É Primavera. Seja ela capaz de por fim ao verme invernal.
Talvez o sítio que me vem mais depressa à ideia se puserem a questão "então não voltas a viajar mais ?" seja a ilha de Ré. Das duas vezes que lá estive, só lamento não ter podido prolongar a estada. O melhor sucedâneo de ir a Ré, será publicar aqui uma breve memória de quando a visitei.
Há actividade cultural ? Praticamente não. Há duas ou três formas de experimentar cultura - a arquitectura das vilas marinhas, o ecossistema da ilha, o modo de vida em ritmo brando; e há um ou dois festivais. Mas é sobretudo notável constatar como as malhas urbanas e as marinas se integram harmoniosamente com as salinas a a cobertura vegetal. Parte dessa integração realiza-se nas ruas estreitas reservadas a peões e ciclistas e bordadas de roses trémières, que a cada esquina oferecem uma hipótese de aguarela; a outra parte realiza-se nos portinhos onde alguma pesca e lazer se entrelaçam em frente das fachadas, azul (ou verde) das persianas e branco da cal. Uma rede de caminhos cicláveis entre prados e salinas, habitadas por várias espécies de pássaros, completam o cenário. À volta, mar, plano e vasto.
As salinas desta região servida pelo porto de La Rochelle tinham muita procura no tempo da Hansa; já desde o séc. XIII os navios da Liga vinham aqui trocar outras mecadorias (peles, cereais) pelo famoso sal de Rochelle.
Uma grande tranquilidade, banhada pelo sol, às vezes soprada pela ventania. Nas povoações, a mesma tranquilidade nas ruas sem trânsito.
As roses trémières dão às ruelas um colorido que é imitado pelas tintas de portas e janelas.
Saint-Martin-de-Ré, a 'capital'
Foi aqui que fiquei da primeira vez, em 2011, no Domaine de la Baronnie.
O porto de pesca de St. Martin
É difícil descrever o gosto de frequentar estas esplanadas. Por exemplo para um peixinho ou uma sobremesa, em ausência de ruído - apenas as cordas dos barcos a bater com o vento.
Mourat blanc, do Loire. Gulodice.
Mas Ars-en-Ré foi o top !
Café du Commerce, a dar para o porto.
iiih que saudades do café Florio.
Ars-en-Ré é a povoação mais bem preservada na ilha, com algum património e um labirinto de venelles (vielas) onde dá gosto passear sem destino.
A inconfundível torre sineira, que se vê de toda a metade oeste da ilha
Jogo da pétanque, quando e onde apetece.
La Flotte, a mais antiga
Crèmerie, Rue du Marché.
O recinto da feira.
O passeio marítimo, junto à praia urbana
São visita imperdível as ruínas da abadia de Notre Dame de Ré, entre campos de trigo e de papoilas, num terreno ajardinado de alecrim, tomilho e alfazema; o silêncio é impressionante, só o vento e os corvos num espaço vastíssimo. Chegar lá ao fim da tarde depois de meia hora de bicicleta é uma sensação única, de solidão apaziguadora, como se nos aproximássemos de um pacífico término, em adagio ma non troppo.
Data do séc . XII, e foi fundada por monges de Cister; mas as ruínas actuais, de estilo gótico, são mais recentes, do séc. XIV.
Sucessivamente saqueada e destruída por ingleses, por tropas na guerra dos 100 anos e pelos huguenotes, foi finalmente abandonada pelos monges no séc XVI.
Um momento mágico, em que um testemunho de atribulada História mais uma vez demarcou o tempo e o espaço.
Também há praia e mar; é bom estar por perto, sentir-lhe a presença, mas não frequentei. Para isso não vale a pena ir tão longe.
Les jours de bonheur, comme cela passe vite!
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