domingo, 1 de setembro de 2024

Rio Rioni, ou Phasis, o rio que os Argonautas subiram à procura de Medeia

 - fim de estação: um rio na Geórgia -

O Rioni, a pouca distância da nascente.

O rio Rioni corre na Geórgia, desaguando em estuário no Mar Negro, em Poti. Nasce no Cáucaso, a noroeste de Ghebi (região de Racha) onde vários glaciares cobrem as montanhas, e desce em sucessivas curvas passando pela cidade de Kutaisi, e depois para oeste ao longo da planínicie até à foz - são 327 km, é o maior rio do país.

Bem conhecido na antiga Grécia como rio Phasis, era considerado o limite oriental da Europa - a fronteira da Terra habitada (oecumene). A primeira referência é de Hesíodo, cerca de 700 AC, tendo a cidade grega sido fundada no fim desse século; Ésquilo , no século V, escreve "... aqui fica o Phasis, a poderosa fronteira comum entre a terra da Europa e da Ásia" . O Phasis era entendido como uma divindade, um deus-rio. 

Havia colónias gregas na costa do Euxino, e uma em particular (Phasis) onde agora fica Poti. A lenda de Jasão e os Argonautas situa ali o palácio do rei da Cólquida e sua filha Medeia, que detinham o mítico Tosão ou Velo de Ouro; para ser resgatado pelos navegadores gregos da Argo, comandados por Jasão, foi necessário lançar feitiços sobre Medeia - ela prória feiticeira -  fugindo ambos com o tesouro de volta para a Grécia.

Argo, de Constantine Volanakis. Foi um barco inovador, com 50 remadores, que eram os 50 guerreiros de Jasão.

O estuário do Rioni, área natural protegida. Por aqui subiu o Argo.

Muitas escavações arqueológicas, algumas submarinas, tiveram lugar à procura de restos de Phasis; nada foi ainda encontrado, talvez porque es terras pantanosas aqui têm sido instáveis, o mar avança, há lagos desparecidos... A única prova são as variadas fontes escritas.

Voltemos ao Rioni. Vamos da foz para a nascente. Nesse percurso, a principal cidade é Kutaisi.

Kutaisi é a 3ª maior cidade do país, depois de Batumi. Fica na planície central da Geórgia, a sul do Cáucaso, e é um dos centros de expedições (turísticas ou aventureiras) ao Cáucaso.


Kutaisi não é cidade que apeteça visitar; mas tem duas ruas históricas que fazem uma esquina com alguma elegância, e um Museu.

Rua Pushkin, Kutaisi



Para atravessar o rio, dispõe da chamada Ponte Branca sobre o Rioni, que tem alguma fama e é o ponto alto turístico de Kutaisi.



Daqui para cima, aproximando-se o Cáucaso, as águas são cada vez mais limpo (não faltam trutas) mas de aspecto leitoso, devido ao terreno e às fontes glaciares.

O Rioni já nas encostas do Cáucaso, passando em Oni.

Acima de Oni, o rio tem uma zona de rápidos que são procurados, quando há caudal, para desportos como rafting.


A região caucasiana de Racha ainda não é destino turístico de massas, mas encerra algumas das paisagens mais espantosas do planeta. A nascente do Rioni, a leste do grande complexo glaciar Skhara, é alimentada pelo glaciar Edena e pelos lagos glaciares Sovano.

Monte e Glaciar Edena, 4008 m



Li dois livros fundamentais para seguir a rota de viajantes que partiram com destino às montanhas do Cáucaso,

  - The Frosty Caucasus, um longo e detalhado relato por Florence Crauford Grove, alpinista e escritor inglês de finais do século XIX. 

 - In Wonderland, já aqui referido, um conto de viagem de Knut Hamsun, que atravessou o Cáucaso entre Vladikavkaz e Tiblisi, junto ao fantástico Monte Kazbek.



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