quarta-feira, 18 de março de 2009

Telemann: A Ode ao Trovão (Die Donner-Ode)


TELEMANN (1681 – 1767) está para mim associado para sempre ao programa “Em Órbita” na Antena 2. Com surpresa e depois com prazer renovado, ouvia à exaustão aquele indicativo extraído do concerto para 2 chalumeaux na interpretação de Reinhard Goebel e os Musica Antiqua Koln:



Foi o meu primeiro contacto (revelatório) com o novo paradigma de interpretação “autêntica”, historicamente informada, e era entusiasmante.

Os anos passaram e não fizeram justiça a Telemann. Foi sobretudo vítima de versões pastosas e arrastadas, a puxar ao romântico falso. Telemann é um compositor fabuloso, inovador e diferente:
- um uso do contraponto magistral, tecendo uma filigrana de melodias sobrepostas ou ligeiramente desfasadas;
- um sentido de ritmo único, ímpar, que deixa os contemporâneos e amigos Bach e Handel muito para trás – veja-se o referido concerto para Chalumeaux - 3º andamento que inseri num post anterior, ou a fantástica DonnerOde (Ode ao Trovão), que não perde em comparação com as melhores cantatas de Bach , com movimentos de ritmo inesperado e criativo;
- uma grande liberdade e plasticidade no diálogo entre diferentes instrumentos, sobretudo sopros, que combina criativamente.
- e Telemann tem também um excelente sentido coral – a utilização de coros pode ser pujante, mas sobretudo sempre delicada e detalhadamente (de)composta.

Esta DonnerOde é uma obra-prima de 1755, ano do terramoto de Lisboa, desastre que abalou profundamente toda a Europa e foi recebido como castigo de Deus. Kant, Voltaire, Rousseau, Goethe, escreveram e reflectiram sobre o acontecimento. E foi no dia 11 de Março de 1756, como penitência pelos pecados humanos, que a obra foi tocada pela 1ª vez.
A Ode não tem referências ao terramoto: é um hino celebratório, em muitas variantes, da glória de Deus, cuja voz irada se ouve no trovejar. Recheada de coros e com pelo menos uma ária "para a eternidade", a obra foi um sucesso imediato.

A ária é “Schonster von Allen Geschlechten“, que no disco de Hermann Max é cantada divinalmente por Barbara Schlick. Só ouvido! Não há no Youtube...Aqui vão links para download:

http://www.musicaonline.sapo.pt/prelisten/29633307/

http://free.napster.com/player/?play_id=23326538&type=track

A versão de Hickox é mais lenta, meditativa, ao gosto de quem prefere gravitas. O defeito são os cantores fraquinhos...Hermann Max, o seu pequeno concerto e os seus cantores do Reno fazem milagres: de uma leveza e articulação sem mácula, parece que já nasceram a tocar esta música tal é o à-vontade, a fluência e o equilíbrio de todo o conjunto. Cinco estrelinhas ***** daqui do LIVRO DE AREIA.


Telemann: Die Donner-Ode, 'Thunder Ode' / Deus judicium tuum

Richard Hickox (Conductor),
Collegium Musicum 90 orchestra and chorus
Chaconne 1999



Telemann – Cantatas
Orchestra: Das Kleine Konzert, Rheinische Kantorei
Conductor: Hermann Max
Der Herr ist Konig, TWV 8:6, Ann Monoyios
Die Donnerode, TWV 6:3 , Barbara Schlick
Capriccio - CAP10556

1 comentário:

Moura Aveirense disse...

Estou a ver que é um amante de barroco! É bom encontrar pessoas com "manias" comuns :)

Bom resto de domingo, Moura Aveirense