domingo, 27 de novembro de 2011

Fim de semana lisboeta: Verão neste belo Outono de fins de Novembro, Europa neste recanto empobrecido quase falido

Ah, a Gulbenkian. Nada como a Gulbenkian para nos fazer esquecer o país. Quando lamuriamos pelas ruas da amargura, entramos na Gulbenkian e o mundo é irrealmente glamoroso. Dos jardins ao Grande Auditório, do Museu à cafetaria (os éclairs, os vol-au vent) , da loja à exposição temporária, vivemos instantes de pura Europa, daquela Europa culta e bem-vivente de que julgávamos fazer parte, felizes e contentes, para todo o sempre.


Fleurs dans un vase - Pierre Auguste Renoir

Este, deixou-me logo em êxtase. Que magnífico fundo anónimo, que anódina jarra (bela na sua rudeza de barro), pois são as flores que contam. Ao contrário da abundância de detalhes com que outros saturam a composição, Renoir vai ao essencial. E como consegue profundidade de campo, as flores surgem de uma espécie de incrível névoa numa riqueza de planos, num minucioso trabalho de cor e luz e sombra... génio.

E,

Panier de citrons et bouteille, Van Gogh

Espantosa composição! Parece geometricamente perfeita, o fundo é um quadro abstracto em tons pastel, onde poisam as coisas, cada coisa no devido lugar, nada poderia ser deslocado, acrescentado ou retirado sem estragar tudo. Aquela laranja (?) de que só se vê uma pequena calote, à esquerda...Um Van Gogh calmo, sem torvelinhos, usando tons suaves, em perspectivas múltiplas, a garrafa e o incrível jogo de texturas, iguais a nada antes visto. Génio.

Repeti a entrada três vezes. 5 €? Cinco ?! Para desfrutar uma vintena de obras primas? Estão a brincar? Desculpem, quanto custa uma entrada para o derby? e para o festival superbock? Não, afinal isto é a Europa , sim, mas barata, muito barata, a preço de feira. Graças, claro, à Gulbenkian.

E depois, o jardim, no Outono, a natureza cá fora.

5 comentários:

Paulo disse...

Também considero esse Renoir um dos quadros mais maravilhosos da exposição. Já de Van Gogh gostei mais do outro, com as cebolas, embora ache muito interessante a sua apreciação.

A Gulbenkian... Sempre que penso nela tenho ganas de me ajoelhar e dar graças a Nosso Senhor Calouste Gulbenkian por ter decidido vir para cá viver e morrer. Em certos momentos chego a ficar deveras comovido, ora com a beleza e harmonia da Fundação, ora com a magnitude do homem que lhe deu o nome.

Mário R. Gonçalves disse...

Tudo isso, Paulo, e ainda mais a orquestra, a programação musical... (pena, só o fim do bailado)

Paulo disse...

Quando falo em beleza e harmonia da Fundação incluo logo a orquestra e a programação musical. É o seu Todo.

Gi disse...

Quando penso em Fundações, penso na Gulbenkian e no que ela faz pelo enriquecimento cultural das pessoas, e imagino que todas as fundações devem ser assim vocacionadas, para melhorar a vida das pessoas. Apanho cada balde de água fria!
Também gostei da exposição, embora no dia em que fui fosse difícil parar diante de cada quadro e estudá-lo como desejaria. Talvez consiga lá voltar, como disse o Paulo num comentário a outro post, num dia de semana.

Mário R. Gonçalves disse...

Vá de manhã, Gi. Ou à hora de almoço.