um bosquezinho precioso no leste da Beira Litoral


No concelho de Arganil, na serra do Açor a uma altitude entre 600 e 850 m, há uma pequena floresta denominada Mata Nacional da Margaraça. Apesar de muito degradada no incêndio de 2017, nem tudo se perdeu, a mata recuperou bem e ainda é um valioso bosque de solo xistoso, rico de vegetação nativa da Península, um raro exemplo do coberto vegetal primitivo que existia há mais de  20 000 anos, quando o clima era mais tropical.

É um espaço verde muito calmo, denso, fora das rotas excepto para quem anda por perto do Piódão. Não tem estruturas turísticas como o Gerês, vê-se num dia, são apenas 68 hectares.
 
A M518 no início da descida para a Margaraça.

O acesso é a partir de Coja pela estada N344, desviando adiante para Pardieiros pela estrada municipal EM 518, que passa de asfaltado a empedrado e se estreita numa rampa de descida para a Mata.

 
A M518 entra pela Mata da Margaraça 
 
Encosta N-NE da serra do Açor coberta de arvoredo.

  

Carvalhos são as árvores mais abundantes, de variados tipos (alvarinho, negral, roble, cerquinho); muitos sobreiros, castanheiros, e também freixos, ulmeiros, vidoeiros, cerejeiras, medronheiros, aveleiras, loureiros; de salientar uma espécie rara - os azereiros.

As maiores manchas de azereiro no país.

O azereiro (Prunus lusitanica), também chamado loureiro lusitano, é uma planta rara: só existe na Península Ibérica e nalgumas pequenas manchas no sudoeste de França. Era abundante até ao final do Pleistoceno (antigo Terciário), há cerca de 15 000 anos, antes da última glaciação; agora constitui um relíquia histórica que sobrevive em climas onde não chega o frio seco, onde existe humidade elevada e temperaturas moderadas - em vales estreitos ao longo de linhas de água. 

Folhas e flor de azereiro
 
 
O fruto é uma pequna baga, muito amarga, que vai escurecendo à medida que amadurece.

Portanto, uma jóia vegetal preciosa na Margaraça. 

Alguns outros exemplos da variedade de espécies vegetais:

Selo-de-salomão (Polygonatum odoratum) 
 
 
 
Cerejeira brava
 
Medronhos

Na sombra destas árvores e arbustos, crescem muitas outras plantas, algumas raras, como o martagão (Lilium martagon) e outras invulgares, como a pombinha (Aquilegia vulgaris) e a Veronica micrantha, um endemismo ibérico ameaçado.

Lírio-Martagão, espécie rara.

Aquilegia
 
Uma das flores mais bonitas da Mata.

Veronica Micrantha
 
Espora-Brava 
 
Erva-benta 

Há também muito azevinho (Ilex aquifolium), protegido; a variedade de flores inclui ainda orquídeas e narcisos. Abunda os fetos, musgos, líquenes e cogumelos.
 
Feto-pente
 
O silêncio é a magia dos bosques - não perturbar é a primeira prioridade. 
 
Mais vale ir logo que possível, nunca se sabe quando será o próximo fogo.
 
Cascata da Margaraça
 


A nossa miséria florestal
 

As manchas verdes de floresta mista mais significativas do país são a Mata da Albergaria, no Gerês, e (era) a Mata da Margaraça. Outras de menor valia são a mata do Buçaco, a Serra de S. Mamede, a Serra da Arrábida. Se olharmos para a península, estas manchas são quase irrelevantes à beira da vasta verdura das maiores manchas de floresta, em torno e a norte da Cordilheira Cantábrica - Los Ancares, Somiedo, La Ubiña e Picos da Europa. É chamada a "Espanha Verde", de Léon a Santander.


Um dia também hei de publicar uma descrição detalhada dessa mancha verde Cantábrica.