quarta-feira, 9 de novembro de 2011

De Chișinău, capital da Bessarábia, a Maria Cebotari e Valentina Naforniţă

- mais uma viagem virtual


Chișinău é a capital d... ?

da República da Moldávia, Europa, que fica "antes" da Ucrânia (vista de cá) mas para lá dos Cárpatos. Nome com ressonâncias de aventuras de Tintin - o Cetro de Ottokar e o Affaire Tournesol passavam-se na Sildávia...

A Bessarábia! Lembro-me de se usar ironicamente como país longínquo, onde sucedem coisas estranhas, quase como a Última Thule do leste ... a Bessarábia é, afinal, a Moldávia .
(mais ou menos, há complicações territoriais com a Roménia e a Ucrânia, não interessa para aqui).


Ficou para a História como local da última fronteira a leste do Império Romano, onde Trajano mandou construir também uma muralha a definir os limites do Império; e como cenário de uma importante batalha entre Turcos e Russos durante a Guerra da Criméia ( a da Guerra e Paz de Tolstoi).

O que resta da muralha de Adriano (?), do séc III, para defender a Moldávia dos ataques dos Hunos


Bessarábia era o nome com que o Império Russo identificava a parte oriental do principado da Moldávia, cedido pelo Império Otomano à Rússia, em 1812, após a Guerra Russo-Turca (1806-1812). Sob o domínio russo, estruturou-se o Governo Geral da Bessarábia.


É um território fértil delimitado pelo rio Dniester a nordeste, os Cárpatos a poente, a foz do Danúbio e o Mar Negro a sul. Actualmente a Ucrânia corta o acesso ao Mar Negro, mas a Bessarábia foi sempre rota de comércio entre leste e oeste e zona estratégica no acesso ao Mar. O cruzamento de povos e várias vagas de migração deram como resultado uma população muito variada - romenos, ucranianos, alemães, polacos, russos, gregos, arménios, turcos ... Em 1900, 40% eram judeus, mas vários pogroms da Roménia fascista e da Rússia estalinista deportaram-nos em massa, diminuindo drasticamente o seu número.

O Dniester na fronteira da Moldávia. Do fértil território moldavo, 80% é agrícola - cereais, girassóis, mel, vinhas e pomares.

Fiquei curioso quando recentemente esteve no Porto uma surpreendente Ópera da Moldova, com um Rigoletto nada mau, e depois com a soprano Valentina Naforniţă a vencer com brio o concurso de canto BBC Cardiff Singer of the World 2011.


E fui investigar. País ignorado, pobre e isolado, com tal cultura, é coisa fascinante.

Population: 3.6 million (UN, 2010)
GDP per capita:
128 Sudan1,705
129 Moldova1,630
130 Papua New Guinea1,488
De estarrecer! Ora bem, entremos nós em insolvência, saiamos do euro, e é isto que nos espera. Será assim tão mau?

Chişinău

Chișinău (pronunciar [Kichineu]), capital da Moldávia, tem um Teatro de Ópera com companhia residente, um Teatro dramático, 2 salas de concerto, vários museus, algumas belas igrejas e palácios, uma grande avenida e um conjunto monumental histórico:



A jóia arquitectónica é o conjunto do Parque da Catedral, de 1836. É o ex-libris de Chișinău, do arquitecto Avraam Melnikov . O conjunto teve de ser restaurado, depois dos habituais tratos de polé a que foi sujeito pelo regime soviético.


A Catedral e a Torre sineira (restaurada em 1997), neoclássicas

A catedral ortodoxa da Natividade


O Arco do Triunfo, de 1840, comemora a vitória na batalha que expulsou os Turcos.

Fonte no parque central da cidade, Stefan cel Mare

O herói nacional é Estevão o Grande, Estevão III, príncipe da Moldávia entre 1457 e 1504, que obteve 46 victórias contra os Otomanos e finamente garantiu a independência do principado. Obteve por tais feitos do papa Sixtus IV o título de Campião da Fé Cristã !!

Tem estátuas pela cidade e deu logicamente o nome à avenida central - Stefan cel Mare - onde se concentram comércio e serviços, e é o local mais movimentado, a "sala de visitas" da cidade:



Loja dos vinhos Cricova

Nesta avenida encontram-se alguns dos mais belos edifícios, como a Câmara:


É frequente a influência oriental na arquitectura:


A estação de combóios, magnífica.

Quanto a Museus:


Museu de História e Arqueologia, o mais importante do país, com muito material dos Dacio-Getas, povo germânico parente dos Godos que habitava a zona (Dácia, Trácia) na época dos romanos, e que atingiu um grau respeitável de civilização.

Um belo site com muita documentação:

O Museu tem salas lindíssimas:
(clicar para aumentar)

Sala vermelha

Sala dourada

Sala azul

Museu de Etnologia e História Natural:

Construído em estilo oriental, abriu em 1889. O interior é também muito bonito:


Museu de Belas Artes


Uma colecção de ícones, mas também Renoir, Dürer, Luca Giordano.

O Mosteiro de S. Teodoro Tiron:



O Mosteiro de Căpriana, 40 km a norte de Chișinău (de 1491, restauros em 1545, com acrescentos de 1903) :



Uma sala de concertos de bela arquitectura: a Sala do Órgão (Sala cu Orgă), de finais do séc XIX :




E finalmente o Teatro de Ópera e Bailado da Moldova, arquitectura moderna da época soviética, ao que parece com uma fenomenal acústica:

Vale a pena navegar no site, com uma bela galeria de vídeos:



O sistema de transportes de Chișinău limita-se a trolley-carros eléctricos, velhinhos mas não poluentes.


No 2ª grande guerra, Chișinău foi ocupada pelo Exército Vermelho em 1940, e quase arrasada. Os aglomerados de blocos residenciais do modelo soviético ainda são ainda uma larga e feia parte da paisagem urbana. Disso dispenso-me de dar exemplos.



Maria Cebotari

A mais célebre personagem moldava fora do país, Maria Cebotari (1910 – 1949) foi uma soprano reputada que correu as melhores salas de Ópera da Europa. Nasceu em Chişinău, Bessarabia.


Actuou com Karl Böhm e Strauss; em 1936 entrou para a Ópera do Estado de Berlim onde foi prima donna até 1946. Fez a Susanna das Nozze di Figaro, a Zerlina do Don Giovanni, e a Sophie do Der Rosenkavalier no Covent Garden de Londres.



E ... Valentina Naforniţă, a revelação:



Conclusão: a ser país pobre e desolado, antes assim. A cantar.

3 comentários:

Xico disse...

Autêntico serviço público. Excelente.

Mário R. Gonçalves disse...

Xico,

já não o via por cá há muito tempo.

Obrigado, este post deu-me muito trabalho e muitíssimo gosto.

Alcione Müller disse...

Quero localizar Krasna na Bessarábia. Meus avós são descendentes de alemães e nasceram em 1920 neste lugar. Migraram para o Brasil entre 1925 e 1928.
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São de nome Müller e Kunst