quarta-feira, 1 de junho de 2022

O Cavaleiro de Carpaccio, do Thyssen Bornemisza, restaurado


Um dos quadros mais invulgares e valiosos do Museu Thyssen de Madrid é este Jovem Cavaleiro na Paisagem de Vittore Carpaccio. Um programa de restauro recentemente concluído deu-lhe nova vida, removendo o tom amarelado de um verniz de cobertura envelhecido. 

'Giovane cavaliere in un paesaggio'.

O grande quadro de ca. 1505 é talvez o primeiro retrato de corpo inteiro na pintura europeia. Há muito motivos de estranheza no quadro, por exemplo o facto de a parte superior do corpo do cavaleiro ter uma atitude melancólica, contemplativa, enquanto a parte inferior é militar e agressiva; estará a desembaínhar ou a guardar a espada? E porque se vê, num retrato de cores frias, a meia vermelha sob a armadura na perna direita?

Um olhar tristonho que contrasta com a espada, como quem diz 'infelizmente, lá terá de ser'; mais pronto a defender do que a atacar.

Abundam os animais - além do arminho que expressa a Ordem a que o cavaleiro pertence ("Mais vale a morte que a desonra"), há coelhos, corças, cães, imensa passarada, num terreno coberto de vegetação detalhada como seria de esperar num quadro flamengo.


Vittore Carpaccio (1465 -1526) foi um pintor italiano da Escola de Veneza, que estudou com Bellini. Pintava grandes quadros com cenas extremamente narrativas e detalhadas, executadas com minúcia e um misto de realismo e de simbologia fantástica.

Dois dos seus melhores quadros relatam a partida e regresso dos embaixadores, do ciclo que dedicou à lenda do casamento de Santa Úrsula, princesa da Bretanha que acabou morta numa chacina. Curiosamente, Carpaccio pintou estes quadros num cenário de cidade italiana, uma espécie de Veneza ficcionada.

Partida dos embaixadores ao rei da Bretanha

Regresso dos embaixadores à corte do rei da Bretanha.

Detalhes de quadros deste ciclo:






2 comentários:

SilverTree disse...

Vi-o ao vivo há uns meses, um luxo! Tenho de voltar ao Thyssen um dia destes, é o meu refúgio em Madrid.

Mário R. Gonçalves disse...

Penso que era capaz de me dar bem em Madrid, eu. Não sei se tenho uma pontinha de inveja.
Mas depois não, faltava-me o mar. É como a Suíça, tem tudo de bom mas não tem mar. Um sítio com Thyssens e Albertinas e mar. Itália? O mar de Itália não presta.
Porque será que os melhores museus são interiores, longe do mar?