Não fazia a mínima ideia da incrível beleza do Cáucaso, não só as montanhas, glaciares, rios e desfiladeiros, mas também cidades e aldeias. Mestia é a mais importante na região da Svanécia *, e é agora também um centro do turismo de montanha na Geórgia.
A cidade cresceu por ter uma posição estratégica na entrada de uma das passagens mais frequentadas do Cáucaso quando a Rota da Seda atavessava estas montanhas, caminho alternativo para fugir aos Persas e suas guerras. Manteve o estatuto de cidade mais importante da Svanetia, ponto de passagem obrigatório no Cáucaso ocidental.
A UNESCO classificou a região não só pela beleza natural mas também pela arquitectura única: as Torres Svan, que se encontram em todas as aldeias (o núcleo principal é Ushguli, mais a leste) e também aqui em Mestia; embora algumas convertidas em hotéis e estalagens, e duas pelo menos em casa-museu.
Praça Seti
A praça central é uma antiga cidadela; 'Seti ' foi o primeiro nome de Mestia. Há uma torre com portal de entrada, onde foi colocada uma estátua da Raínha Tamar (1184-1283), a mais respeitada figura heróica nacional, tão admirada que a costumam designar Rei (no masculino)...
Os séculos XII e XIII são conhecidos como a
Era de Ouro na Geórgia. antes da invasão Mongol. Durante o reinado de Tamar ganhou projecção e riqueza como nunca voltaria a acontecer.
A praça vista de fora:
Na esquina, o prédio do Hotel
Sesti Mestia é um exemplo da arquitectua local em pedra com varandas em madeira.
Na mesma rua, outro hotel.
Pelas ruas de Mestia
Mas vamos às Torres Svan.
As modestas cabanas de pedra - machub - onde residiam os primeiros habitantes eram fortificadas com altas torres, de 4 a 5 andares, o último bastião de defesa dos moradores. Era o único refúgio seguro contra o assalto dos muitos bandos de salteadores e incursões inimigas dos primeiros séculos da nossa era - persas sassânidas, arménios, turcos, mongóis, turcos otomanos, russos, para além de guerras civis. Infelizmente já não protegeram contra a invasão russa através do Cáucaso em 2008.
Torre na rua Lanchvali, na zona mais antiga.
Pelo menos duas das casas-torre estão recuperadas como casa museu.
Casa-Museu Margiani
Pertence à família
Margiani e inclui residência, torre com vários andares, celeiro, adega e anexos. Os Margiani possuíram no seu auge 8 torres - eram uma família notável e poderosa.
Na cave há jarros de bétula para conservar o vinho, e potes de barro para mel. O mel da Geórgia é o melhor, ou um dos melhores do mundo. A sala nobre ostenta o 'trono' do patriarca.
Casa-Museu Mikhail Khergiani
Outra casa-museu recentemente restaurada como testemunho do modo de vida tradicional.
Na rua com o mesmo nome, esta casa foi recuperada em homenagem a Mikhail Khergiani, um lendário alpinista georgiano que subiu os picos mais perigosos do mundo, entre os quais o Ushba em 1937. É uma casa tradicional do Cáucaso, do século XIX.
Museu Histórico da Svanetia
É um edifício moderbo nada notável (tipo 'bunker', de1936), próximo do rio Mulkhra, um afluente do Inguri que atravessa Mestia. Surpreende por uma rica colecção de pergaminhos e de artefactos da era bizantina da Geórgia e de outras gentes que por aqui passaram - Sírios, Persas, Turcos...
Um das peças mais belas é este raro ícone tríptico.
S. Jorge, têmpera sobre madeira, séc XIII
S. Nicolau, séc. XI-XII
Abanico (ou flabelo) litúrgico medieval (flabellum), madeira e prata dourada, séc XI
O flabellum ou rhipidon foi adptado na Geórgia no século X para o ritual litúrgico, quando o calor é insuportável. É um quadrifolium - quatro medalhões à volta do disco central, formando uma cruz. Figuras de serafins.
Uma cruz veneziana do século XIII decorada com pedras preciosas
O mais raro e valioso tesouro é o manuscrito em pergaminho com iluminuras conhecido como
Evangelho de Adishi (
Addish, Adyshi) , datado de 897, um dos mais antigos documentos escritos na língua da Geórgia.
O Museu tem quatro dos Livros do Evangelho de Adyshi.
Os manuscritos foram descobertos escondidos no andar cimeiro de uma Torre Svan na aldeia vizinha de Adishi.
Já foi Museu do Ano em 2016 ! Nas encostas do Cáucaso, inacreditável.
Igreja de Laghami
A menos de 2 km do centro de Mestia, surge esta igreja parcialmente arruinada de VIII-IX DC, quando o cristianismo, durante o período bizantino, se expandiu até sítios tão remotos como este. Era um templo simples, quase uma sala de estar íntima, a que na Idade Média se adicionou uma andar superior com mais requinte arquitectónico. Um pouco intrigante.
O que distingue este templo são os frescos no exterior e no interior, onde pinturas e ícones criam na penumbra um ambiente de recolhimento.
São cenas bíblicas, composições iconográficas, retratos de personagens medievais.
Fresco da Anunciação
O andar inferior é esculpido na rocha, enquanto o superior é de pedras muito ajustadas numa geometria perfeita.
Igreja Lekhtagi Lamaria
Outra ruína, dos séculos XIV-XV, não tem frescos mas sente-se a escassez e a sobriedade do que foi a Idade Média na Svanetia.
Passagem de montanha: Becho - Guli
Uma travessia difícil, só para montanhistas, uma entre muitas a partir de Mestia. Segue para noroeste em direcção ao Monte Ushba, um dos mais altos e dramáticos picos do Cáucaso (4710 m).
O vale do rio Gulichala em direcção ao Monte Ushba
Aldeia de Guli, no percurso da travessia.
Ao longo do vale do
rio Guli, afluente do
Dorla, o percurso conduz a um dos cenários mais avassaladores de toda a cadeia, uma espécie de gigantesca terrina de agulhas e falésias fracturadas na fronteira com a Rússia dominada pela grande montanha de 4,700m , o Ushba, de onde se precipitam glaciares ladeados por florestas e quedas de água nas suas encostas. E um bravio e esbranquiçado rio glacial corre rugindo no fundo vale.
Rio Gulichala, alimentado pelo glaciar de Ushba.
O percurso do vale, já perto da fronteira.
Cascata de Shdugra, num afluente do rio Dolra, também proveniente do glaciar Ushba.
Para ir além da cascata é exigida uma autorização oficial, pois aproximamo-nos já de território russo.
O passe fica a 2961 m de altitude. Para lá, é a Rússia.
O mastro marca o ponto mais alto do Guli Pass.
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Mestia é ainda mais deslumbrante na estação fria, coberta de neve.
O Monte Ushba, dito Matterhorn do Cáucaso-----------------------------------------*
é feio em português: Suânia ou Suanécia; a palavra vem de Svan, povo aparentado aos Sumérios que os gregos conheciam como Soani.
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