segunda-feira, 9 de março de 2020

O Piano de Siena, muito rico e viajado


Foi no The History Blog que encontrei esta notícia do 'Piano de Siena'.


É um piano único e com uma história de vida invejável. Visualmente também é uma obra de arte: a caixa de madeira de cedro esculpida está decorada com relevos de frutas, grinaldas, pássaros, anjos músicos, grifos, leões, tábuas dos Mandamentos; e ainda retratos de Handel, Mozart, Gluck, Cherubini e do inventor da notação musical Guido Aretino.


A sua construção foi iniciada em Turim pelo fabricante de cravos Sebastiano Marchisio em finais do século XVIII. A intenção era criar um instrumento com o poder de martelo do pianoforte, mas substituindo o som agreste pela sonoridade mais gentil e delicada do cravo. Mas Marchisio apenas conseguiu completar a caixa em cedro do Líbano, e antes de morrer ainda elaborou um desenho completo do projecto. Parece que Marchisio teria arranjado a madeira de cedro numa igreja em Siena destruída por um terramoto; e corre até uma efabulação a contar que seria proveniente de traves do templo do rei Salomão...

Os filhos de Marchisio, Giacomo e Enrico, prosseguiram com o piano mas não o terminaram, deixando a tarefa aos descendentes; foi finalmente completado em 1825, já com alterações ao desenho original - mais teclas, mais cordas - e produzia de facto um som inédito. O piano, já então conhecido como 'de Siena', ainda seria objecto de melhoramentos e mais decorações, tendo sido finalmente apresentado ao mundo na Exposição Universal de Paris em 1867, no pavilhão italiano.


A cidade de Siena, vaidosa de ter dado madeira e nome ao requintado objecto, conseguiu que o piano fosse oferecido ao coroado Humberto de Sabóia no seu casamento com a prima Margarida, em 1868; e assim o piano acabou de volta a Turim, como brinquedo da corte. Franz Liszt foi um dos célebres pianistas que por essa altura nele tocaram. Com a unificação de Itália, o piano foi levado para concertos no Palácio Quirinal, onde ficou por 70 anos. Não se sabe por onde andou depois na 2ª Grande Guerra, talvez levado pelos alemães, a verdade é que apareceu sob as areias de El Alamein, no Egipto, descoberto por uma equipa inglesa de caça-minas à procura de bombas enterradas no deserto. Um qualquer oficial estúpido das tropas de Rommel tinha-o roubado em Itália, e na aflição da derrota escondeu-o sob as areias.

Quando o piano foi içado para fora da cratera pelos soldados incrédulos, ninguém dava nada por ele. Estava empanado de areia, com o estuque pintado a descolar, e foi depositado num armazém de Salvados na Palestina. Em 1943 foi comprado por um israelita negociante de velharias, que fez alguns restauros sem cuidado, estragando partes da decoração. Foi sendo utilizado em concertos em Israel, até que em 1953 viajou para os Estados Unidos.


Siena, Turim, Paris, Roma, El Alamein, Tel Aviv, Nova Iorque... tão viajado instrumento acabaria por chegar às mãos de Arthur Rubinstein, entre outros. E foi na América que nasceu o boato da madeira do templo de  Salomão.

Em 1970, o piano regressou a Israel para continuar em uso, sempre aclamado pela sua sonoridade ímpar. O que consegui ouvir no youtube soou-me a uma mescla desequilibrada e desagradável de cravo e pianoforte.

Está à venda por mais de um milhão de dólares, mas parece que ninguém o quer.

Mais:
https://www.youtube.com/watch?v=oNW_sPsl-Ag
Fonte:
http://www.thehistoryblog.com/archives/58007


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