Vinte séculos depois, Walter Scott e Stevenson visitaram as ilhas Shetland e o porto de Scalloway, interessados em descobrir novas paragens; seguiram-se os Victorianos, em navios carregados de turistas deslumbrados pelo mito da Ultima Thule. Actualmente o isolamento, embora persista, foi diminuído com o transporte regular aéreo e por ferry.
Os navios de Hamburgo, Bremen e Lubeck viajavam até às Shetland no Verão, levando sementes, cereais, tecidos, utensílios, sal, bebidas alcoólicas, e comerciavam numa moeda mais valiosa.
Main Street, 'the booth' e o castelo
Coordenadas: 60° 08′ N, 1° 16′ W
População: ~ 1300
Scalloway (do nórdico antigo Skálavágr , "baía com casa grande") foi até 1708 a capital das ilhas Shetland, e ainda é a maior cidade britânica no Atlântico Norte. Quando comecei online esta demanda, não dava nada por ela; afinal é uma bela cidadezita.
A frente marítima
Tem havido um esforço de restauro das casas na orla marítima, algumas delas com o cais privado frontal ou lateral típico das Shetland.
Nestas casas com molhe próprio (booth) respira-se ainda a época Hanseática. Os comerciantes que as construíam pagavam uma renda pelo terreno e pela actividade - a carga e descarga e o uso como loja e armazém.
Os navios da Hansa traziam o precioso sal, madeira da Escandinávia, material de pesca, brandy, gin e tabaco da Alemanha. Levavam para sul óleo de peixe, manteiga, lãs, peixe curado e pagavam em moeda forte, alemã ou holandesa.
'Bullwark', cabine recuperada como moradia
Tudo acabou no final do século XVII devido ao grande aumento de taxas sobre a importação de sal.
Esta pequena cabine foi restaurada para actividades culturais; serve principalmente como residência artística e galeria, com uma bela vista sobre o East Voe, a entrada do Atlântico que forma um pequeno fiorde.
As ruas: Main Street e New Road
Main Street começa pela Nordic House junto ao cais histórico Prince Olav Slipway.
O molhe Príncipe Olav, e a vermelha Norway House ao fundo.
Scalloway guarda memória da 2ª Grande Guerra, quando navios de pescadores da Noruega, então sob ocupação alemã, recorriam a este pequeno porto para reparações e apoio aos resistentes.
A linha marítima chamada Shetland Bus ligou a Noruega resistente ao Reino Unido desde 1941, com uma frota de pequenas embarcações de pesca; atravessando o Atlântico de noite, a operação transportava muitos refugiados e apoiava a resistência norueguesa. Todos os anos se comemora essa memória, que o próprio rei Olav visitou, conquistando para sempre a simpatia dos habitantes da cidade.
A casa de apoio à tripulação norueguesa que partia ou chegava fica na esquina anterior:
The Norway HouseNuma rua transversal, perpendicular ao mar, uma casa Victoriana de 1887.
As moradias em Kirkpark Road têm uma aparência distinta, com jardim de vedação decorativa em ferro forjado e janelas de sótão.
Church of Scotland
Esta igreja deselegante de 1840-41 tem planta quadrada e telhado de 4 águas; a torre sineira está reduzida a um alpendre no telhado acima do pórtico de entrada.
No interior, uma brancura intensa proporciona uma luminosidade inesperada. A galeria e as colunas caneladas e panos e tapetes vermelhos criam um ambiente invulgar mas acolhedor.
O Hotel
O maior e mais antigo Hotel, construído em 1886, é um dos edifícios marcantes.
Mais adiante surge um jardim murado onde se entrevê ao fundo outra casa classificada: a Gibblestone House, do final do séc XVIII, um palacete de comerciante enriquecido.
A porta central, com escadaria, está flanqueada por janelas salientes vitorianas.
Quase a terminar, a rua estreita-se entre uma fileira de casas mais recentes onde se destaca algum comércio e o Café ! Já faltava...
A loja das lãs.
The Cornestone Café
O último edifício da rua principal é uma casa de 1880. em granito da região. Foi antes armazém, restaurante, posto de correios, e desde 1985 foi o Museu; agora é o único café da cidade, e também B&B.
Tem esplanada ! Nos dias de sol...
Old Haa
Nas Shetland, Haa é uma casa grande, imponente, uma mansão, que se levanta acima do casario em redor. Apesar disso, são construídas com pobreza de recursos, evitando traves de madeira (caras) e assentes numa trivial planta rectangular sem variações.
Esta Old Haa data de 1750. É uma mansão nobre à medida modesta de Scalloway. Sobre a porta tem uma placa de armas a celebrar o casamento de Katherine Sinclair com o comerciante John Scott.
A escadaria interior
A casa está actualmente habitada, dividida em três apartamentos.
New Road
Continuando, entramos em New Road; casas de empena lateral em banda, com dois andares e janelas de sótão, do séc. XIX.
Sobranceiras ao mar, o passeio em frente é protegido por uma grade em ferro forjado.
Grades de ferro forjado, tradiçãp também escocesa.
A última casa tem outra curiosidade: uma placa de marés.
Placa das Marés , New Road.
A inscrição descreve a teoria das marés em que acreditava o cientista amador William Johnson em 1910 - que eram causadas pela atracção do Sol; nunca foi validada, pelo contrário, está completamente errada, mas era interessante.
O Castelo de Scalloway é uma ruína junto ao cais e ao Museu. Apesar do seu estado, é o marco mais notável da cidade .
Construído em 1600 pelo Duque de Orkney, ficou abandonado no final do séc XVII. A torre de menagem tem 4 pisos e torreões de guarita em volta.
Torre de guarita e mísula de suporte.
O Museu de Scalloway
Foi construído em frente ao castelo um edifício modernaço, a destoar, para expor o passado pesqueiro de Scalloway e as memórias do Shetland Bus, a carreira marítima que ligou clandestinamente à Noruega ocupada pelos alemães.
'The achievements of the Shetland Bus'
Scalloway e o seu porto são ainda muito activos no sector da pesca. É a sede do North Atlantic Fisheries College, uma Escola Profissional com cursos e investigação em ciências da pesca, aquacultura, engenharia do mar e gestão das zonas costeiras.
Traineiras no cais.
Valhalla, traineira do porto de Scalloway. Pesca sobretudo peixe branco (da família dos salmonídeos).
O festival 'Up Helly Haa'
A loucura invade Scallloway durante o Up Helly Aa, o festival de fogo que decorre a meio do Inverno, a marcar o fim da yule. O ponto alto é a marcha Viking, com centenas de figurantes vestidos a rigor com armaduras e elmos, que percorrem as ruas ao som das gaitas ou de cânticos e erguendo uma tocha em chamas.
Na procissão segue uma imitação em madeira de navio Viking. Quando chegam ao porto, cantam 'Up Helly Aa' enquanto atiram as tochas em fogo para dentro do barco e o lançam ao mar, onde arde para gáudio e glória de todos.
Depois, como tinha de ser, vai tudo beber e dançar noite dentro. No dia seguinte regressa a pacatez imperturbada para o resto do ano.
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